terça-feira, 21 de junho de 2016

CAPÍTULO LI – MÚSICA

A composição musical é a manifestação dos arquétipos pelo arranjo formalizado e rítmico do tom. É a representação daquilo que é percebido pela audição interior, é a linguagem pela qual a intuição do artista se comunica com as intuições da humanidade. Por correspondência podemos dizer que a prosa está para a poesia assim como a poesia está para a música - três "oitavas" da arte comunicativa. Música é "linguagem transcendentalizada"; se palavras são símbolos sonoros de identidades, tons são os arquétipos dos sons, e sua manifestação artística em padrão e estrutura por melodia composta, harmonia, ritmo e tempo é uma "fala que transcende, em poder, a linguagem das palavras". A linguagem da palavra é uma comunicação relativamente limitada; sua compreensão depende de um exercício especializado do intelecto. A linguagem tonal, essencialmente arquetípica, depende do exercício da intuição e da responsividade emocional; ela apela à urgência instintiva dos humanos de realizar ideais. A mágica - e é uma das maiores mágicas - da melodia e harmonia transcende a separatividade da consciência nacional, da qual deriva a variedade separada da linguagem de palavras. Responder à música é escutar o ideal, e as faculdades especializadas dos músicos compositores e intérpretes do mundo são "canalizações" pelas quais mensagens de grande beleza e verdade são comunicadas à consciência anímica da humanidade. 
A tríade planetária da "comunicação" se compõe de Lua, Mercúrio e Netuno. Estes três planetas representam as três oitavas da operação mental: a mente subconsciente do instinto e sentimento, a mente consciente do intelecto e a mente supra consciente da percepção arquetípica, respectivamente. Todo humano, ainda que primitivo, compartilha das duas primeiras dessas oitavas, pois todos são capazes de organizar opiniões (a Lua) pelo sentimento subconsciente e todos que falam possuem a faculdade do exercício intelectual (Mercúrio). Apenas aqueles capazes de perceber e expressar arquétipos funcionam conscientemente e construtivamente na terceira oitava de Netuno como "focalizador" da vibração de Peixes, o signo mutável do trígono de água iniciado pela Lua através de Câncer, polaridade do Mercurial Virgem e signo da décima casa do Mercurial Gêmeos. Em suas qualidades regeneradas e espiritualizadas ele simboliza as faculdades mais transcendentais da consciência humana - aquela da comunicação com o Eu Superior e a percepção da existência do arquétipo. Estudemos o símbolo astrológico para Netuno: 
Exotericamente, este símbolo representa o tridente do deus do mar; como tal, carrega a representação literal e personalizada pela qual os princípios vitais foram ensinados aos não iniciados, pessoas dos tempos antigos orientadas literalmente. Esotericamente, não se trata de um tridente; o semicírculo voltado para cima é um "cálice" ou os braços erguidos do diâmetro horizontal da cruz cardinal da Grande Mandala - o "macho-fêmea gerado" da humanidade. A linha vertical é a mesma da Grande mandala - a linha geradora parental, humana ou divina. O pequeno círculo na parte inferior é a "semente" do corpo alma da humanidade que é "estimulado a nova vida" por poderes divinos. Este pequeno círculo é análogo ao "ponto Câncer" da Grande Mandala e neste símbolo está a "semente" de todas as realizações perfeitas, a matriz do "Dourado manto Nupcial". Este símbolo verdadeiramente é um dos mais belos em astrologia. Ele é simétrico, e sua verticalidade é contrabalançada pela amorosidade dos braços abertos do semicírculo voltados para o alto, como uma árvore com seus ramos elevados ou um humano com seus braços elevados em êxtase de reverência ou aspiração ou alegria. Agora para correlacionar este símbolo com o de Vênus, cuja exaltação ocorre em Peixes: 
A cruz sob o símbolo de Vênus é fechada (deixada de fora) no círculo perfeito da "consciência anímica"; o círculo do símbolo de Vênus se abre no cálice que recebe o divino. Nesta "abertura de Vênus" podemos ver o segredo da natureza transcendental de Netuno: a beleza da manifestação perfeita simbolizada por Vênus é a formalização da beleza essencial de Netuno. Se Vênus é a beleza da simetria, desenho e ritmo na arte, Netuno é a beleza da simetria, desenho e ritmo cósmicos; se Vênus é a beleza da manifestação perfeita, Netuno é a beleza do arquétipo; se Vênus é o altar ou templo, Netuno é o deus a quem o templo é dedicado; se Vênus é o mito exotérico criado para descrever uma alegoria espiritual, Netuno é o princípio de vida personificado pelo mito; se Vênus é a melodia que move o coração, Netuno é a memória da experiência arquetípica estimulada pela melodia; Se Vênus é a beleza do gesto ou movimento do dançarino, Netuno é a essência da realização emocional ou espiritual expressa no gesto; se Vênus é a progressão harmoniosa das cores que constituem a "vida" da pintura, Netuno é a visão interior do pintor; se Vênus é a beleza composta da melodia, harmonia, ritmo e texto de uma canção perfeitamente escrita, Netuno é aquilo que se transmite como estímulo espiritual pelo compositor através do cantor e, daí a partir do cantor, para a audiência. 
A feminilidade de Netuno é retratada pelo semicírculo voltado para cima. Uma linha horizontal é abstratamente feminina enquanto essência "daquilo que é afetado por uma causa", mas esse semicírculo focaliza um sentimento muito mais intenso de "receptividade". Para geometrizar: se envolvermos a estrutura do símbolo de Netuno em um círculo com o ponto central sendo a junção do semicírculo com a vertical e se usarmos a vertical inteira do círculo como a vertical do símbolo de Netuno, é interessante e iluminador notar que os dois braços do semicírculo cortam o círculo externo nos pontos correspondentes a Escorpião e Peixes da mandala astrológica. Estes dois signos acrescidos do "ponto de Câncer", do pequeno círculo abaixo do símbolo de Netuno, compreende a tríade dos signos de água - o princípio feminino-fêmea do zodíaco e a faculdade triuna da responsividade simpática, da qual a vibração de Peixes representa a oitava mais impressionável e hipersensitiva. Assim, temos a aspiração do homem-mulher abrindo-se à descida torrencial dos poderes inspirativos para acender a "semente" da consciência da alma. Isto é, resumidamente, o quadro da inspiração em ação; é a figura daquele fator sutil na natureza humana pelo qual o instrumento humano se torna um veículo do divino (conscientemente) através de processos espirituais. Netuno então é o princípio da instrumentação e seu poder é tornar os artistas instrumentos a partir dos quais as comunicações arquetípicas possam se efetivar*. 
Todos os artistas manifestantes (creativos) são sacerdotes, na medida em que todos são "mediadores" entre o divino e o mortal na humanidade. Em nenhuma outra arte o intérprete cumpre mais profundamente o papel de acólito do que nos casos do cantor e do músico instrumentista. A fusão do valor musical com o valor da palavra, inerente à arte da música, é o composto da abstração da música com a concretude da linguagem. As palavras de sentenças poéticas e as notas das frases musicais se fundem em estranha alquimia mágica pela qual a palavra poética é intensificada e a ideia musical "concretizada". 
Como o tom é o arquétipo do som e palavras são sequências da arte da composição, a canção pode ser vista como o arquétipo da arte da leitura poética. grande manifestante do som (cantor) é aquele que percebe intuitivamente o valor musical inerente ao texto literário e pelo exercício da fusão de percepções estéticas, amalgama esses fatores na apresentação completa da mistura das artes literária e musical. O solista instrumental e o condutor da orquestra compreendem uma parceria semelhante no reino de uma música mais puramente abstrata; a orquestra sob direção é o composto de vários “acólitos” que (cada um a seu modo) contribuem para a perfeição musical total. O que, pergunta você, tudo isso tem a ver com astrologia? Onde e como a música pode ser encontrada em um horóscopo? Vejamos. 
Uma pauta musical (linhas e espaços agrupados em compassos) poderia ser escrita de forma circular, as notas todas tendo troncos verticais apontando para o centro do círculo. A nota mais baixa da pauta seria análoga à circunferência do círculo astrológico, a nota mais alta seria análoga à circunferência mais próxima do centro do círculo. Na pauta musical tradicional temos cinco linhas acima e cinco abaixo ladeando a linha média do “Dó central” – onze linhas ao todo. Crie um círculo grande o suficiente para conter dez círculos concêntricos e divida-o em doze secções do mesmo modo que a mandala astrológica em doze casas. Aqui temos o “Sol menor” da clave de Fá, correspondendo à circunferência astrológica, enquanto a “emanação” do ponto Ascendente – o atributo físico, a mais densa vibração. O “Fá agudo” da clave de Sol é o mais interior dos círculos circundados e pode ser tomado como correspondendo, simbolicamente, à vibração mais espiritual da consciência humana – análoga à vibração de Peixes na Grande Mandala. 
A metade superior desse diagrama – um semicírculo envolvendo dez outros semicírculos é uma figura simbólica do arco-íris – o espectro de cores natural que tem vermelho, a mais densa vibração colorida, como o “exterior do arco, e roxo, a vibração mais rápida no interior – mais perto do que seria o “centro do círculo do qual o arco-íris é um grande arco”. Aqui temos o espectro de cores, espectro de tom e o espectro astrológico da consciência da humanidade, tudo em um desenho. Desenhe essa figura e pense sobre ela como “gradação de cor”, “gradação de tom” e “gradação de consciência”. 
Esticando o raio de Áries para a vertical e desdobrando o círculo composto para uma figura horizontal obtemos o espectro tonal em uma seção específica da “grande escala musical”. Troque os sinais da clave e substitua por um signo zodiacal e você tem o Ascendente astrológico que “determina” o tipo de personalidade de um indivíduo, assim como a assinatura chave e a assinatura métrica “determinam” a “personalidade”. Uma analogia adicional: as duas escalas de música podem ser consideradas como o simbolismo de todos os tons usados em nossa tradição musical; eles também podem ser considerados, simbolicamente, como todo campo harmônico de toda vibração audível, assim como cada cor específica do arco-íris tem sua miríade de gradações, misturando-se imperceptivelmente em cada outra por sequência de refração de luz. Astrologicamente essa figura nos mostra a gradação da evolução humana, individualmente ou enquanto um arquétipo, da vibração mais densa de seu maior primitivismo (separativo, consciência física) à maior maestria de consciência espiritual. O estado primitivo é vermelho e seu tom é o mais baixo em qualquer simbolismo que você esteja usando; o estado de maestria é roxo e seu tom é o mais alto em qualquer escala tonal que você utilize para ilustração simbólica. Se você sabe como escrever notação simples, tente um exemplo simples de “astro-musicalização”: um círculo envolvendo outros quatro círculos concêntricos; subdivida em quatro quadrantes (medidas); no ponto correspondente ao Ascendente, indique fora da roda a clave de Sol, a tonalidade musical e compasso ternário”. 
Cada um dos três signos de cada quadrante é óbvio, um pulso”. Usando apenas a clave de Sol por simplicidade, escreva as notas de uma melodia no compasso ternário – por exemplo, as primeiras quatro medidas da “Valsa de Missouri”; cada uma das quatro medidas representa uma “volta completa no círculo. Admitamos agora que o diagrama é de fato espiralar. Quando você terminar as quatro medidas, em imaginação, você escreve as próximas quatro medidas naquilo que seria o próximo degrau da espiral, e assim por diante por toda a canção. Outra ilustração: subdivida os quatro quadrantes em três, criando as doze casas astrológicas ou doze medidas de música; intensifique as cúspides da primeira, quinta e nona casas, criando três fases de quatro medidas (Fogo, Terra, Ar e Água) cada; indique o compasso quaternário”. E logo, você pode variar seus padrões de várias formas – o ponto é esse: simbologia astrológica, simbologia musical e o espectro de cores foram desenhados essencialmente da mesma forma. Um círculo grande o suficiente para circunscrever várias pautas poderia, teoricamente, ser usado para compor um solo vocal com acompanhamento de piano ou uma combinação instrumental. 
Assim como cada instrumento musical tem seu campo harmônico particular e qualidade tonal, também cada planeta tem sua qualidade essencial enquanto focalizador de um dos doze signos zodiacais. As “oitavas” de um planeta são os níveis de consciência que a pessoa tem em relação a algum princípio de vida específico nos ciclos evolutivos em sucessão, assim como há sete “Dós” no teclado de piano. 
Se, em imaginação, pudermos dizer que todo ser humano evolui através de sete ciclos maiores de desenvolvimento, estes seriam análogos às sete oitavas começando no “” mais baixo do teclado do piano; os doze meio-passos de cada oitava seria análogo aos doze signos zodiacais. O regente planetário de cada signo poderia ser análogo à tríade maior de cada conjunto de doze teclas – Vênus e Mercúrio regendo duas cada. 
Você pode experimentar essa ideia de várias formas; por um pequeno exercício de imaginação você pode criar várias analogias musicais com fatores astrológicos. Por exemplo: dissonância musical e o aspecto de quadratura; a modulação entre dissonância harmonia e o aspecto de sextil (essa modulação é alquimia expressa em música); a tríade maior baseada em um tom específico e o grande Trígono baseado em um signo específico; a nota chave de uma tríade maior e um planeta dignificado; sobretons de duas notas tocadas juntas e orbes de dois planetas em aspecto entre sio solista de uma performance musical e o regente planetário do mapaacompanhamentos instrumentais ou afins para o solista e todos os outros planetas próximos ao regente do mapa. Há uma riqueza de pesquisa imaginativa na feitura de títulos de composições musicais ao se estudar os grupamentos planetários por posição de casas e signos, particularmente aqueles do regente do mapa, enquanto “nota chave” do horóscopo. Tais analogias podem ser muito fascinantes. Seu interesse em ambas as artes se intensificarão e suas percepções desses valores podem ser grandemente vivificadas como resultado desta prática. 
Agora, o astrólogo enquanto “musicista”: 
Assim como o grande cantor ou instrumentista interpreta através de meio tonal os conceitos arquetípicos da manifestação musical, o astrólogo o faz pelo poder da palavra presente em suas interpretações do arquétipo – princípios de vida – quando ele conversa com um cliente ou grupo de estudantes de astrologia. Enquanto o músico desenvolve seu veículo físico pelo exercício técnico, assim o faz o astrólogo com seu veículo mental na exatidão dos cálculos e no estudo das tecnicalidades da astrologia. A “composição” que o astrólogo interpreta é sempre o ser vibratório (a Consciência) da humanidade. O cliente é o “compositor” de um arranjo astrológico específico e o astrólogo é o “acólito” que serve à autoridade divina do cliente. O manifestante musical e o intérprete exercitam seus conhecimentos do meio estético (tonal e rítmico) para objetivar seus conceitos de arquétipos; o astrólogo exercita seu conhecimento do meio da vida humana enquanto especificadores de princípios cósmicos. O astrólogo reflete a essência do que está no horóscopo da pessoa, assim como o cantor ou instrumentista reflete aquilo que é percebido da totalidade da manifestação (pauta). 
Astrólogos “compõem” quando divisam novos símbolos e novas abordagens à interpretação astrológica. Na maior parte das vezes, entretanto eles – e os músicos intérpretes – comunicam aquilo que já se manifestou, em horóscopos ou em pautas musicais. Assim como o trabalho do músico intérprete e do compositor ativa a audição intuitiva da humanidade, o astrólogo o faz pela fala. A “arte” do serviço astrológico depende da clareza com a qual tal ativação pode ser feita. Isso, em essência, é o propósito de sua “música das estrelas” assim como é o propósito dos outros sua “música dos tons”. Ambas tocam, de forma que talvez nenhumas outras duas áreas o façam, a imediatez do espírito encarnado. Ambas são consagradas ao serviço de “tocar o espírito” pelo som da maneira mais bela, eficaz e inspiradora possível. 
* O que se descreve acima está no pleno reconhecimento do fato de que “o raio de Netuno carrega aquilo que os ocultistas conhecem como o Fogo do Pai, a luz e vida do Espírito Divino, que se expressa como motivação”. Como todos outros planetas, Netuno tem suas oitavas “reflexiva” e “expressiva”. A polaridade feminina da qualidade netuniana é aquela de nossa capacidade de responder a estímulos de oitavas superiores através da sintonia inspirativa. Netuno, nesse sentido, é o símbolo arquetípico de nossas qualidades místicas. Um grande ator ou músico se projeta (dinamicamente) pela sua atuação, execução ou composição. Aquilo representa seu Netuno “dinâmico”. A sintonia com os arquétipos e a resposta aos impulsos inspirativos a partir do mais alto da polaridade feminina daquele funcionamento. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário