quinta-feira, 1 de março de 2012

CAPÍTULO VII - O PLANETA MERCÚRIO - PARTE I

          Ao estelar Mercúrio é atribuída simbolicamente a faculdade do intelecto, por meio do qual interpretamos, identificamos, classificamos, analisamos e avaliamos as coisas da Terra. Como princípio de identificação, ele representa a “denominação”, a “criação de palavras”, e a objetivação dos pensamentos em palavras falada e escrita. É o símbolo da percepção e da comunicação conscientes. É nossa consciência quando estamos desembaraçadas de congestões emocionais ou perturbações de sentimentos subconscientes.
      A substância a que chamamos Mercúrio é pesada, ainda que sua qualidade seja líquida; nossos pensamentos, quando desorganizados ou desfocados são também como que líquidos, transitórios, passando rapidamente de uma impressão a outra, “para cima e para baixo”, “sim-e-não”, “ora-quente-ora-frio”. Contudo, quando nossos padrões de pensamento estão organizados, temos a faculdade de decidir definitivamente e de incorporá-los em algum tipo de exteriorização concreta definida, em palavras isoladas ou no prolongamento destas em sentenças. Esta exteriorização é o que chamamos “linguagem” – a faculdade universal de corporificação do pensamento. A qualidade líquida de Mercúrio é vista nas muitas maneiras pelas quais se podem identificar uma coisa específica; sua exatidão pode ser vista na “solidez” com que identifica uma palavra ou sentença específica.
      Mercúrio identifica tanto o abstrato quanto o concreto. É por meio de Mercúrio que compreendemos o concreto, mas é por meio de outras faculdades estelares que compreendemos o abstrato. Mercúrio, todavia, é a raiz básica de nosso desenvolvimento de compreensão, do concreto mais literal ao abstrato mais intangível. Analisemos o símbolo planetário: uma cruz (matéria, manifestação, estrutura, o concreto, encarnação), sobre ela um círculo (perfeição, o completo) que, por sua vez, tem sobre si um semicírculo voltado para cima (instrumentalidade, receptividade de instrução ou inspiração). Sintetizando estes fatores simbólicos, vemos que pelo exercício da faculdade de Mercúrio aprendemos acerca dos princípios da vida através de sua expressão na região química do universo. Este símbolo pode ser chamado de “Vênus com os cornos da Sabedoria”, e a dignidade aérea de Mercúrio, Gêmeos é o signo da nona casa (oitava da Sabedoria) da Libra de Vênus. Foi-nos dito que os Senhores de Vênus e os de Mercúrio foram os Mestres que instruíram a Humanidade incipiente nos princípios da linguagem, dos ofícios, das artes e das ciências, pelo que a Humanidade aprendeu a funcionar com eficiência sempre crescente no mundo material. Em suma, Mercúrio é o elo (mensageiro) entre os deuses (princípios) e a humanidade. É por meio de Mercúrio que nós aprendemos em primeiro lugar a natureza objetiva e a qualidade das coisas, depois a percepção dos princípios abre nossa consciência para a realidade subjetiva; em ambas as oitavas nós aprendemos, mas na primeira nos integramos através da identificação; na segunda conhecemos através da experiência que a Compreensão proporciona.
      Posto que o símbolo de Vênus esteja incluído no símbolo de Mercúrio, pode-se supor que todas as expressões artísticas da humanidade estiveram baseadas no desejo de comunicação. O semicírculo voltado para cima, que Mercúrio tem em comum com Netuno, representa uma forma microcósmica da instrumentação, que é um dos principais significados de Netuno. O ser humano primitivo desenhava um pequeno quadro de algo para comunicar seu pensamento a outra pessoa. Partindo desse nível, ele desenvolve um sistema de símbolos para comunicar seus “pensamentos-imagens” – ideogramas, letras e suas combinações em palavras, e destas as sentenças. A expressão que a humanidade dá de seus conceitos, realizações, sonhos e aspirações – destiladas da experiência evolutiva – são o que nós chamamos de BELAS ARTES; todas elas, não importam os materiais ou técnicas usadas, é a faculdade Mercurial tornada extensiva por Vênus-Netuno como comunicações simbólicas partindo dos recursos da consciência. Nem todos compreendem uma tela, uma peça musical, um poema ou uma escultura; aqueles que compreendem estão simpaticamente sintonizados com a consciência do artista. Todavia, todo aquele que possui um grau normal de mentalidade pode compreender o “simbolismo relativamente literal” da linguagem e expressar-se por ele – pelo menos falando. Aprender a falar é algo que todos temos feito em cada encarnação desde o princípio; fazemo-lo e aprendemo-lo instintivamente. Este instinto é simbolizado pela região da vibração Lunar – aquilo que conhecemos ou aprendemos através da faculdade memória subconsciente. Portanto, considera-se o falar tão instintivamente natural quanto andar ou dormir. Ler e escrever, contudo, são extensões da Lua através de Mercúrio. A mente consciente deve ser treinada para entender a técnica dos símbolos representada pela língua particular com que se nasce. Você aprendeu Inglês na sua infância, mas pode não ter conhecido esta língua em qualquer encarnação anterior. Você aprendeu a falar em Inglês imitando instintivamente aqueles ao seu redor, como a recapitulação de uma faculdade que você exercitou em cada encarnação; mas pode ser que somente dentro da esfera de um passado relativamente recente você tenha adquirido fluência na palavra escrita, e pode ser que o Inglês, sua língua vernácula, seja a única em que você tem agora alguma habilidade para ler e escrever. Destacada ilustração da “maturidade” de Mercúrio observa-se no talento natural para aprender a falar, ler e escrever em outros idiomas. A posse desse talento evidencia que a pessoa tem exercido suas potencialidades Mercuriais durante muitas encarnações; sua mente adquiriu uma receptividade tal que a capacita a compreender uma variedade de técnicas de símbolos; a compreensão de vocabulário, de gramática, etc., tornou-se uma faculdade especializada que está integrada na consciência. A “mercurialidade” deste estelar em nenhum caso é mais bem ilustrada que a “magia” que ocorre na consciência de uma pessoa para outras pessoas quando aquela aprende a se comunicar na linguagem destas – ou vice-versa. O “espaço psicológico” que tende a existir entre as pessoas desconhecidas é, portanto, em certa medida, desintegrado e uma sensação de “entrosamento mútuo” toma seu lugar. De “Mercúrio como palavra” nós passamos para os “números” e em seguida para os símbolos abstratos. Nesses três estágios a mente consciente é exercitada em três níveis específicos, sendo os dois primeiros os canais mais concretos e diretos para o aprendizado.
      É verdade que cada estelar tem seu efeito especial sobre as faculdades mentais, mas, além de Mercúrio, outros três estelares referem-se especificamente a “oitavas mentais”. São estes: Lua, Netuno e Júpiter. A Lua, regente de Câncer, é a mente “instintiva”; por meio desta oitava nós pensamos pelos “padrões herdados”, “pensamos como pensa a tribo”, pensamos através do sentimento, do temor, do desejo, do preconceito e dos padrões instintivos de segurança. Mercúrio, é nossa “escolha e seleção individual”, é o “pensamento livre de congestões de sentimentos ou de negativos subconscientes”. Netuno é a mente psíquica, a mente telepática, é aquela parte da mentalidade pela qual nos tornamos instrumentos. “Júpiter é a “mente da moralidade”, é o pensamento elevado ao nível de conceito”, é a decisão que se baseia não apenas na conveniência, mas na compreensão de princípios. Através de Mercúrio nós aprendemos pelo estudo e pela observação; através de Júpiter aprendemos pela experiência, da qual destilamos melhoramento e crescimento. Os símbolos estelares de todos os quatro envolvem o semi-círculo, que é o símbolo da Lua. Júpiter é “a Lua posta na cruz da encarnação”; Mercúrio e Netuno têm o semi-círculo voltado para cima, mas o símbolo de Netuno não ostenta a cruz - ele é o genuíno símbolo do “cálice”, o receptáculo perfeito”, a “receptividade baseada na fé” e é o símbolo da faculdade oitava superior que denominamos instrumentação.
      Atribuímos a Mercúrio a regência de dois signos comuns; Gêmeos e Virgem, de Ar e de Terra respectivamente. Como regente de Gêmeos, Mercúrio está exaltado (maduro) em Virgem porque o conhecimento amadurece ao ser posto em uso; o conhecimento, como tal, permanece em sua infância se não é projetado ou expresso para o progresso da encarnação. Somente através do conhecimento pode o serviço ser realizado e os assuntos materiais melhorados. Qualquer coisa que seja “conhecida perfeitamente” pode ser “usada corretamente”; a ignorância é o caminho para o “mau uso” e para a corrupção do serviço.
      De todas as vibrações estelares a mais plástica é a de Mercúrio. Isto significa que “ele” é o mais facilmente afetado – ou qualificado – pelo signo em que se encontre. Ambos os signos de sua dignificação são signos comuns; um (Gêmeos) é a fêmea-masculino, o outro (Virgem) é o macho-feminino. Mercúrio, como intelecto, é não-emotivo ou neutro, no que concerne a gênero. Por regência do signo ele é a raiz dos padrões de relacionamentos fraternais e a androginia (bipolar) de sua natureza é revelada claramente na natureza de Urano, regente do signo da nona casa de Gêmeos que é o símbolo da bipolaridade criativa. O intelecto também é uma faculdade bipolar, posto que ambos os sexos devam exercitá-lo em cada encarnação. No que concerne a “qualidade genética”, esta faculdade não é nem masculina nem feminina, mas tampouco é peculiar a um ou a outro gênero. Uma das evidências da fusão de polaridades é o desenvolvimento e exercício do intelecto pelos seres humanos encarnados como mulheres; assim como o cultivo da simpatia representa um “aperfeiçoamento” da natureza masculina. A mente deve ser treinada para coordenar as condições e expressar os poderes de emoção, do sentimento e do desejo em todas as oitavas evolutivas.
      Como faculdade da razão, Mercúrio representa a raiz na consciência pela qual se aprende a Lei de Causa e Efeito. A mente consciente observa o mundo material, evoluindo daí uma percepção da exteriorização de causas internas. Na mitologia, o Mercúrio de pés alados era o mensageiro dos deuses para a humanidade. “Os deuses” são simplesmente uma maneira simbólica de referência aos princípios da vida. Quando a humanidade emerge de uma reação puramente sensual para com a vida e a experiência, ele abre caminho para o desdobramento de sua consciência do mundo material e dos princípios que este expressa e pelos quais funciona. O homem aprende sobre uma ação quando percebe seu efeito; partindo disso, ele aprende sobre a sua própria consciência como sendo ela a fonte de todas as suas ações e expressões. O indivíduo irracional – se é que alguém pode sê-lo inteiramente – é assim porque recusa abrir sua consciência à voz de Mercúrio. Ele não estuda a si próprio em relação aos efeitos que tem causado. Ele não estuda as coisas e as outras pessoas como manifestações da lei, por conseguinte ele não se integra na forma. Permanece em um redemoinho desfocado de reações sensuais; sem controle, sem padrão e sem rumo. As quadraturas estelares a Mercúrio representam o potencial do indivíduo para ser irracional. Tenha isto em mente quando analisar um horóscopo – é muito importante. Mercúrio é o meio pelo qual aprendemos a desintegrar congestões e realizar idéias.
      Um ponto psicológico que pode ser de interesse: quando o Virgem de Mercúrio está no Ascendente, sua outra dignificação geralmente se encontra no Meio-do-Céu. A introversão que, portanto, é freqüentemente atribuída ao Ascendente-Virgem descreve-se assim: O auto-desenvolvimento é o foco da realização da ambição. As complexidades da personalidade do Ascendente-Virgem e do Ascendente-Peixes (são os últimos dos signos de semicírculos inferiores e superiores) Virgem e Peixes são representados pela polaridade de Capricórnio-Câncer sincronizando com a quinta e décima primeira casa – as casas do amor criativo. Sempre que Capricórnio-Câncer são focalizados na quinta casa, percebemos o potencial amoroso misturado com a consciência genealógica; tais pessoas estão muito provavelmente sujeitos aos complexos emocionais de natureza cármica nas relações com seus pais.
      Mercúrio, variável e impressionável, está à mercê de “excesso de ação”, “excesso de fixidez” e “excesso de adaptabilidade”. Uma vez que este estelar rege os dois signos mudáveis básicos (comuns), seu potencial para integração é amplamente qualificado pelo relativo dinamismo ou condição estática do horóscopo como um todo. Gêmeos e Virgem iniciam cada um, um quadrante zodiacal; por conseguinte eles iniciam um quadrante de casas que totalizam juntas um semicírculo inteiro de casas ou um diâmetro completo da roda. Portanto, qualquer aspecto de congestão ou de atrito a Mercúrio tem o efeito direto de prejudicar a habilidade da pessoa para aprender das experiências representadas por esses dois quadrantes – onde quer que estejam colocados no horóscopo. A particular localização de Mercúrio, como “focalizador” das vibrações Gêmeos-Virgem, mostra o departamento de experiência que provê o exercício das faculdades mentais para a “reabilitação” das desarmonias e a coordenação da mente com os sentimentos. O signo em que Mercúrio se posiciona identifica esta “coloração genérica” particular – expressivo-dinâmica ou reflexiva-absorvente. O fator mais importante na análise dos padrões de Mercúrio encontra-se no estelar que rege o signo em que Mercúrio se posiciona. Este estelar é o dispositor de Mercúrio e tem muito a ver com o modo pelo qual a pessoa desenvolve – ou deixa de desenvolver – sua capacidade de raciocinar.
      “Mente versus emoção” é representado por um Mercúrio descongestionado, disposto por um estelar congestionado. As congestões que envolvem o dispositor representam – é claro – problemas que são levantados por reações emocionais negativas para outras pessoas, eventos, etc.. Mercúrio limpo, descongestionado, torna relativamente fácil para a pessoa aprender de suas experiências e exercitar o controle racional de suas emoções e reações de sentimentos sensuais. Se Mercúrio e seu dispositor estiverem descongestionados, você pode estar seguro de uma coisa: não importa que outras dificuldades possam estar configuradas no horóscopo, a pessoa tem uma habilidade natural e impulso para ser prática no aprender como realizar seus ideais e mais profundos anelos, a despeito do que sejam esses ideais ou do que ela, em sã consciência, chama de “realização” ou “êxito”. Seu ideal pode ser abundância financeira, pode ser popularidade e admiração, pode ser realização profissional de um talento, pode ser poder sobre outras pessoas; podem ser centenas de outras coisas, mas um Mercúrio limpo, descongestionado – tanto por aspecto quanto por vibração – torna-lhe possível ver claramente o caminho para a realização do seu sonho.
      Mercúrio congestionado com um dispositor descongestionado promete desintegração de uma congestão mental se o princípio do dispositor é exercitado em relação aos problemas de Mercúrio. As “virtudes” do dispositor estelar são os “agentes alquímicos” pelos quais aquela particular qualidade genérica de Mercúrio pode ser “purificada” e as qualidades mentais harmonizadas e organizados. Qualquer aspecto estelar a Mercúrio é melhor do que nenhum, porque todo aspecto é uma “canalização” para o treinamento das faculdades mercuriais. Mercúrio em signo cardeal, fixo ou mutável (comum) deve ser sintetizado com a cruz que esteja mais fortemente enfatizada no horóscopo, porque, por exemplo, um Mercúrio cardeal ou comum pode servir como um neutralizador muito eficaz de muitos estelares em signos fixos – e assim por diante. Mercúrio cardeal enfatiza a expressão, Mercúrio fixo enfatiza a retenção e Mercúrio comum ou mutável enfatiza a adaptabilidade.