terça-feira, 17 de dezembro de 2013

CAPÍTULO XXIV - RETROGRADAÇÃO PLANETÁRIA

Retrogradação planetária, conforme estudado em astrologia, é uma atividade periódica, rítmica, que ilustra o grande princípio evolutivo de recapitulação.
            No uso mundano corrente a retrogradação é considerada sinônimo de retrogressão, que implica um processo de declínio, degeneração, em direção inercial, involução ou contra-evolução. Esta interpretação, contudo, é erroneamente usada quando aplicada à vida na forma ou ao movimento orbital dos planetas. É verdade que, quando um veículo da manifestação cumpriu o propósito para o qual foi criado, sua substância, sua forma e sua função orgânica entram em processo de retrogradação; a retirada das forças de Vida inicia um processo de desintegração do veículo. Mas, a essência da Vida, que não pode morrer ou desintegrar-se, aguarda um veículo novo e adequado à sua expressão, além de experiências evolutivas adicionais.
            Quando observamos e consideramos em sua inteireza o grande princípio de recapitulação reconhecemos que ele é um padrão ou método pelo qual a Natureza garante a perfeição do processo evolutivo. Aquilo que foi alcançado em uma etapa de um dado ciclo é recapitulado ou revisado na retomada da nova atividade para que a integridade completa dos poderes orgânicos possa ser estabelecida. Quando a recapitulação se completa, aquilo que foi estabelecido torna-se a base daquilo que está por estabelecer-se; o programa evolutivo do organismo ou entidade torna-se desse modo contínuo, sem buracos ou interrupções. Este princípio é a grande segurança da Natureza para um processo evolutivo completo e perfeito. No plano da mentalidade humana, este princípio se revela na faculdade da memória; no plano do funcionamento orgânico ele se revela no padrão cíclico do nascimento, crescimento, maturidade e transição a que se submete toda entidade evoluinte em cada encarnação ou ciclo de manifestação. Max Heindel faz maravilhosa exposição deste princípio em seus escritos sobre os grandes períodos que marcam a involução e a evolução do nosso planeta Terra e da vida que ele nutre. No começo de cada novo período, o período anterior é recapitulado para que a integridade da função possa ser estabelecida.
            Na atividade da oração o princípio de recapitulação é defendido por muitas escolas espirituais. Repassar na memória os pensamentos, palavras e atos do dia que se finda não significam que o aspirante anda para trás ou retrograda; ele repassa honestamente suas experiências em pensamentos, palavras e atos para destilar disso valor espiritual. Ele analisa, compara e avalia não somente seus pensamentos, palavras e atos, mas também seus motivos; quando se dá conta de que um motivo foi impuro, ele expulsa esse motivo da consciência pela compreensão; a clareza da compreensão tornar-se-á alquimicamente uma força do Espírito pela qual, no futuro, ele evitará cogitar sobre, e atuar com, essa particular motivação. Ele retrocede ao fazer sua revisão espiritual? Pelo contrário, ao fazer da revisão algo construtivo ele avança, mesmo que a recapitulação possa incluir um exame minucioso de algo muito desagradável – até repugnante – à sua delicadíssima sensibilidade. A palavra “reconhecimento” significa “conhecer de novo”, de forma que o reconhecimento poderia muito bem ser identificado como o propósito básico de todos os processos de recapitulação. O reconhecimento, pela recapitulação é garantido pela Natureza para todos os planos, modalidades e graus de consciência evoluinte.
            De início, um ponto deve ser esclarecido. A astrologia não ensina que os planetas de nosso sistema retrocedem às vezes. A ação retrógrada dos planetas é um movimento periódico aparente devido à rotação axial e orbital da Terra – não é real. Todavia, em virtude das mudanças relativas de observação – relativas no sentido de que os planetas na astrologia geocêntrica são observados zodiacalmente da Terra ao invés de o serem do Sol – cada um dos planetas parece recuar periodicamente em seu percurso zodiacal, permanecer estacionário por certo tempo, e então avançar novamente pela área retrocedida e daí para frente em nova área.
            Como a Terra e cada planeta têm a sua própria distância e velocidade orbital em torno do Sol, esses períodos de retrogradação e parada obedecem a um plano rítmico de sequência regular semelhante, por exemplo, aos períodos humanos de atividade consciente no estado de vigília e de atividade subconsciente durante o sono, ou do plano rítmico das mudanças de estações através da sucessão dos anos. Devemos lembrar que todo princípio ilustrado pela astrologia tem suas correspondências na vida do universo, pois este é a criação da Consciência e a Astrologia é o estudo simbólico da Consciência. A imagem de cada fator em um horóscopo natal humano é uma imagem do Princípio, ou Lei, revelado; se uma encarnação adicional se faz necessária para a evolução de um ser humano, então a encarnação é submetida às leis entendidas como Espaço e Tempo. A regulagem da hora, data e local da encarnação, que pode incluir o registro de um planeta “retrógrado” no horóscopo natal, diz ao interprete algo sobre a evolução de consciência da pessoa assim como o fazem seu signo Solar, signo Lunar, Ascendente, ou qualquer aspecto planetário.
            O mais pleno significado do Princípio de Recapitulação pode ser coletado considerando-se que a evolução da consciência é representada como um processo espiralar. Mudança é a única coisa constante a ser vista através da vida e a espiral representa o composto do “para o alto, para frente e sempre” que caracteriza todos os processos da vida. A involução, necessária fase preparatória tanto quanto a evolução, é uma parte do “para o alto” – exatamente como os estudos, lições e exercícios são a fase preparatória da formação de um talento artístico ou profissional. Em qualquer linha de esforço, ou expressão de vida orgânica, os programas e objetivos involutivos e evolutivos sempre contêm áreas periódicas de recapitulação, mas o começo da primeira recapitulação é sempre uma extensão do ponto inicial e cada recapitulação seguinte é uma extensão das anteriores que lhe correspondem. Assim se formam e se integram os elos de ligação; a espiral se forma com continuidade ininterrupta enquanto a consciência individualizada ganha consciência crescente de seu Eu através da experiência orgânica.
            Uma questão pode ser levantada sobre este ponto: o que dizer dos atrasados? Não estão eles retrogradando para a inércia? O fenômeno da consciência individualizada incapaz de acompanhar os passos dos companheiros da sua onda de vida deve ser considerado também sob um ponto de vista relativo. Esses seres se atrasaram ou adiaram seu programa evolutivo por um tremendo período de tempo, mas como foram individualizados em alguma época, devem algum dia retornar em consciência à sua fonte. Desde sua individualização com outros de sua onda de vida, eles prosseguiram por algum tempo no programa evolutivo – eles tiveram alguma experiência evolutiva. Por conseguinte, quando começarem novamente, sua recapitulação inicial irá impulsioná-los mais rapidamente do que avançaram em sua primeira tentativa. Essas entidades não estão “perdidas para sempre”; elas são canais para a Luz e a Vida do seu Criador como o são todas as outras; elas estão retrogradando somente em relação ao processo dos seus irmãos evoluintes. Elas estão tendo a experiência certa para elas, e terão sua individualização, recapitulações e passos progressivos no devido tempo. Lembre-se: na função orgânica e na consciência, a retrogressão ou retrogradação é relativa, não absoluta.
            Do ponto de vista da observação geocêntrica, o Sol e a Lua são sempre vistos em movimento “direto”; nenhum dos dois jamais faz a retrogradação periódica que caracteriza a ação aparente dos planetas. O Sol transita o zodíaco uma vez por ano, e recapitula sua posição natal a cada aniversário do indivíduo; a Lua, por trânsito, recapitula sua posição natal a cada vinte e sete dias e oito horas; por progressão, a cada vinte e sete anos e quatro meses aproximadamente. Movendo-se para frente a partir de sua posição natal, no fim de sua primeira volta ao zodíaco por progressão ela entra no segundo ciclo e recapitulam dessa maneira todos os aspectos formados ao nascimento, combinados com os fatores adicionais de um “arranjo” diferente de aspectos de planetas progredidos, trânsitos e eclipses solares.
            A recapitulação solar e lunar também é revelada nos padrões formados pelos eclipses solares e Luas Cheias deste modo: por exemplo, um eclipse solar ocorrido em agosto de 1952 nos 28 graus de Leo; uma Lua Cheia em fevereiro de 1954 nos 28 graus de Leo. Este padrão abrangeu dezoito meses, e a Lua Cheia recapitulou o eclipse. Em tal caso, os aspectos dados à Carta natal pelo eclipse fornecerão a nota-chave da experiência da pessoa durante esse subsequente espaço de muitos meses, e na ocasião da Lua Cheia recapitulante o astrólogo de mente espiritualizada fará bem em revisar a avaliação de sua experiência, destilar disso valor construtivo, e desse modo construir seu Corpo Alma. Os períodos caracterizados pela recapitulação de um eclipse solar por uma Lua Cheia geralmente cobrem um período de dezoito ou vinte e quatro meses; o eclipse solar de julho de 1953, no signo de Câncer, foi recapitulado pela Lua Cheia no signo de Câncer em janeiro de 1955.
            O Sol e a Lua revelam um movimento de retrocesso constante deste modo: o Sol, por precessão, move-se para trás através do zodíaco, podendo-se observar que as sucessões de eclipses, Luas Novas e Luas Cheias ocorrem em posições “contra-zodiacais”. Só os planetas revelam o movimento periódico “recuo-parado-avanço”.
            Todos sabem de casos de estudantes que foram reprovados na escola devido ao que parecia ser uma dificuldade insuperável com certa matéria ou fase de alguma matéria. A necessidade de tal reprovação não indicava que o menino fosse basicamente limitado, anormal, ou “mal”. Indicava sim que ele ainda não estava devidamente preparado para preencher o requisito dessa aprovação nessa matéria em particular. Portanto, já que lhe requeriam dominar esse aprendizado específico, era necessário deixá-lo recapitular voltando à fase anterior da matéria, estudando-a e assinalando-a novamente, e assim qualificando-se para o progresso por haver-se preparado.
            Nossa experiência de encarnados é escolaridade evolutiva. Assim como não podemos assimilar toda uma dada matéria de uma só vez, do mesmo modo não podemos penetrar em todas as fases da experiência humana em uma só vida. Tudo o mais à parte, o fato de sermos organicamente polarizados como machos e fêmeas impossibilitaria a experiência total. Todavia, em virtude de uma longa sequência de encarnações durante a qual podemos encarnar como macho ou fêmea, consoante a necessidade evolutiva e a exigência cármica, temos a oportunidade de cumprir todas as fases de experiências pertinentes ao gênero. Visto que a concentração de pensamento e de esforço é necessária para o êxito e realização de nossos talentos e esforços profissionais, usamos cada encarnação para nos especializar e poder focalizar a consciência, extraindo assim o máximo benefício e desenvolvimento do que fazemos no trabalho ou em outras atividades e esforços. No entanto, assim como a individualização da consciência exige eventual cumprimento evolutivo, do mesmo modo qualquer aceitação de experiência exige cumprimento. Muitas vezes o Princípio de Recapitulação deve ser utilizado quando, após aceitarmos e vivermos certa fase de experiência, deixamo-la por um instante para focalizar a atenção em outras fases. Aquilo que foi deixado em suspenso não foi esquecido; antes se permitiu que ele permanecesse adormecido, esperando ser assumido e resolvido no futuro. Aqui se encontra uma chave filosófica para o estudo interpretativo da retrogradação planetária.
            Retrógrado natal, permanecendo retrógrado por toda a vida: as condições indicadas pela casa regida por este planeta são de importância secundária para o cumprimento da presente missão de vida. Contudo, visto que todos os fatores planetários têm propósito espiritual e evolutivo e devem ser usados pela entidade, parece que alguma forma de cumprimento vicariante é indicada por este tipo de retrogradação. Em uma vida futura a plenitude de expressão significada por este planeta representará um fator principal da missão de vida. Na presente vida, o fator experiência representado pelo planeta e casa que ele rege é mantido em relativa suspensão, de modo que os fatores que envolvem a principal missão evolutiva para esta vida possam ser nela concentradas.
            Retrógrado natal, estacionário por progressão no fim da vida: é indicação de que a missão de recapitulação ativa será assumida na vida seguinte; o período de suspensão termina nesta vida, e a próxima encontrará a pessoa qualificada para reassumir, por recapitulação, aqueles fatores de experiência que foram mantidos em suspenso por várias vidas talvez; esse tipo de progressão indica que a pessoa assumirá um fator novo de grande significação na missão da próxima vida, sendo um que ele começou e interrompeu em alguma fase de sua vida passada; tal fator terá considerável conteúdo cármico, resíduo de um passado distante, pelo que talvez possam ser necessárias várias vidas para cumprir essa missão.
            Retrógrado natal, por progressão estacionária e depois direta nesta vida: indicação de que a missão de recapitulação ativa deve ser assumida na presente vida; termina o período de suspensão; a experiência representada pelo planeta torna-se o principal fator evolutivo da atual missão de vida quando o planeta desloca-se para frente em movimento direto a partir do período estacionário. O intérprete astrológico emprestará cuidadosíssima atenção à marcação de tempo do movimento direto progredido, relacionando-o com os aspectos planetários progredidos do momento, ciclo atual de eclipse solar, e com o quadrante da Lua progredida. Do ponto de vista evolutivo, este tipo de progressão planetária é um dos mais importantes, pois marca a segunda tentativa da pessoa nos assuntos relacionados à casa regida pelo planeta, e o que seja feito nos restantes anos desta vida a respeito disso criará muito carma obstrutor ou regenerador a ser utilizado no futuro. Este tipo de progressão marca um principal ponto evolutivo na história cíclica da consciência individualizada.

            Retrógrado natal, por progressão estacionário, direto, depois em conjunção com o radical: fim do período de suspensão e recapitulação subjetiva, florescimento de recapitulação ativa e expressão real, direta e criadora do poder planetário; participação direta no padrão de relacionamento e fatores de experiência representados pelo planeta, sua casa de regência e casa em que se posiciona. O aspecto particular ou fase da consciência anímica “alcança a si mesma”, e cada aspecto radical de qualidade regeneradora – sextil ou trígono – indicado pelo planeta promete uma onda de grande alegria. As quadraturas ou oposições apresentadas pelo planeta trarão provas nesse período de vida, mas, em termos de uma maior habilidade da pessoa de manejá-las fazendo uso de todos os recursos de poder espiritual para as necessárias resoluções. Quando um planeta está direto no radical, mas, torna-se retrógrado por progressão, e assim permanece, isto indica que esta vida assistirá a uma “remoção” dos fatores representados pelo planeta; isto parece indicar que a pessoa vai focalizar sua atenção, evolutivamente falando, em outros fatores. Se este planeta, retrógrado por progressão, alcança a conjunção com a sua posição radical na presente vida, isto indica cabalmente que os fatores planetários específicos não serão de grande importância na próxima vida.