terça-feira, 12 de novembro de 2013

CAPÍTULO XXIII – A OITAVA CASA


Livre tradução de: http://www.rosicrucian.com/sia/siaeng29.htm
A transição da dimensão física para os planos invisíveis é uma experiência que a humanidade, em sua maior parte, considera com uma sensação de ansiedade, medo, e, em certos casos, de absoluto terror. Em nenhuma fase do trabalho astrológico exige-se do astrólogo ser mais sensível, mais impessoalmente compadecido, e mais verdadeiramente simpático que naquelas ocasiões em que é chamado para interpretar uma Carta de alguém cuja reação de abatimento pela transição de um ser amado neutralizou temporariamente sua capacidade de prosseguir. Uma vez que cada casa na roda tem seus princípios básicos – como um padrão de experiência – este assunto é apresentado na esperança de que possa ajudar a todos os estudantes e praticantes de astrologia a alcançarem uma consciência mais clara da mais oculta das casas, e assim aumentar sua capacidade de lidar com pessoas que estão “palmilhando caminhos escuros”.
O princípio da oitava casa é regeneração; e cabe neste ponto uma palavra de esclarecimento.
Certo cavalheiro que o autor conhece demonstrou magnificamente o poder do ponto de vista regenerador diante de uma separação avassaladora. Sua digna esposa deixou este mundo no momento em que se encontrava no auge da fama e da prosperidade, amada e respeitada por muita gente. Poderíamos dizer que ela tinha tudo para continuar vivendo; ainda assim a Vida a levou sob circunstâncias drásticas e calamitosas. Há pouco mais de um ano a Carta dessa excelente mulher foi posta à disposição do autor, que visava desvendar o segredo daquela experiência especial de transição. Focalizando a análise da Carta nos padrões das casas sétima e oitava, décima segunda e primeira, chegou a esta conclusão: acima e além de qualquer fama mundana que tenha alcançado, essa mulher foi verdadeiramente uma grande alma que, num gesto de serviço amoroso, escolheu fazer sua transição de maneira violenta para que pudesse efetuar-se uma grande redenção. É muito possível que esse feito heroico lhe tenha proporcionado a possibilidade de grandes realizações no futuro. Esta Carta especial é um maravilhoso exemplo do elo de ligação entre padrões de relacionamento do passado e seu cumprimento na presente encarnação. O desafio à coragem e integridade de espírito do marido foi enfrentado com galhardia e, em consequência, ele foi levado a um gesto de serviço que, tendo sido cumprido, já provou ser uma fonte de regeneração e de renovação por seu notável trabalho.
Para obter a essência da oitava casa prepare o seguinte mandala: uma roda em branco com doze casas; numere a primeira, a segunda, a sétima e a oitava casa; realce o diâmetro formado pelas cúspides das segunda e oitava casas. Isto é uma ilustração simples da oitava casa e de sua polaridade, a segunda casa. Gire a roda de tal maneira que a oitava cúspide situe-se no Ascendente; deste modo a sétima casa aparece como a décima segunda. Os significadores essenciais da décima segunda casa de qualquer coisa são: 1) o elo entre a encarnação passada e presente; 2) necessidade de redenção que impele a presente encarnação. Partindo desta perspectiva, o significado da oitava casa da presente encarnação é visto como a regeneração das imagens de desejo que são as memórias ocultas de reações às experiências matrimoniais e de relacionamento na encarnação passada. Essas imagens de desejo têm suas raízes nos instintos sexuais e na consciência de posse, que, na relação matrimonial ou sexual, alcançam um pico de intensidade maior que os alcançados através de qualquer outra fase de experiência.
Em referência ao mandala original: a polaridade ou posição criada pela relação mútua entre a oitava e segunda casas pode ser interpretada deste modo: o inimigo (aspecto de oposição) da regeneração (oitava casa) é o apego (fase primitiva da segunda casa); o inimigo (aspecto de oposição) do princípio administrativo (segunda casa) é o fracasso em regenerar o desejo (oitava casa negativa). O princípio administrativo é o “uso certo dos materiais” – entrada e saída proporcionais, equilibradas; apego aos materiais é tudo só entrando e nada saindo, um estado de desequilíbrio pelo qual a consciência torna-se eventualmente “presa a terra” por sua preocupação com valores materiais.
Os negativos de ambas as casas “alimentam-se reciprocamente”. Desejo sem Amor, sexo sem fruição, permanecem fixos na possessividade; o desejo intenso por dinheiro e coisas, sem uma saída equilibrada pela troca, congestiona as imagens da entrada, resultando isso em um tipo de paralisia devido às demandas sempre crescentes da natureza de desejo. A pessoa amada é considerada como uma posse; o enfoque no dinheiro ou nas posses com a exclusão do relacionamento pessoal correto neutraliza gradualmente o potencial de amor, e, em qualquer dos dois casos, o resultado é congestão, a qual por sua vez cria todo tipo de males em todos os planos da consciência humana. Os poderes simbolizados pela oitava casa são os que produzem a descarga dessas congestões da natureza de desejos. Essa descarga é simbolizada pela vibração dinâmica de Marte: ação construtiva; através de Vênus: mutualidade.
A transição que costumamos chamar de morte é na realidade uma expressão em larga escala do Princípio de Regeneração que, por sua vez, é a essência da espiral, para frente e para o alto, de qualquer expressão da Vida. Quando no estado de saúde, nossos corpos são continuamente renovados e regenerados; a congestão – ou “estagnação” – é algo que resulta em doença. No plano da reação emocional, congestão é qualquer reação que resulta na incapacidade ou desinteresse da pessoa em manter-se adaptável, sensível, receptiva e entusiástica para as novidades das experiências. Se nos apegamos, em sentimento, a coisas que já não participam de nosso viver construtivo, nós nos congestionamos de algum modo. Contudo, se nos mantivermos receptivos e sensíveis ao significado das novidades, acolhemos o advento de outros moldes às nossas vidas, nos quais podemos despejar nossos potenciais.
A congestão, como uma reação à transição de um ser amado, resulta em manifestações tais como a autocompaixão, pesar mórbido sobre o passado, ressentimentos, e tendência para o auto-isolamento. Isto, por sua vez, acumula as energias em montanhas de pó de misantropia, desespero, tendência para escape e confusões psíquicas. Quando nos apegamos àquilo que a vida tem provado estar obsoleto, nós não estagnamos, mas retrocedemos. Ou estamos com a vida na geração e regeneração, ou estamos contra ela na degeneração congestionada. A transição da pessoa que seu cliente amava não é o problema do seu cliente; o problema dele é destampar as fontes de poder interno que resultarão na neutralização de seus padrões de reação declinantes. Uma parte importante de sua responsabilidade é ajudar tal pessoa a compreender que “a morte não existe, só existe a vida”. Fixe em sua consciência a “existência eterna” da vida e a importância de nossa responsabilidade de adaptar-nos às mudanças de circunstâncias e liberarmos o melhor de nossas possibilidades de prosseguir.
Faça que sua conversa com tal pessoa seja completamente doadora de vida; nunca prediga a morte nem mesmo tente descrever os meios pelos quais ela pode ocorrer. Não se deve satisfazer a curiosidade mórbida sobre este assunto. (De qualquer modo, e sob um ponto de vista puramente astrológico, não é sábio tentar-se este tipo de interpretação; o mesmo padrão indicativo da morte indica também o despontar do novo, transmutado do velho durante a encarnação).
Você como estudante de astrologia, deve ter uma perspectiva clara, limpa, sobre a transição e seus significados se quiser ajudar de algum modo. Não pode permitir que o medo da morte se aloje em seu subconsciente se você vai encarregar-se de “lançar Luz na consciência anuviada de alguém”. Firme-se completamente na consciência de continuidade eterna da vida, e se sempre experimenta uma tendência a reagir com comoção, medo ou ansiedade ao quadro de uma morte, exercite-se em neutralizá-lo imediatamente pelos meios mais eficientes (filosóficos e psicológicos) ao seu dispor.
Podemos efetuar outra abordagem a oitava casa se percebermos que a mesma fornece uma chave para solucionar todos os tipos de problemas que podem estar indicados na Carta. Um problema resulta de energia mal dirigida; em virtude da intensidade de qualidade implicada no padrão da oitava casa, um pequeno redirecionamento nesse ponto poderia ter um notável efeito na reorientação de quase todas as outras condições negativas indicadas na Carta. De fato, todos os nossos padrões de relacionamento são agora sequências do passado e estão, em última análise, arraigados em nossa consciência de desejos desde muitas encarnações de experiências de relação. Nossos desejos alcançam o teclado inteiro: autopreservação e automanutenção, obsessões de toda classe, poder sobre coisas materiais e sobre pessoas, gratificação sexual e possessividade mútua entre pessoas, propriedade e prestígio perante o mundo, fama e renome, e assim por diante – todos estes quadros de desejos, e as impressões e memórias, nos têm impelido a padrões específicos de relacionamento com outras pessoas o tempo todo; congestões em quaisquer desses pontos são “mortes internas”, das quais é preciso nos libertar de algum modo.
Algo no coração humano busca continuamente iluminação, de modo que quando o astrólogo precisa lidar com um “problema de aflição” ele reconhece que a sua primeira e principal responsabilidade é estimular a capacidade da pessoa desolada para a coragem e para a adaptabilidade inteligente. Quando nos damos conta de que a oitava casa também é chamada a casa da experiência do sono é que reconhecemos o valor do nosso período diário de sono um meio regenerador. Melhor que continuar no miasma do medo enquanto enfrenta o “desconhecido” (que, casualmente, tem sido enfrentado muitas vezes por todos nós no passado) é qualquer pessoa desolada buscar instintivamente compreender seu padrão de experiência de modo mais claro do que já havia conseguido antes; ela de fato continuará em sua busca até encontrar a resposta, ou nesta encarnação ou na décima a partir desta. Por conseguinte, ajude-a a ver a transição do seu ente querido sob a luz mais misericordiosa possível; relembre-o das ocasiões em que estava tão exausto pelo esforço físico ou pela dor que desejava umas poucas horas de sono mais que todo o ouro da terra. Então, lhe apresente a imagem da consciência do ente amado (que tem se manifestado por milhões de anos) como precisando de algumas horas de sono antes de retomar a próxima fase de experiência. Faça sua consciência conhecer a “morte” como uma fase de experiência rítmica, natural e necessária. Aí volte sua atenção para a oitava casa da pessoa, porque ela ainda está aqui e deve prosseguir em sua vida. Sugere-se que você “ilumine de branco” o regente da oitava casa dela e, consequentemente, a posição desse regente por signo e casa. Isto é sugerido porque é sua oportunidade de alertá-lo para o melhor de suas possibilidades de prosseguir – e você deve circunscrever esta parte da Carta dele do modo mais abrangente possível.
Em tais interpretações, não cometa o erro de inserir sua própria reação pessoal à interrupção do padrão de relacionamento da pessoa. Reconheça que uma mulher pode amar a seu marido acima de todas as outras pessoas, acima até de seus filhos; um homem pode amar a sua mãe mais que a qualquer outra pessoa, mesmo sua esposa. Lembre-se de que não importa quão profundamente a pessoa amava o falecido, a transição deste último proporciona mais espaço na vida para que ele estenda seus potenciais de amor em outras direções, e é evidente que tal extensão é requerida nesse momento. Estude os aspectos dos eclipses solares formados antes da transição; se o eclipse ocorreu em conjunção com um planeta, isto indicará que uma nova prova severa se manifestará entre este eclipse e o próximo. Mas, lembre-se também de que o eclipse anterior pode ter formado um trígono ou um sextil com algum planeta na Carta desta pessoa; isto promete uma “experiência nova” muito significativa. A transição pode ter tornado possível essa nova experiência.
Os aspectos da Lua progredida no momento da transição (na Carta da pessoa) devem ser observados bem de perto. O que ele põe em ação durante um aspecto da Lua progredida produz fruto muito significativo. Se sua reação à transição impele-o à ação retrógrada ele imprime na consciência uma impressão desse aspecto mais profunda que nunca. Portanto, dizemos novamente que as pessoas devem ser encorajadas a se libertarem em ações construtivas para uma mutualidade do bem quando padrões regeneradores estão em execução.