quarta-feira, 10 de agosto de 2016

CAPÍTULO LII – ARTE DRAMÁTICA

O instinto de atuar é tão primordial à natureza humana quanto qualquer outro instinto. Considere a tendência natural de toda pessoa de enfatizar ou intensificar a comunicação pela fala com gestos e expressões faciais. Esta ênfase natural é aquela que se cultiva pelo treinamento intensivo da arte dramática, assim como a beleza natural da voz que fala é cultivada na arte de cantar. Dramatizar significa intensificar em qualquer forma ou por qualquer meio. 
Consequentemente, a dramatização é um dos atributos arquetípicos de todas as artes – a expressão organizada de um "ponto" específico da reação emocional, pensamento ou realização. Mesmo a execução de duas ou três oitavas de uma escala ao piano (usualmente não visto como algo particularmente belo) pode ser dramatizada pelo uso da dinâmica tonal de tal modo que sua identidade mecânica enquanto "escala" seja transformada em um "ponto" de musicalidade expressiva. A destreza técnica pode, e às vezes o faz, servir para produzir obras de arte universalmente designadas medíocres. A mediocridade artística é essencialmente arte produzida de forma não inspirada. Inspiração em qualquer forma – e há várias formas pelas quais ela pode ser experimentada – é a mais alta forma de dramatização da experiência humana; de nenhum outro modo experimentamos reação e realização com maior intensidade. Assim como Marte e Lua são "oitavas inferiores" da impregnação e receptividade, o Sol e Netuno são respectivamente "oitavas superiores" desses dois mesmos atributos. O cálice de Netuno recebe os raios do poder solar na "semente da alma" (o pequeno círculo sob o símbolo de Netuno), o símbolo da impregnação psíquica ou espiritual, que em qualquer forma é inspiração; e a inspiração é sempre uma designação de resposta ao poder solar do amor – o signo de Leão da Grande Mandala. O Peixes de Netuno é a oitava superior do trígono de água, iniciado por Câncer cardinal, que é o princípio triuno da responsividade vibratória simpática. O Sol e Netuno são (em composição) a identidade planetária da Divindade-Paterna-Materna da humanidade. 
arte dramática tem sua origem na cerimônia; cerimônia por sua vez era uma forma do homem personalizar por meio de um simbolismo ativo suas realizações espirituais. A cerimônia e o mito são duas maneiras de dizer a mesma coisa: exoterizando, por ação e história, aquilo que representa os conceitos de princípios de vida da humanidade. A verdade do homem é "a verdade da Vida vista em um espelho"; o espelho é o estado evolucionário da consciência emocional do ser em evolução. A arte de atuar é a mais completamente personalizada de todas as formas de artes interpretativas – usando como instrumentos a voz do cantor e o corpo do dançarino. O dançarino se move em ritmos específicos, o cantor "fala" em tons específicos, o ator (por movimento e fala) tem algo de ambos. O grande ator funde estes dois altamente especializados talentos; aquele da pantomima, que é "dança tornada literal", e aquele da leitura das linhas, que é "canção tornada literal". Grandes atuações formalizam certos princípios estéticos assim como grandes escritas em prosa o faz; os movimentos do dançarino e a expressão vocal do cantor correspondem à atuação assim como a poesia em relação às grandes obras em prosa. 
Mantendo em mente que "dramatizar" significa "intensificar" consideremos a significância do diâmetro Leão-Aquário, signos de quinta casa de Áries-Libra, enquanto símbolo arquetípico do princípio da expressão dramática. Este diâmetro é a polarização daquilo que é essencialmente simbolizado pela quinta casa da Grande Mandala – a radiação individualizada de poderes emocionais. Leão, fogo fixo, é o signo inicial da cruz fixa, analogamente a Áries e Sagitário em relação às cruzes cardinal e mutável, respectivamente. É o aspecto amor do EU SOU arquetípico e devido à sequência posicional, é a liberação daquilo estabelecido na quarta casa. Sua palavra chave é Eu libero e ele é pábulo não apenas para os demais signos da cruz fixa, mas também para a expressão ativa do Sol no horóscopo. 
Geração é a oitava casa de Escorpião enquanto liberação individualizada é a quinta casa de Leão, polarizada espiritualmente e naturalmente através da décima primeira casa de Aquário. Devemos manter em mente que o poder, enquanto Princípio Solar, não serve para nada até que seja liberado e irradiado. Todo amor no coração humano, todo talento criativo, toda genialidade inspirada manifesta ou interpretativa são relativamente insignificantes se não forem expressas, e é através de Leão-Aquário e Sol-Urano que nos expressamos criativamente, até onde os humanos podem ser criativos. É através do atributo amor de Leão que contribuímos com a vitalização emocional dos relacionamentos e para nosso trabalho. Através dela encontramos o recurso daquilo que é complementação focada, é geração e regeneração Escorpiana. Leão é o símbolo arquetípico da alegria natural e espontânea, o atributo dinâmico de cuja realização passiva e transitória é chamada "felicidade". Apenas através da alegria nós verdadeiramente amamos, verdadeiramente manifestamos ou interpretamos e sinceramente servimos. Mesmo em "sangue, suor e lágrimas" a alegria é um fator inevitável na consciência do artista; ser "não preenchido de alegria" é ser não amante e não radiativo, no sentido criativo da palavra. As tristezas de Leão-Sol estão enraizadas na perda de oportunidades ou na congestão na habilidade de exercitar a radiação de amor às outras pessoas ou ao trabalho. As agonias de Aquário-Urano estão enraizadas na inabilidade em enfrentar os desafios gravitacionais da Lua-Saturno e nas "dores de crescimento" da manifestação bipolar.  A consciência humana não individualizada é representada pela sequência dos primeiros quatro signos zodiacais - Áries, Touro, Gêmeos e Câncer. A radiatividade desta oitava de percepção primitiva está no signo de Escorpião, signo da quinta casa da Lua-Câncer - o instinto para gerar formas enquanto liberação dos recursos de desejo. Com a individualização, entretanto, a pessoa se move na sequência evolucionária um passo à frente para o diâmetro Leão-Aquário e sua radiação-desejo é transformada em um aspecto menos primitivo da consciência de amor e de poder individualizado. A consciência de poder individualizada é o primeiro "dever" no desenvolvimento e cumprimento da artimanha atuante ou interpretativa. Portanto o artista de qualquer tipo deve saber que ele é um poder, e a integração pessoal deve ser alcançada antes que a consciência de poder possa ser expressa. Agora para o dramaturgo e o ator: 
dramaturgo é uma especialização de (cada um ou ambos) escritor em prosa e escritor em poesiaEntretantopelas especializações dessa arte, ele é mais essencialmente o escritor da poesia que da prosa, mesmo que ele não escreva (e a maioria dos dramaturgos não o faz) especificamente em versos. Escrever peças envolve não apenas uma sintonia instintiva com o princípio do ritmo, mas também com a musicalidade inerente aos valores vocais. Ele deve, pois atuar é pantomima e ação assim como fala, saber algo dos valores dos movimentos inerentes à dança. O senso de "proporção temporal" é tão necessário a seu trabalho como o de "proporção espacial" ao pintor ou o de "proporção tonal" ao compositor. A consciência temporal é o que chamamos de consciência da sequência de reação e realização. As "reações e realizações humanas" são o que o dramaturgo apresenta na forma esteticamente organizada "dramatizada". De fato, o que se apresenta no palco é a objetivação de sequências de reações e realizações individualizadas. No palco ou na vida real, este "fazer" é sempre uma representação de estados interiores. A mentalidade proteana ou compreensão do dramaturgo torna possível a ele construir a ação de sua peça de acordo com um profundo "conhecimento interior" da consciência temporal individualizada. O dramaturgo pode ou não buscar apresentar uma mensagem em seu trabalho; mas o que ele apresenta, tanto como "mensagem" ou "drama puro", é a organização de seu conceito de arquétipos refletidos através da consciência humana individual ou composta. Leia qualquer peça merecedora de ser designada como arte dramática e você encontrará, em algum lugar, um "ponto emocional" que é o arquétipo de toda peça, qualquer seja sua complexidade estrutural. A arte da expressão dramática (dramaturgia) é a organização harmônica e expressiva de elementos focalizados, assim como a árvore está focalizada em sua semente, em seu ponto emocional. 
A Grande Mandala Astrológica com Áries no Ascendente, pontos estruturais cardinais conectados em um quadrado, os signos de água conectados em um triângulo, é a figura simbólica daquilo que todas as artes buscam interpretar. Aqui está a família humana – o masculino e feminino do “parente e criança”, masculino e feminino nos estados imaturo e maduro, e o intercâmbio quadrimembrado da polaridade física, genérica e evolucionária. O trígono dos signos aquosos representa o princípio da vibração simpática pela qual compositores e intérpretes “sintonizam” em arquétipos a serem expressos através de conceitos individualizados em meios estéticos. 
A segunda apresentação da Grande Mandala tem os signos fixos nos pontos estruturais, Leão como Ascendente, Escorpião como base. Esta é a mandala de todos artistas compositores (criativos), irradiando a partir de seus recursos de poder criativo, polarizados pela originalidade de Aquário, para cumprir a redenção cármica inspirativa da subconsciência  de grupo da humanidade.  A posição de Câncer como signo da décima segunda casa dessa mandala nos mostra que o potencial irradiado pelo Ascendente Leão deriva de uma fonte profunda de simpatia, da qual o “parentesco” é o arquétipo. Nenhum grande dramaturgo realiza seu melhor e mais inspirado trabalho basicamente impulsionado por um desejo de fazer milhões em dinheiro ou obter isso e aquilo em fama e aplausos. Ele faz isso, pois não pode se refrear e viver, mais do que pessoas verdadeiramente maduras podem viver (no sentido real da palavra) sem contribuir para a vida. O dramaturgo ou qualquer artista compositor é um parente espiritual, um “progenitor” de seu arquétipo. A base Escorpiônica dessa mandala aponta para a base psicológica de intenso desejo-poder regenerativo. Nenhum grande artista de qualquer tipo é uma “ineficácia psicológica”; há percepção profunda, percepção profunda, sexualidade forte, emoções intensas e consciente ou inconscientemente uma aspiração brilhante em todos. 
A terceira apresentação básica da Grande Mandala tem Sagitário no Ascendente, signos mutáveis nos pontos estruturais, e Peixes como base. Este é o mandato do artista interpretativo que se sintoniza ao conceito do compositor e faz de si um veículo para a incorporação do mesmo. Ele pode ser chamado, como retrato abstrato do artista interpretativo, a “mandala da instrumentação individualizada”. O artista interpretativo disciplina, desenvolve e organiza suas habilidades e faculdades de modo a se qualificar para o exercício inspirativo. Há um número de artistas nas áreas do drama, dança e música que se qualificaram para a designação tanto de compositores como intérpretes. Dentre os artistas intérpretes há dois tipos básicos: 
Um tipo é aquele da personalidade arquetípica da qual há e tem havido vários exemplos notáveis no campo da atuação em filmes. Representantes desse tipo em filmes falados ou mudos são tais como: Rodolfo Valentino, Theda Bara, Mary Pickford (a queridinha da América de anos atrás), Douglas Fairbanks, Mae West, Clark Gable, entre outros. O exemplo excepcional de personalidade arquetípica nos filmes de hoje é Bing Crosby – o trovador do mundo (1951). 
O segundo tipo é aquele do verdadeiro intérprete dramático, o ator ou atriz cuja personalidade e equipamento profissional são pábulos para sintonizar ao conceito do compositor. Todos os grandes artistas dramáticos são desse tipo e eles, em suas pessoas e por sua influência, estão entre os mais conspícuos “inspiradores” da raça humana. O Ascendente Sagitário da “mandala do intérprete” retrata a vocação esotérica (ou psicológica) de toda a representação dramática. Pelo poder do ator, a essência das vibrações da personalidade humana é representada nos papéis que ele atua; estes padrões de vibração da personalidade são condensações de princípios de vida que se expressam através do arquétipo humano. A projeção inspirativa do ator aliada à estratégia e conhecimento do dramaturgo contribui para a vitalização da conscientização humana de sua própria experiência e identidade enquanto expressão de vida. O homem sempre busca realizar as verdades de seu arquétipo e, mais que em qualquer arte, o drama tem o poder de “ativar” pontos dessa realização. Não vemos realmente nosso ser (individual) nas performances dos grande atores; vemos “pontos do ser” representados. Nossa resposta ao impacto de uma grande performance do drama trágico tem o efeito de elevar nossa consciência de "dor localizada em nossas tristezas" a uma vasta participação nas tristezas e sofrimentos da humanidade em evolução. O ator e atriz são intermediários entre nossa consciência pessoal separativa e nossa consciência de identidade com a pessoalidade de nosso arquétipo, humanidade. Pense um pouquinho a respeito de sua reação às performances de grandes atuações. Você lembra do senso de "expansão para um ser maior" pelo estímulo à sua simpatia, sua coragem, sua fé, seu amor e suas inspirações? 
Seja mencionada aqui aquela que em seus dias foi considerada por muitos como sendo a maior no campo da arte dramática e cujo cumprimento do compromisso artístico representou um dos maiores desenvolvimentos da arte teatral: Madame Sarah Bernhardt. A carreira desta grande atriz francesa (ela era uma nativa de Paris e também de Escorpião) nos palcos do mundo cobriu um tempo de 60 anos e, do ponto de vista da pureza "quantidade de expressão", assim como da qualidade, ela foi um fenômeno de proporções estonteantes. Ela não apenas interpretou papéis maiores dos repertórios clássico, melodramático e lírico, mas o poder de sua vibração era tão grande que ela inspirou a escrita de um grande número das melhores peças de seu tempo – por autores como Francois Coppe, Victor Hugo, Edmond Rostand e muitos outros. Essa mulher foi verdadeiramente uma sacerdotisa da arte dramática, consagrada com toda fibra de seu ser ao cumprimento de um papel que foi verdadeiramente um gesto do divino para aqueles nesse plano. Leia uma boa biografia de sua vida. Ela recarregará sua consciência com uma fé renovada no poder da beleza residente no arquétipo humano. 
Na aplicação à leitura astrológica, a essência simbólica da habilidade dramática é Vênus, Júpiter e Netuno, os signos Peixes e Leão e a quinta casa. A "carreira dramática" envolverá certas configurações favoráveis com a Lua (enquanto símbolo do público) e também da sexta e décima casas. (As conquistas prodigiosas de Madame Bernhardt são mostradas pelo Sol em Escorpião em combinação com uma conjunção de Júpiter e Urano; é possível que ela tivesse ambos Lua e Netuno em Peixes – Décima  Segunda Casa – com Ascendente Áries. 
O astrólogo atua? Se o faz, qual é seu teatro e quais linhas ele lê? Um fator na ética do serviço astrológico demanda que o astrólogo submerja em seus sentimentos pessoais, assim evitando impingir vibrações negativas em seu cliente problemático e aquela clareza de sintonia com o horóscopo aconteça. Nesse sentido ele faz exatamente o que o ator tem que fazer. O astrólogo, em sua pessoa e vibração, deve dramatizar serenidade, amizade, iluminação, encorajamento e amor. Isso não é "hipocrisia", apesar da palavra "hipócrita" significar essencialmente "alguém que prega uma peça". O hipócrita representa equivocadamente através de uma falsa natureza; o astrólogo representa através das verdades da natureza humana. 
O astrólogo "lê as linhas" da natureza humana enquanto explicação dos princípios de vida funcionais a partir de um arquétipo particular. Seu palco é qualquer lugar onde ele possa apresentar verdades astrológicas para a iluminação da consciência de outras pessoas, privada ou publicamente. O astrólogo serve para dramatizar o bem essencial da pessoa para quem ele lê, e nessa função ele prova sua identidade enquanto irmão espiritual do artista dramático.