quinta-feira, 19 de maio de 2016

CAPÍTULO L – DANÇA

            Dançar é dar significado, por movimentos corporais rítmicos, à consciência quanto à sua participação no mundo da natureza. Dançar é fazer do corpo físico um instrumento para a manifestação de arquétipos enquanto expressões de estados emocionais e conceitos espirituais. Esses estados emocionais são pontos focais de consciência espiritual de tal intensidade que "devem extravasar" através da instrumentalização do corpo físico.
Conforme o homem se aplicou a manipular as substâncias materiais para expressar, pela construção, sua oitava da "proteção envoltória" para hospedar aquilo que ele amava e adorava, assim ele dançou para expressar a vida interior daquilo que seu corpo físico portava - sua consciência e coração com seus sonhos, medos, amores, desafios, aspirações e compreensões. "Viver" não é apenas se mover através do tempo e de um lugar para outro no espaço, senão se mover pela evolução de ponto a ponto na consciência. Dançar significa identificar o ser da pessoa com o movimento cósmico, com a ação alquímica da vida, por sequências rítmicas das posturas corporais arquetípicas. Dançar não significa, como alguns pensam, "representar a música". O homem movia seu corpo físico nesse plano muito antes da invenção de qualquer instrumento musical; a música e a fantasia são acompanhamentos vibratórios que servem para intensificar e clarear as expressões do dançarino, que são por natureza, extremamente pessoais. Entretanto, a dança essencialmente se expressa através de seus próprios méritos - ela não carece de outros atributos para cumprir com seu propósito básico. A dança é vista em todo o mundo material; personalizemos um pouco para estudar alguns exemplos:
A dança natural das expressões da vida é a sequência de desdobramentos que se segue desde o nascimento e se conclui na transição. Todo fator manifesto no mundo natural tem seu tempo de desdobramento de potenciais e quando aquele desdobramento é feito sem interferências artificiais, a planta ou animal alquimiza sua forma física através de todos os estágios de experiência de acordo com o ritmo de seu padrão básico. Do mesmo modo com os seres humanos; temos um “padrão temporal" para o desdobramento de nossos potenciais nos estágios de crescimento, mas as qualificações individuais determinam variações no tempo para o cumprimento dos padrões de experiências. Entretanto, humanos ou sub-humanos, todos dançamos através dessas fases de desdobramento do crescimento natural.
Se pensarmos a "dança" como os movimentos de um organismo físico, podemos ver sua evidência em todos os lugares no mundo da Natureza. Os galhos de uma árvore se movem respondendo às forças do vento que brincam através deles - dizemos que as árvores estão fazendo belos movimentos com os braços. As ondas do oceano dão a impressão de dançar pelo seu interminável movimento sequencial à beira do mar, cada onda lembrando uma linha de dançarinos se apresentando no palco e se retirando novamente. A Lua encena um longo "bHYPERLINK "https://pt.wikipedia.org/wiki/Bourr%E9e"ourree" (sereno e legato) através do céu noturno. O golfinho esportivo salta da água em belos arcos; quem diria que ele não sente a mesma "alegria de viver" que garotos e garotas sentem ao saltitar rua abaixo. Saltitar e saltar são movimentos arquetípicos que simbolizam o desafio à gravidade e, como movimentos simbólicos, eles representam necessidades aspirativas. As curvas e o espiralar das folhas do outono são belas ilustrações dos movimentos de dança - curvar, deslizar, lançar-se ao alto, cair ao chão em repouso momentâneo e então novamente em novas espirais e arcos. Nuvens ondulantes dançam em formas de eterno dissolver e remodelar conforme o vento as atravessa no palco dos céus; nuvens constituem a representação perfeita das mudanças alquímicas - silenciosas e suaves, elas se dissolvem de um a outro aspecto em beleza incomparável de movimento. Uma galáxia de flores de jardim coloridas, se curvando e rebolando em seus caules é um corpo natural de balé. Pense nos inúmeros tipos de movimentos dos pássaros e animais; a pose soberba do pavão; o deslizar circular do peixe e da foca na água; o voo destacado da borboleta; os passos fluidos do gato e o trotar viril dos cavalos.
Como os seres humanos dançam? Todos dançamos de acordo com o plano cósmico em nossos desdobramentos de potencialidades físicas e psíquicas através das várias fases de nosso crescimento enquanto organismos. Mas todo indivíduo dança de acordo com a qualidade de sua consciência. Algumas pessoas harmoniosamente integradas dançam através da vida em uma beleza rítmica extraordinária. Elas aceitam as experiências como elas vêm, lidam com elas e aprendem com elas com o melhor de sua habilidade; então, sendo guiadas à frente pela natureza, passam a nova experiência, ritmicamente. Elas vivenciam o mínimo de congestão interior e o máximo de expressão dinâmica; toda a extensão de sua encarnação é um belo arco de progresso evolucionário. Elas trabalham com integridade e idealismo - seu trabalho de contribuição é um serviço verdadeiro, uma radiação de bondade e verdadeiro valor para todos por elas afetados. Elas amam com intensidade, amplitude e alegria, são mente abertas e receptivas a valores de novas ideias. Khalil Gibran, artista inspirado e poeta, tinha a alma de um "dançarino verdadeiro"; ele disse: "Dance com liberdade e alegria, mas não pise nos dedos dos pés dos outros".
Metaforicamente, "dançar pobremente" é o resultado de congestões interiores. Do ponto de vista físico, uma pessoa aflita por timidez excessiva, autocentrada, ou com defeito físico não dança e - não pode dançar - belamente, com espontaneidade e alegria. "Dificuldades espirituais" são causadas por algumas congestões emocionais e psicológicas como ignorância, egoísmo negativo, medo, ódio, cobiça, inveja, materialismo, possessividade, frustração e as crueldades que as acompanham, padrões de desapontamento como inércia, cinismo e congestão na identidade forma. Este último é uma das fontes mais profundas que há da "vida dançante sem ritmo". Sua essência é uma congestão na aparência enquanto realidade; ela faz a consciência focar na forma ao invés da essência e se presta a tirar a capacidade de avaliação completamente fora da linha. Pessoas que "dançam de acordo com a forma" ao invés de "de acordo com o Espírito" são aquelas que aceitam a imposição de padrões e valores dos outros ao invés de estabelecê-los a partir do exercício da individualidade. São as pessoas para as quais aquilo que foi estabelecido é o símbolo da segurança e da correção; elas são crucificadas pela consciência-casta; elas tendem a avaliar a personalidade, o caráter e a experiência humanos por uma filosofia materialista que as congestiona do lado de fora ao custo da consciência e apreciação das verdades internas. Os padrões sociais e religiosos dos séculos passados representam esse tipo de congestão. Valores hereditários mais que valores pessoais; família, tradição e posição social representam o foco de apreciação ao invés de valores individuais. Olhe quase em todas as épocas e locais e verá congestão na forma enquanto fonte de perversão e deflexão do fluxo natural rítmico do desenvolvimento e realização humanos. Um exemplo soberbo pode ser visto na interpretação errônea de certa alegoria espiritual que teve o efeito de subjugar as mulheres por eras - um dispositivo cármico pelo qual a congestão do homem na forma reagiu sobre ele durante suas encarnações femininas.
Esta congestão na forma é simbolizada astrologicamente pelo escopo planetário "Lua-Saturno". Pessoas cármica e evolutivamente condicionadas a viver nos confins deste "escopo" são aquelas para as quais a individualidade é praticamente um livro fechado. A padronização das medidas pelas quais elas vivem, em sua maior parte, está em acordo com o que foi estabelecido pelos outros no passado. Educação, trabalho, pensamento religioso e cerimonial, casamento, treinamento de crianças, fatores relacionais etc., são prescritos para todos, geração após geração. O sistema feudal da Europa e o efeito da filosofia de Confúcio na nação chinesa são bons exemplos dessa formalização da experiência humana. Expressões estéticas (e todas as pessoas as têm em algum grau pois a necessidade estética é muito basicamente instintiva para ser completamente negada) são na maior parte das vezes altamente formalizadas e tradicionalizadas. As essências esotéricas da religião são submersas em rituais e cerimônias feitas ou participadas em meio a sentimentos de pavor e medo ao invés de exercícios de inteligência espiritualizada. O casamento - que em essência deveria ser a expressão mais intensamente individualizada da vida humana - serve na maior parte das vezes à perpetuação do estado e do nome.
Reconhecemos, claro, que não há nenhuma "injustiça" nas pessoas que encarnam sob este tipo de regime; sua consciência está alinhada ao estruturante da Lua e Saturno ou elas não seriam atraídas para a encarnação através dele. Mas, justiça cármica a parte, estas formalizações estritas inibem o fluxo livre da expressão e desdobramento pois o medo é um poderoso fator inerente a elas. Por algum tempo em todo ciclo evolucionário "Lua e Saturno" seguram as rédeas; eles, juntos, simbolizam a "espinha dorsal da forma" de toda experiência cíclica; mas, eventualmente os potenciais individuais devem ser liberados por transcendência "naquilo que foi"; os planetas Urano e Netuno são vibrações que representam a "descristalização da forma ultrapassada" e a "revelação da essência espiritual inerente", respectivamente.
Nosso assunto em mãos é dança, mas deixe-nos lembrar que todos os participantes de uma expressão de arte particular são membros de uma família espiritual - uma "fraternidade" de parentesco de empreendimento artístico. Como qualquer outro grupo humano, a família artística (de qualquer tipo) é tão sujeita da tendência à formalização (e cristalização) como outros grupos familiares aliados. Quando forma, estrutura, regra e padrão tradicional são enfatizados ao custo da inspiração e da manifestação espontânea, ocorre a congestão dos valores artísticos. Olhe em qualquer lugar da história gravada do empreendimento artístico da família humana e encontrará vários pontos periódicos de congestão na forma e na tradição, tempos nos quais uma carência do poder inspiracional foi notável. As danças folclóricas se originaram como tentativa de perpetuar a história tribal, crenças religiosas e tradições em forma de representação dramática. Estes "dramas" subsequentemente se tornam formalizados ao inculcarem movimentos rítmicos e vocais ou acompanhamento instrumental no que chamamos "danças tradicionais" e algumas dessas formas de dança em várias partes do mundo, são muito antigas.
O balé é uma forma culta e estilizada de expressão do "drama ritmado" europeu. Originado na Itália como fator de representação operística, foi levado à França, desenvolvido como requintada técnica formal enquanto parte imprescindível de representações músico dramáticas. Os enredos desses "dramas dançados" foram em sua maior parte centrados em fantasias de um romantismo "transcendente" descrevendo personagens alegóricos ou míticos. Nos últimos anos do século passado o balé, como expressão de arte culta, foi adotado pela Rússia e através dos poderes inspiracionais e dramáticos dos artistas daquele país ele foi tremendamente amplificado pela exploração de seus próprios recursos como dança artística, divorciado de sua dependência com a ópera. Ainda falamos do melhor dessa forma de arte como o "Balé Russo"; os artistas manifestantes e interpretativos daquele país estamparam-no com a marca de sua genialidade particular. As companhias de balé das principais cidades russas foram reconhecidas como os expoentes supremos dessa arte e seus grandes solistas ocupam locais notórios no hall daqueles artistas imortalmente renomados pelos amantes da arte em todo o mundo.
Então, nos últimos anos do século passado, um meteoro brilhou no céu da cultura Europeia e Americana e um empreendimento artístico derramou uma radiância de inspiração intensificada no mundo da dança, caracterizado pela descristalização da hiper formalidade da tradição do balé em direção a uma nova oitava da consciência da dança. Esse "meteoro" foi Isadora Duncan, uma inspirada, inspiradora e intrépida artista, através de seu serviço de dança - um dos mais "descristalizantes" do século passado.
Estudantes de astrologia se interessarão pelo seu horóscopo; vale a pena estudá-lo. Data: 27 de maio de 1878, aproximadamente 1:00 AM, 38 graus N, 1221/2 graus Oeste. Júpiter deveria estar na décima segunda casa, o Sol na terceira; Peixes, regido por Netuno é o signo ascendente, e Sagitário está no meio do céu. Sugere-se ler sua autobiografia, My Life e sua Arte da Dança, para saber sobre sua experiência de vida e ideais artísticos, entre inúmeros livros e brochuras por outros escritores, encontrados em quase todas as livrarias e bibliotecas.
Veja que o regente do mapa, Netuno, é o princípio da instrumentação, e um dos princípios básicos de Isadora foi empregar o corpo físico como veículo para poderes inspiracionais. Ela foi intensamente sensível à música, mas foi dito que ela poderia dançar sem a música pois seus movimentos eram tão harmoniosos e "certos" que ela "tornava a música visível". Dois fatores no seu mapa mostram a universalidade de sua influência: Júpiter, regente do meio do céu, na décima segunda casa no signo de Aquário está em trígono a seu sol sem congestões em Gêmeos. Seu poder espiritual era enorme - como performer e como professora; este aspecto representa o propósito religioso básico de sua encarnação. Você reconhecerá isso ao ler testemunhos escritos de pessoas que a viram dançar. Ela encarnou para reestimular, através da arte e beleza (e ela era pessoalmente uma das mais belas mulheres), o impulso aspiracional religioso pela contemplação do corpo humano enquanto uma "instalação do Divino" e como veículo para gestos e movimentos puramente inspirados. Ela trouxe para as congestões sociais e estéticas de sua época o refrescar de uma consciência que habita na beleza, na verdade e no amor. Ela lembrou aos homens e mulheres a bondade e a pureza de seus seres espirituais e buscou de inúmeras formas encorajar as pessoas a resgatar a naturalidade de suas próprias verdades interiores ao viver em termos de sinceridade, amizade e inspiração.
No mundo da dança concerto, sua influência foi quase cataclísmica em seu efeito regenerativo. Sua verdade artística foi aquela da inspiração sincera, não a da tradição acumulada. Muitos outros dançarinos manifestantes tiveram sua parte na regeneração dos conceitos da dança, mas Isadora resplandeceu o caminho para o exercício de seus poderes inspiracionais individualizados (Vênus trígono Urano em signos de fogo).
Ela disse: "Viva plena e corajosamente; libertem-se dos medos das tradições fora de uso; ame a partir do centro de sua consciência com alegria, respeito e generosidade; viva com cortesia e graça; patrocine os pobres e oprimidos e cure as feridas do espírito; conduza as crianças à consciência inata de sua beleza corporal e anímica e auxilie-as a saber a respeito de seus poderes e habilidades individuais; deixe as mulheres perceberem, como nunca antes, seus poderes de inspirar pelo exercício das belezas do coração e da mente; deixe os homens abrirem seus corações a uma renovada adoração da Beleza na Natureza e na Humanidade; deixe a fraternidade de artistas efetuar uma consagração da vida humana através da amizade e esforço sinceros".

Esta grande logomarca nos fará todos "dançar" com alegria, graça, saúde e inspiração. Percebemos, em nossos mapas, os movimentos rítmicos dos planetas desde o tempo do nascimento através dos ciclos de desdobramentos e amadurecimento, os padrões de nossa vida de relacionamentos, os desafios que criamos para nós e os poderes que desenvolvemos para transmutar aqueles desafios em triunfos. Os cumprimentos desses padrões compreendem nossa "dança da vida"; permite-nos mover com as forças cósmicas ritmicamente, com alegria, com coragem e inspiração da fé e compreensão. Esta é a dança da sempre ascendente espiral do progresso evolucionário.