terça-feira, 23 de abril de 2019

CAPÍTULO LXI - A ASTROFILOSOFIA DISCUTE O GOVERNO – PARTE I

Governo é o “funcionamento do Universo em conformidade com os Princípios Cósmicos”. É a Única Diretiva que impele a causa da ação criadora e epigenética no Cosmos, além de organizar e harmonizar seus efeitos. Uma vez que é a expressão da Vontade Única, o governo cósmico é uma Autocracia arquetípica; é a raiz-padrão pela qual todo Logos, microcosmicamente, ordena vida de sua manifestação e é aquilo que, em termos humanos, designamos como autoridade. Regência, em qualquer oitava, é um aspecto do Poder Diretivo simbolizado pelo Sol; todos os poderes astrais são derivados dessa Unidade.
O desenho simbólico a que chamamos “Aspecto de Quadratura”- um quadrado assentado sobre sua base horizontal – é o arqui-símbolo da congestão comprimida de potenciais. É feito de duas expressões da vertical dinâmica e de duas expressões da horizontal receptora; representa a sobreposição de diâmetros opostos em aparente disputa entre si. Uma congestão tem o efeito de um puxão gravitacional para baixo, inibição, supressão de possibilidades de expressão, retardando a ação expressiva e responsiva. Ela representa uma intensificação da tendência para a inércia que, depois de certo ponto, é a morte da forma enquanto veículo do Espírito. Isso descreve o “reino do Diabo”, o domínio da expressão pela supressão, a submissão do “avanço para frente e para o alto” ao “retrocesso para trás e para baixo”. O Espírito, Poder Solar, em sua expressão bi-Una de Amor-Sabedoria, busca sempre, na consciência humana, derrotar e desintegrar este “reinado da sombra”.
O símbolo do governo como Ordem Cósmica ou Arquetípica é a diagonal do quadrado. Esse é o quadrado simetricamente balanceado se apoiando em seu ângulo inferior. Cada uma de suas quatro linhas é uma diagonal simétrica, pelo que cada uma se combina vertical e horizontalmente. Nisso se pode ver a diferença, como símbolo de consciência, entre esse quadrado e o quadrado estático. Por conseguinte, a sequência rítmica é demonstrada pelo percurso em torno de sua circunferência. Quando a cruz dos diâmetros horizontal e vertical é acrescentada a este quadrado, cada uma das duas linhas forma, em uma bissecção, um par de ângulos opostos, ficando assim objetivada a polaridade de cada ponto angular.
Por esta quádrupla bissecção de ângulos, o Masculino-Feminino do Macho-Fêmea do Imaturo-Maduro do microcosmo de qualquer arquétipo é externado. Estamos lidando com seres humanos enquanto individualizações do arquétipo “Humanidade”, de modo que este quadrado diagonal com sua estrutura transversal, retrata, macrocosmicamente, o governo desse arquétipo e microcosmicamente a “consciência do governo” passiva e ativa do ser humano individual.
Agora vamos transferir este símbolo para a oitava do simbolismo astrológico; ponha o símbolo circular do Sol no centro (na junção das linhas da cruz) e os símbolos de Áries, Capricórnio, Libra e Câncer nos pontos angulares da esquerda, de cima, da direita e de baixo, respectivamente.
O resultado é o Grande Mandala sem seu círculo envolvente – o “esqueleto” da Humanidade como um arquétipo evoluinte – não evoluído – e da pessoa humana como um microcosmo evoluindo epigeneticamente. Discutiremos os “problemas” de “Governo dos humanos pelos humanos” conforme se classifique nos três tipos básicos de “ser governado”.
Considerando-se a essência dinâmica de Áries-Marte como a “personalidade” do arquétipo humano encarnado, somos sensíveis aos “agentes controladores” representados pelos outros três pontos estruturais, os quais são todos, genericamente falando, mais femininos que Áries. A polaridade feminina do Cosmos é aquela que recebe e molda as essências dinâmicas. Como Áries, através de Marte, “explode suas energias a partir do ponto Ascendente”, Capricórnio-Saturno, Libra-Vênus e Câncer-Lua representam os organizadores e coordenadores das expressões vitais. “Aquilo de que Áries provem” – como a “coisa encarnada” neste mandala – é o parentesco (paternidade-maternidade); pelo parentesco é gerada a forma individualizada, e pôr esse mesmo meio a forma é sustentada, protegida e alimentada. Portanto, Câncer-Capricórnio, como parentesco arquetípico, é o primeiro coordenador-governador da expressão do indivíduo. O primeiro desses, contudo, é Câncer – o símbolo da Matriz e o arqui-símbolo da fonte sementeira. Esta, em termos de grupo, é o governo para a perpetuação e preservação das formas; é a mais primitiva forma de governo de grupo. O ser humano primitivo estava inteiramente submisso ao poder diretivo dos mais velhos da tribo, e seu significado não era o de indivíduo, por si mesmo, mas o de fator da unidade tribal. Era valorizado pela tribo pela sua capacidade física, e sua força, suas proezas, sua habilidade combativa e habilidade reprodutora eram as marcas do seu valor para a vida da tribo. Sua identidade era tribal, sua virtude era a obediência à direção dos mais velhos. Em relação a essa diretiva estreita ele era uma “criança”, e como criança permanecia até que, no devido tempo, começou a se dar conta de uma consciência de si mesmo como indivíduo. Aceitar inquestionavelmente, irrefletidamente, a direção externa era se submeter ao princípio paternal de governo, secular ou religioso. E isso se aplica tanto àqueles que habitavam as selvas há milênios atrás como às pessoas da atualidade.
Os governos que estimulam, em seus súditos, atitudes tais como adesão cega, irracional, em qualquer forma, a conceitos tais como “Mãe Igreja”, patriotismo fanático, dependência da opinião grupal e sentimento grupal para sua guia, preconceito e ódio raciais ou, ainda, aceitação habitual de subvenção do governo para sustento material são aqueles que funcionam como moldes externos de uma consciência muito limitada. Eles têm seu lugar de destino maduro e evolutivo e, COMO TAL ELES SÃO BONS. Mas nenhum governo desse tipo foi, é, ou pode ser um padrão permanente para qualquer grupo porque sua função essencial é coordenar e focalizar um primitivismo coletivo. A evolução serve, para transcender o primitivismo em qualquer oitava. Câncer-Capricórnio é uma estrutura arquetípica; é o símbolo da segurança para o subconsciente da Humanidade. Ele simboliza “aquilo que foi”, e as pessoas primitivas (ignorantes, temerosas) se apegam a um externo estabelecido (pais, lar, igreja, conceito nacionalista, etc.) para se sentirem seguras. Um governo congestionado nessa função desencoraja o esforço e o pensamento individual; e nisso está o caminho para a ditadura, que é o “governo paterno”, à qual foi permitido se converter na ferramenta de uma consciência de poder negativa intensamente concentrada (de um indivíduo, de um grupo de indivíduos afins ou nações). Nos tempos primitivos as pessoas prosperavam e progrediam sob a administração protetora de seres humanos relativamente sábios, mas o mesmo tipo básico de governo nas mãos de pessoas sem princípios e sem coração tornava tirânica a qualidade paternal – pelo que os resíduos coletivos de ódios, a cobiça e as crueldades passavam a se concentrar na ambição de poder do governante que personificava tal nação. Esse tipo de governo se torna DEGENERADO a partir do momento em que o bem-estar das pessoas em geral é desrespeitada, ou quando os atributos da iniciativa e expressão individual são enfraquecidos pela prodigalidade. Demasiada proteção e liberalidade estão em desarmonia com os princípios governamentais, tanto quanto o estão a supressão cruel e o desrespeito aos direitos humanos. Ninguém evolui quando copia, em sua vida pessoal, o exemplo degenerado de maus governantes; essa pessoa simplesmente acrescenta poder negativo ao “poder para o mal” do governante e ao mal coletivo, congestionado, de seus semelhantes. Aceitar subvenção nacional ou governamental, como uma “ajuda oportuna”, e usá-la para seu propósito (“prosseguir novamente”) está de acordo com o princípio desse tipo de governo; se habituar a aceitar ajuda do “Governo Pai-Mãe” é macular os incentivos para crescimento, realização e maturidade (Pais – governantes de seus círculos familiares – vocês estimulam em seus filhos a dependência? Ou vocês estimulam o exercício da razão e habilidades para que seus filhos possam desenvolver, ritmicamente, o amadurecimento da confiança própria?). É verdade que alguns adultos são tão condicionados que sentem não terem razão para existir a menos que alguém esteja dependendo deles; preferem “se sentir fortes por comparação” que tentar estimular as habilidades individuais do mais fraco. Subconscientemente, eles tentam compensar um complexo de culpa (responsabilidade não cumprida). Ressentem-se de qualquer tentativa da “pessoa mais fraca” de desenvolver seus próprios potenciais, e são, a este respeito, idênticos a políticos que prometem dar tudo em troca de um voto. Pense sobre isso em termos das condições atuais. Ser proeminente e altamente posicionado, ser chamado maravilhoso, grande, amável, generoso, etc., é o tudo e o fim daquilo que chamam felicidade; e eles são condicionados – e desejados – de dar qualquer coisa em pagamento por este tipo de aprovação. Uma família formada por pais que se assemelham a isso, uma nação dirigida por tal governante, alcançarão quase o mesmo tipo de resultados: um filho parasita, inseguro, por um lado, e cidadãos parasitas, inseguros e irresponsáveis, por outro.
A polarização desse tipo de governo é Capricórnio, a vibração de Saturno, símbolo do tipo de governo aristocrático. Sua palavra-chave é a Hierarquia – é o primeiro tipo ampliado em muito maior difusão de expressão por muitas classes, as quais congestionadas e não regeneradas, resultam em desonra de casta. Uma vez cultivado, ele proporciona a manifestação da cultura e do refinamento (pelo menos externamente), e o exercício da abundância para propósitos artísticos e educativos. O vício deste tipo de governo é visto na ênfase que ele dá às suas superficialidades (ancestrais, antecedentes da família, dinheiro), como padrões pelos quais o indivíduo é valorizado. A política ou lema “Enquanto parece certo é bom” é típica da avaliação superficial desse tipo. A ambição de conseguir um posto na hierarquia toma o lugar da aspiração de realizar o auto melhoramento; o apego aos padrões formais cristalizados de conduta, de pensamento e de crença pode designar a identidade de um “membro de bom nível”, mas dificilmente isso pode ser considerado a identidade de uma pessoa que exercita seus valores e capacidades individuais. Saturno, a condensação da matriz, caracteriza esse tipo através da tendência a resistir, obstinadamente, às mudanças necessárias; a conservação das normas estabelecidas se torna um propósito tão fixo que as melhorias benéficas a todos ou são ignoradas ou desprezadas. A prática da riqueza, por longos períodos de tempo, congestionando-se em pontos específicos da hierarquia estimula a corrupção porque desencoraja o exercício individual.  O “fluido” monetário – sangue vital ou intercâmbio prático – é um meio pelo qual os seres humanos podem conseguir certos benefícios usando sua inteligência e suas faculdades individuais. Quando é legado através de gerações em esfera relativamente limitada, ele se converte em uma prova de destino maduro, para os indivíduos tomá-lo e usá-lo para proveito próprio sem fazerem esforço, e deste modo debilitando-se, ou torna possível uma compensação material, de natureza de destino maduro, para aqueles que estão condicionados a usá-lo sabiamente em melhoramentos, em progresso, e no bem-estar de si mesmos e dos outros. Contudo, um autêntico aristocrata não precisa antecedentes familiares, isso e aquilo de linhagem, de tanta riqueza herdada, e de tal-e-tal “posição” para demonstrar o refinamento de sua natureza e de suas inclinações. Ele honra e embeleza qualquer “posto que Deus ache adequado para ele”; sua influência é a de refinamento sobre todos que o conhecem. O governo aristocrático que usa o público, mas que se esquece de que também tem um padrão de serviço a cumprir para esse público, perverte o melhor de suas qualidades. Ter as vantagens de educação e não as usar para uma maior ampliação do bem; ter acesso a grandes somas de dinheiro e se congestionar de trivialidades; desdenhar do semelhante em razão da diferença de posições não é aristocracia, mas somente uma sombra de sua máscara. E a máscara sorri – cínica e repulsivamente. A aristocracia dá à humanidade a oportunidade de observar sua consciência coletiva de separatividade em ação.