quarta-feira, 9 de setembro de 2015

CAPÍTULO XLIV – O PONTO, A LINHA E O CÍRCULO

            Por muito tempo uma das mais profundamente arraigadas convicções pessoais do autor é que a astrologia é a arte interpretativa suprema. “Suprema”, pois seus elementos estruturais e simbólicos compõem os elementos estruturais e simbólicos das outras artes. É a representação simbólica dos princípios cósmicos “expressos humanamente”; como tal, ela representa tudo o que a humanidade busca expressar em termos das belas artes. É o padrão das ações e reações e essas duas palavras juntas que constituem o que chamamos “experiência humana” que por sua vez é a “destilação da consciência espiritual”. Arte, em qualquer forma, serve para intensificar e vivificar a percepção do homem sobre si mesmo, outras pessoas e o mundo ao seu redor.
            A simplicidade fundamental do simbolismo astrológico tem alcance profundo sobre nossa consciência devido à sua qualidade arquetípica; posteriormente suas mensagens – através dos planetas, signos, casas e aspectos – nos alcançam continuamente como se nós descobríssemos nossos recursos de sabedoria e percepção. Todos os artistas considerados grandes o são devido a algum alto desenvolvimento incomum em pelo menos algum ramo de sua arte particular; o grande astrólogo é aquele que efetivou a integração harmoniosa do intelecto com o amor e com a intuição. Ele é, pela natureza de seu talento, um intelecto e instrumento, um estimulador e um refletor, um pai e um irmão. Ele conhece a escuridão, mas sua percepção é centrada na Luz; ele serve para iluminar a consciência dos outros em relação a sua identidade real como expressões da Lei de Causa e Efeito, que é polaridade cósmica em ação através do arquétipo humano.
            Este discurso introdutório sobre “ponto, linha e círculo” tem o propósito de preparar mentalmente para a consideração das analogias entre as belas artes e a astrologia. Qualquer trabalho artístico é uma organização quimificada de elementos, abstratos e concretos, que serve para corporificar uma ideia arquetípica. A concepção da ideia é a ação da polaridade feminina do artista; ela representa seu funcionamento como focalizador dos poderes inspiracionais e como percebedor do arquétipo, por intuição. Pelo exercício do poder da vontade com estratégia técnica (a polaridade masculina), uma fusão vibratória ocorre de forma a tornar possível a gestação da corporificação – o arquétipo é condensado e objetivado através do meio artístico particular – a perfeição inerente ao arquétipo é relativamente manifesta em tom, cor, designs, movimento, gestos, palavras, etc. A fusão da intuição com a vontade é o exercício da bipolaridade – o artista é ao mesmo tempo “pai-mãe” de seu trabalho. Seres humanos não podem – criar tons, cores, designs, movimentos, gestos, etc. Temos, entretanto a faculdade de nos tornar sensíveis à existência e à natureza dos arquétipos, e nossos talentos nos permitem manifestar nossos conceitos de arquétipos, que são, e sempre tem sido residentes na Mente Divina. Como indivíduos, nós simplesmente damos expressões individualizadas a eles. Pense a esse respeito em conexão com aquelas obras de arte que você ama mais profundamente e que o inspiram mais intensamente. Elas sempre vivem em sua consciência e servem para simbolizar realidades internas a você. Sua resposta a elas é parte e parcela de seu corpo alma; suas essências viverão nele enquanto você existir. Elas são, em qualquer forma, sentenças vibratórias da verdade. A “criatividade” do manifestante artístico é a originalidade com a qual ele corporifica o arquétipo.
            Alguns poucos exemplos – para ilustrar a qualidade arquetípica da grande arte: A música de Johann Sebastian Bach; o canto de Marian Anderson; a arte da dança de Isadora Duncan, Vaslav Nijinsky e Mary Wigman; o atuar de Eleanora Duse e John Barrymore; os dramas de Shakespeare; a escultura de Rodin; as novelas de Pearl Buck; a arquitetura do antigo Egito; a poesia de Verlaine, etc.
            Sem o “ponto, linha e círculo” não pode haver representação astrológica. Sem compreender o significado arquetípico destes três não podemos compreender o significado arquetípico de uma obra de arte nem de um horóscopo. Na composição do “ponto, linha e círculo” como sequência, é visto o símbolo da emanação – macrocósmica e microcósmica, divina e humana. Você já ficou curioso em saber como fazer para criar um símbolo a partir de “nada”? É simples. Você se conforma ao significado da palavra e não faz nada. Você deixa o papel em branco. No instante que você indicar algo no papel, você terá dado corpo a "algo". O fator mais fascinante na simbologia é o estudo do ponto - pois o ponto é o início de toda representação. Você pode desenhar uma reta inteira de uma vez só? Não, você teve de começar com um ponto. Refutar com "mas eu posso usar uma estampa e desenhar a reta de uma vez só" é equívoco; a estampa (feita para desenhar uma linha) foi feita pelo mesmo processo.
            Pessoas - a maioria - são inclinadas a pensar que um zero (círculo) é o símbolo de "nada". O mero fato de zero ser uma "coisa desenhada" invalida automaticamente esta interpretação. ("Um e zero" - enquanto desenho - não é "um" mas "dez"). Consideremos a natureza de um "círculo-zero" do ponto de vista de como ele é essencialmente feito; a partir disso, talvez, possamos alcançar uma percepção mais clara do que ele essencialmente simboliza. (Note que na adição e na multiplicação, nossos resultados numéricos emanam para a esquerda - assim como a linha Ascendente "emana" a partir do centro da Grande Mandala para o tempo-espaço específico. O número mais distante à esquerda no resultado aritmético é análogo ao ponto ascendente).
            No instante que seu lápis toca o papel você estabelece o ponto. Por sequência de movimento no tempo-espaço você desenha a linha a partir daquele ponto. O ponto então é a fonte da linha enquanto representação. A polaridade é representada aqui: sua vontade e mente se impõem sobre as substâncias materiais do lápis e papel; o pensamento de desenhar a linha é sua ação subjetiva; o desenho é a ação objetiva que resulta na manifestação da linha. Dos dois instrumentos, o lápis é masculino, pois sua substância é qualificada para fazer a marca; o papel é feminino, pois sua natureza é “receber” a impressão da ponta do lápis e refletir a representação de sua ideia. Por correspondência, você é (nesta ação) Deus; o lápis e o papel são matéria e a linha é o resultado específico da ação de sua vontade sobre a substância material; por correspondência novamente – como Deus Pai-Mãe (Imaginação e Vontade criativas) utiliza o material universo para manifestar arquétipos – e aqueles arquétipos podem ser “humanidade”, “gato”, “carvalho”, “colibri” (humano, quadrúpede, vegetal ou pássaro). A ação da ponta do lápis no papel é análoga à ação da polaridade cósmica no e através do universo material, resultando em uma manifestação especializada.
            Assim como vocês, uma “emanação” do Deus Pai-Mãe, são fontes de suas expressões, o ponto que você desenhou é a fonte de todas as linhas, planos e (teoricamente) sólidos que podem emanar dele. Como tal, ele é o símbolo abstrato da infinita subjetividade; daquele ponto linhas podem ser desenhadas em espaço infinito e tempo infinito. Pois as “vidas” linhas é a evidência de que o ponto existe; pois estarmos sustentados em manifestação é evidência de que nossa fonte existe. A linha é então o efeito específico de uma causa específica; o desenho dela é um processo de quimificação; a medida dela é o exercício de sua vontade para manifestar em perfeição o arquétipo em sua mente. (Uma linha indefinida é a manifestação não atingida do arquétipo, uma linha medida é especificamente, definidamente qualificada como uma representação arquetípica). De fato o ponto é um “ponto preenchido”; abstratamente, e agora estamos lidando com abstrações, ele simboliza a composição pura de todas as dimensões. Dê à palavra “arquétipo” muita atenção e pensar – ela poderia ser objeto de estudo para toda uma vida, pois é uma das mais fascinantes e iluminadas palavras.
            O ponto agora é visto como sendo – enquanto símbolo abstrato – o arquétipo da fonte: Deus, causa, essência subjetiva, núcleo, semente, etc. A linha, correspondentemente, é a primeira emanação da fonte potencial, pois nenhuma outra linha foi, até o momento, desenhada a partir do ponto. Quando a linha é completa por medidas específicas, ela é plenamente “quimicalizada” e qualificada, pelos seus atributos de adequação a emanar planos e sólidos. Assim como a criança, “emanada” pelos seus pais, possui os atributos de tornar-se um pai em si quando amadurece; sua maturidade, de corpo e emoção, o qualifica para uma identidade específica – vida parental – conforme a medida da linha especificamente o qualifica.
            Aplicado ao sujeito deste discurso, o ponto é a ideia arquetípica do artista. O desenho da linha é a ação de manifestar o arquétipo. A linha medida, completa, é o trabalho terminado agora qualificado pelos seus atributos para ser visto, escutado e aproveitado – em resposta. Na Grande Mandala Astrológica, o centro é a Divindade inerente do arquétipo humanidade; a linha desenhada para a esquerda é o ascendente abstrato, Áries, o “Eu sou” de todos os seres humanos. No horóscopo do humano individual o ponto central é sua “chispa divina”, sua porção individualizada da divindade, a quimicalização da qual é a linha desenhada horizontalmente para a esquerda a partir do ponto; seu contato com a circunferência do círculo é seu nascimento físico – a objetivação de seu “Eu sou”. Como há apenas um raio em qualquer círculo, esta “linha ascendente” é a composição das quatro identidades humanas básicas: macho e/ou fêmea; complementação (e estes dois compreendem a identidade sexual); gêneros masculino e feminino (estes dois compreendem as identidades de serem Causadores e Efeitos das Causas ou Expressores e Reatores).
            A palavra “Arte” corresponde à palavra “Artista” assim como a palavra “Humanidade” corresponde à palavra composta “Homem-Mulher”. Há muitas formas de expressão artística assim como vários tipos de seres humanos. Arte, enquanto palavra arquetípica significa: a manifestação dos arquétipos através do tom, cor, substância, palavra, movimento e dos elementos abstratos do rimo e design. “Humanidade” significa: manifestação, neste planeta de uma ideia arquetípica do Deus Pai-Mãe; ela é expressa através das duas aparências sexuais macho e fêmea nas “dimensões evolucionárias” de não realização e de relativa realização dos potenciais Divinos. Agora, as emanações da linha – enquanto em si mesmo, uma “fonte”:
            Assim como o número arquetípico é “um”, há apenas um centro e um raio em todo horóscopo – assim, consequentemente, dois diâmetros. O artista possui – manifestamente e/ou interpretativamente – um dom artístico que é sua habilidade de perceber arquétipos e manifestá-los. Mas pode haver muitas formas pelas quais ele pode exercitar seu “Eu sou” artístico – seja por participação em diferentes formas de arte ou em diferentes fases de uma forma particular. Há em astrologia três expressões das quatro identidades básicas previamente mencionadas. Em cada uma dessas doze identidades, o humano expressa seus potenciais especializados; em cada uma dessas fases dos dons artísticos (os gêneros do qual, masculino e feminino, são manifestantes e intérpretes, respectivamente) ele expressa seus potenciais artísticos especializados; o dramaturgo expressa através de várias formas de arte dramática e a atriz aprende a interpretar vários tipos de papéis; o musicista lida ou pode lidar com diferentes instrumentos e formas musicais; o arquiteto e o escultor aprendem a adaptar diferentes substâncias para dar corpo às suas ideias. O artista preenche o "raio da roda" com cada demonstração satisfatória de seus dons manifestativos e/ou interpretativos; o indivíduo humano preenche "seu raio" quando se torna consciente dos princípios espirituais envolvidos em seus padrões de experiência e expressa aquela realização em sua vida diária. Como o "fim" de tudo isso é simbolizado? Consideremos a realização do ponto - o círculo:
            A beleza inefável de um círculo perfeito é o símbolo supremo da realização espiritual e do cumprimento perfeito dos potenciais da humanidade. Subsequente à realização e ao cumprimento potencial, vem a liberação perfeita, no tempo perfeito, a partir do encadeamento à forma. "Forma" pode significar um relacionamento especial, um padrão específico de experiência em uma oitava particular, um estado específico de manifestação ou um ciclo evolucionário específico. Para ilustrar:
            Desenhe em um papel a próxima forma geométrica mais simples - um triângulo equilátero. Os pontos médios dos lados são os três pontos mais próximos ao centro (da figura). Conforme você se move ao longo do triângulo a partir de qualquer um desses três pontos você se afasta do centro até que você chegue ao próximo ângulo. Faça o mesmo com o quadrado - os pontos médios de cada lado são os quatro pontos mais próximos ao centro e os pontos angulares os mais distantes. Todas as figuras com três ou mais lados e fechadas simbolizam cristais - elas representam estados estáticos. Há movimento ao redor delas, apesar da ritmicidade nas figuras equilaterais não ser constante em relação ao centro. Quanto a isso, o círculo difere das demais figuras fechadas. Trace um ponto em qualquer local da circunferência de um círculo perfeito e perceba que a distância entre o ponto e o centro se manteve a mesma o tempo todo. Assim, a "perfeição espiritual" do círculo e sua perfeição estética (um contínuo e perfeitamente controlado "fluxo" a partir de um dado ponto) representam o ideal da expressão rítmica e harmoniosa dos potenciais e suas realizações perfeitas em Amor-Sabedoria.
            Como o triângulo equilátero - o "Grande Trino" - é o próximo símbolo espiritual mais significativo (devido à "proximidade" de seus pontos médios ao centro), temos nele a figura da perfeição relativa do ser humano exercitando de tempos em tempos, os melhores e o mais elevado de seus atributos. Sendo humano, ele não fica naqueles pontos altos (aqueles próximos ao centro - e eles guardam analogia com os pontos médios do diâmetro horoscópico); ele tende a afastar-se de seu Centro em direção ao próximo ângulo - que simboliza uma nova identidade para posterior liberação de poderes de Amor-Sabedoria. Estude os quatro trinos genéricos, cada envolto em um círculo, com os pontos médios de seus lados conectados ao centro - para representar "proximidade". Os pontos angulares estando distantes do centro estarão em cada um dos símbolos, o poder trino da identidade (cardeal) a ser expressa e realizada a partir do amor (fixo) e sabedoria (mutável). O envolvimento dos três pontos médios por um círculo menor representa o "retorno" da individualização (Adão e Eva) à unidade (Paraíso) pela redenção através do Amor-Sabedoria (Cristo). Continuando esse processo de criar círculos menores da mesma forma poderia eventualmente, de um ponto de vista simbólico abstrato, reduzir o círculo original a seu ponto Central original, as conclusões da experiência de um arquétipo manifesto: “da Subjetividade através da Objetividade e de volta à Subjetividade". Para concluir:
            O círculo não é um "símbolo químico". Ele é a manifestação da perfeição inerente de uma expressão quimicalizada. Ele é o ideal da objetivação perfeita e da realização perfeita. Ele é a infinidade do efeito perfeito, enquanto o ponto central é a perfeição infinita do arquétipo. O círculo da roda horoscópica é o arquétipo humano a ser manifesto (Maestria); ele é a verdade, a divindade e a beleza - o poder inspiracional - da obra de arte completa. Ele é a consciência refinada e sensibilizada do artista enquanto agente de manifestação - intérprete - e "intérprete" significa "professor" assim como "performer" - e a plenificação de seus dons sagrados enquanto instrumento espiritual. O ponto central do círculo é a fonte divina da manifestação - em todos os planos, oitavas e ciclos.