sexta-feira, 4 de novembro de 2011

CAPÍTULO III - PLANETAS SÃO "PESSOAS"


       A identidade das relações por meio do estudo do horóscopo é um dos mais sutis e trabalhosos problemas com que o astro-psicólogo tem de lidar. A dificuldade reside no fato de que a realidade do relacionamento entre duas pessoas não é algo de carne ou de leis feitas pelo homem, senão da essência de sentimentos das duas pessoas entre si. Esta “essência de sentimento mútuo” nos casos de intensa atração ou inimizade é uma continuação de contatos estabelecidos em encarnações passadas e pode manifestar-se distintamente a despeito de idade, sexo ou relacionamento mundano. O ocultista sabe que um vínculo profundo entre duas pessoas não pode surgir no primeiro contato das mesmas. O primeiro contato foi feito no passado, e o relacionamento, quer seja, amor ou ódio, terá continuidade nesta vida como se nunca tivesse havido uma interrupção.
       Só existe um fim possível para qualquer relacionamento entre duas pessoas – e este é plenitude. Nenhum vínculo de ódio jamais é deixado “ao vento”. Tal fato negaria a Lei do Amor. Ódio é “amor ao contrário” ou “amor na contra mão” – é a consciência de contato com o universo, através de outra pessoa, voltada para “si mesma”. Até que se reinterprete essa expressão de energia em termos do Eu Superior, a consciência só poderá expressar aquilo que é negativo, destrutivo e não redimido.
       O que segue agora são alguns exemplos hipotéticos de relacionamentos e experiências que, sob o ponto de vista cármico, representam fontes de ódio, medo e cobiça. Elas se encontram nas vidas de homens e mulheres do mundo inteiro e em todas as épocas.
       O individualista original e criativo, em qualquer campo de empreendimento, representa uma ameaça à pessoa ortodoxa cristalizada. Estes protótipos podem ser descritos ou simbolizados por Urano e Saturno respectivamente. Urano pode temer e odiar Saturno porque este reprime e frustra sua liberdade; Saturno pode temer Urano como uma ameaça ao seu “status quo”. Quando Urano perde a liberdade ou quando Saturno perde a segurança, o resultado é o ódio. Até que cada um possa aprender algo de valor com o outro, o conflito permanece.
       As fases conflitantes da natureza feminina são ilustradas pela “mulher maternal” e pela “mulher namorada”. A velha luta com o macho da espécie, enquanto objeto de conquista acossado e desnorteado! A senhora Lua-Júpiter-Saturno desenvolve um implacável ódio por aquela sapeca senhorita Vênus-Urano, vendo nela uma ameaça à paz do lar e à vida respeitável. Esta última considera sua esforçada e deselegante irmã uma pobre antiquada que esqueceu o significado do romance.
       Um problema trágico – e há muitos – é representado pela interferência parental. A pessoa que no passado negligenciou oportunidades pode ser atraída carmicamente para parentes egoístas e possessivos. O parente, desconsiderando os anseios intrínsecos da criança, procura torná-la sua réplica ou de um parente admirado. Toda a experiência de vida da criança torna-se uma distorção que resulta em frustração, que por sua vez, se torna ressentimento e ódio ao parente. O egoísmo possessivo acaba por escravizar a criança; a vida do parente torna-se mais e mais “fixa” em sua realização compensatória através da criança. Outras fontes de experiência são ignoradas, as amizades tornam-se mais e mais insignificantes, e o resultado é a atrofia espiritual, mental e psicológica. O afeto, o companheirismo e o entendimento mútuo são descuidados, e o que poderia ter sido fonte de inspiração, entusiasmo e realizações converte-se em horror mortal. Ambos estão errados. A criança por permitir a outro viver a sua própria vida. O parente ao usar seu poder no sentido de dominar como motivo principal. Como as emoções negativas e dolorosas apoderam-se cada vez mais dessas pessoas, elas incapacitam-se para o bem em qualquer outra expressão na vida. E o que eles levam para as próximas experiências é melhor não mencionar.
       Se a validade, realidade e importância da experiência depende das reações da pessoa implicada frente a um fato, e como as experiências são manifestações das indicações do mapa, e do “intercâmbio” com outras pessoas, não é lógico interpretar os aspectos do mapa como pessoas? Na vibração anímica de outras pessoas encontra-se correspondências com algo em sua própria natureza, indicado em seu mapa astrológico.
       Se o aspecto é negativo (quadratura ou oposição), seu contato com a pessoa pode provocar reações negativas ou destrutivas. Você chamaria essa reação de “medo”, “inveja” ou “ódio”. E diria: “tenho medo daquele indivíduo”, ou “invejo aquele indivíduo” ou “odeio aquele indivíduo”. Isso é o que você diria, mas à luz da astrologia não é realmente o que você queria dizer. O que você quer dizer realmente é: “Aquele homem me faz lembrar algo negativo em minha natureza. Sinto que ele pode me fazer mal, um mal que me recordo já ter feito a outra pessoa. Minha sensação é de medo. Sei que ele fez algo que eu devia ter feito, mas não fiz. Sinto inveja. O mal que ele faz lembra a minha própria maldade no passado. Sinto ódio”.
       O homem ou mulher que descreves como o teu pior inimigo é a pessoa cujo horóscopo, de algum modo, corresponde ao seu pior aspecto. Essa pessoa pode ser qualquer um: pai, mãe, irmã, irmão, filho, esposo, esposa, amante, ou patrão. Do mesmo modo que um diapasão faz vibrar em uníssono outro do mesmo tom, assim também os negativos do seu “inimigo” estimulam-te os negativos que vêm à sua consciência dolorosamente. Utilize essa reação dolorosa como um barômetro de sua própria condição espiritual.  Ela te indica uma lição muito importante. Serve para te mostrar a necessidade de dares um passo muito importante em teu desenvolvimento. Teu “inimigo” não é teu inimigo. Ele ou ela são seus mestres. Aprenda de ti mesmo através dessa pessoa.
       Mas não pare aí. Ao identificar seus “inimigos” por meio de suas reações e experiências com eles, você possuirá  uma  perspectiva diferenciada de si, podendo utilizá-la  em seu círculo de relações para reconhecer como você se apresenta como um “inimigo” aos outros pela expressão dos seus próprios aspectos negativos! O próximo passo é tornar-se “amigo” de todos. Na medida em que expresse cada vez mais as possibilidades positivas indicadas em seu mapa, se tornará mesmo um "imã" que atrai a expressão do bem latente nos outros.
       Conforme você estimula o bem nos outros, por seus constantes esforços no sentido de regeneração, eles automaticamente se conscientizam do próprio bem que albergam. Eles gostam de você e admiram-no. Sentem-se à vontade e felizes em sua companhia. Sentem-se em sua melhor disposição: mais corteses, mais atenciosos, mais corajosos, mais fortes. Dizem que lhe amam, que você é amigo deles. Isso não traduz exatamente o que realmente querem dizer. O que querem dizer é que o Eu Superior deles brotou-lhes na consciência por meio do contato com você. Eles não “amam você” realmente. Simplesmente tornaram-se mais conscientes do seu próprio Deus interno, através do qual expressam reações harmoniosas e construtivas.
       Suas reações a qualquer pessoa constituem o único fator que determina o seu relacionamento com elas. Use seus “positivos” para transmutar seus “negativos” e conquiste seus “inimigos” eliminando o “inimigo” que existe dentro de você mesmo.
       O artista no ser humano tem desde épocas passadas, interpretado em versos, canções e quadros, seu conceito de vida como uma Grande Batalha. Toda escritura conta a história, em símbolos e alegorias, dos ataques violentos da Forças das Trevas à Fortaleza da Luz; a contenda do Diabo contra Deus pela alma do homem; a incessante fricção entre o Mal e o Bem; o tentador buscando eternamente destruir aquilo que o coração humano aspira.
       Batalhas, confrontos, e combates até a morte, fases desse conflito, são mostrados em cada horóscopo. O aspirante tem dentro de si o campo sobre o qual as demandas do destino se confrontam com sua natureza pessoal, impulsionando-o para frente e para o alto. Para triunfar ele precisa alcançar uma compreensão, a mais clara possível, da natureza do inimigo que habita em seu subconsciente. Este inimigo tem como ajudantes de campo as quadraturas e oposições, mas seu Quartel General é a décima segunda casa. É lá que os planos são arquitetados, as armadilhas preparadas; os grilhões são forjados e as malhas da ilusão tecidas. A luz do dia raramente penetra nessa caverna, pois o inimigo e seus lacaios preferem trabalhar na escuridão. O aspirante só pode dissipar a sombra com a luz do “auto-conhecimento”.
       Desde que cada experiência representa um triunfo ou derrota temporários na luta e, uma vez que a experiência surge pelo contato com outra pessoa – ou pessoas, aqueles que servem para estimular o regente aflito ou os planetas na décima segunda casa do aspirante, precisam ser vistos e estudados com a percepção de que objetivam as mais íntimas possibilidades do aspirante para se conquistar (conhecer). Tais pessoas podem ser qualquer um: os pais, um filho, um amigo, uma namorada, a esposa ou o marido podem representar esse padrão. O aspirante é considerado como tal devido aos seus passos em direção ao Impessoal, e usando seu horóscopo como um “mapa” da Senda da Vida, é necessário que ele compreenda e estude seus relacionamentos do ponto de vista de suas reações subconscientes a eles e não pelos aspectos mundanos dos mesmos. Conforme transmuta suas reações, ele melhora a qualidade dos relacionamentos.
       Sugere-se o seguinte método: estudar detalhadamente as condições de sua décima segunda casa sob o ponto de vista das conjunções maléficas, quadraturas e oposições. Então, relacionar na medida do possível os Temas das pessoas que tiveram influências deletérias em sua vida. Estudar particularmente os horóscopos que têm qualquer planeta ou Ascendente em conjunção com o regente aflito ou com os ocupantes da sua décima segunda casa; fazer um resumo mental de suas experiências com essas pessoas e conscientizar-se dos aspectos negativos em sua própria natureza que foi estimulada pelo contato com elas. Sem levar em conta a severidade e condições dolorosas das experiências, deve buscar liberar todo o ódio. Dar-se-á conta de que cada uma dessas pessoas serviram para objetivar uma fase de seu próprio subconsciente negativo e não mais pensará delas como “perpetradoras do mal” contra si, mas sim como lições práticas para seu aprendizado e iluminação.
       O Sol aflito regente da décima segunda casa: O Poder é a chave para esta lição cármica. O aspirante abusou do poder no passado, pelo que nesta encarnação sofre abusos e injustiças da parte daqueles que possuem autoridade. Usou sua posição e influência para escravizar outras em certa medida e por isso deve aprender que o poder precisa ser expresso em termos de justiça e misericórdia. O pai ou um irmão mais velho, pode ser o instrumento usado durante a infância do aspirante para reparar o erro do passado. Mais tarde na vida os patrões, já que exercem autoridade sobre ele, podem chamar-lhe a atenção para esta lição de que necessita. O poder expresso em vitalidade física pode ser indicado de forma contrária, isto é, num corpo fraco e ineficiente, atraído carmicamente para um pai muito sujeito a doenças e debilidades físicas.
       A Lua aflita regente da décima segunda casa: Feminilidade é a chave para este desafio cármico. Representa nesta encarnação o momento de ajustar todo o destino irredimido que se originou quando o aspirante usava um corpo feminino; destino este, relativo às experiências domésticas, as oportunidades para desenvolver através dos sentimentos, uma faculdade maior de simpatia e ternura. A Lua simboliza a polaridade feminina da psique humana, e quer o aspirante seja homem ou mulher este aspecto cármico indica desordens e insuficiências nesta faculdade. “Dificuldades através da mãe” é a interpretação clássica das aflições à Lua. Neste sentido, a mãe do aspirante é vista como sua “inimiga”. Sendo este o caso, ele pode dar-se conta de que a influência dela em sua vida é igual à dele mesmo sobre outra pessoa em uma vida passada. Sua grande responsabilidade por ela nesta encarnação preenche aquilo que ele deixou de fazer no passado. Sua afeição por ela nunca é adequadamente correspondida, pelo que ele aprende o que significa negar o amor. Ele agora está preso às condições do lar porque tinha em vista fugir delas no passado. As mulheres o confundem, de modo que ele parece nunca conseguir entendê-las bem. Ele nunca tentou ser “verdadeira mulher” no passado ou tratou as mulheres com indiferença. O aspirante perceberá que as mulheres não são suas “inimigas”. Ele precisa, contudo, cultivar simpatia e compreensão mais profundas dos elementos básicos da “natureza feminina” se quiser redimir-se dessa condição cármica.
       Saturno aflito regente da décima segunda casa: O carma é repressão e o “inimigo” é a cristalização. As pessoas que representam esta posição são como que nocivas à vida do aspirante. Elas estimulam sensação de insegurança; conduzem-no a veredas de supressão e negação; bloqueiam (aparentemente) o fluxo de Vida. Através do relacionamento com elas é severamente disciplinado e por meio delas cumpre com suas responsabilidades mais profundas e atrasadas. Elas servem para recordar-lhe tudo em sua natureza que não é prático; elas o detêm na terra enquanto ele anseia por liberdade.
       Ele é individualista enquanto elas são obstinadamente conservadoras e mesquinhas; ele se inclina para a mística, elas são ortodoxas e observantes de formalidades; ele não dá nenhum significado particular ao dinheiro, elas interpretam tudo na vida em termos financeiros. A tendência e desejo instintivo dele é libertar-se delas e escapar dos grilhões de sua influência. A tendência permanecerá até que ele perceba que não pode escapar das suas legítimas responsabilidades; que deve aprender a utilizar inteligentemente as coisas da terra; que o dinheiro, ainda que não tenha poder em si mesmo, todavia é um meio de troca entre pessoas, e ele deve aprender a usá-lo apropriadamente. O aspirante filosófico deve compreender que não está preso a relações difíceis e desapontadoras que ele próprio não tenha criado, e tratará de dar o melhor de si mesmo nessas condições e aprender daqueles com quem se relaciona tudo o que existe para ser aprendido por ele.
       Netuno aflito regente da décima segunda casa: O inimigo é a decepção. Este “inimigo”, em razão de sua sutileza, é difícil de derrotar. A infidelidade, a traição, a confusão mental e a perversão constituem sua armadura. Os oponentes do aspirante que têm esta posição são dissimulados e furtivos, “não jogam limpo”. Pudera! O aspirante mesmo não jogou limpo no passado, e agora precisa aprender o que significa receber tal tratamento. Ele dizia uma coisa e fazia outra; pedia que confiassem nele e traia aquela confiança; usava as coisas espirituais – ou a pretensão do seu uso – como uma cortina de fumaça para o poder ou ganhos que almejava; traficava – não sabiamente, mas muito bem – com as forças estelares; deturpava e enganava. Os aspectos a este Netuno aflito representam os tipos de pessoas através das quais se efetua este retorno cármico. Uma pessoa pode influenciá-lo a um hábito destrutivo; outra pode participar com ele de uma maldade – e deixá-lo sozinho com a culpa de tudo; sua fé e seu mais profundo amor podem ser dirigidos a alguém que não merece uma grande consideração de ninguém. As duas melhores armas para o aspirante combater este particular “inimigo” são em particular: fé nos princípios espirituais e conhecimento. Com o conhecimento ele pode aproximar-se de um alinhamento mais perfeito com a honestidade espiritual – excelente corretivo para essa forma de condicionamento subconsciente que resulta em ilusão e decepção.
       O mesmo se dá com os outros estelares: Urano (desequilíbrio), Júpiter (extravagância e ganância), Vênus (possessão), Mercúrio (pensamento) e Marte (masculinidade e sexo). Cada um como regente aflito ou como ocupante da décima segunda casa indica certo grupo de pessoas que servem, embora inconscientemente, como nossos mais valiosos mestres.
       A mecânica do relacionamento proporciona ao estudante de ocultismo um perfeito “campo de pesquisas” para o estudo da alquimia. O intercâmbio de relações entre duas pessoas intimamente ligadas é o pábulo que qualquer das duas ou ambas, podem utilizar para “tecer o Dourado Manto Nupcial”. Do metal básico da mistura subconsciente de atrações e repulsões, cada pessoa pode destilar, por suas próprias transmutações, a essência chamada amor. O Grande Mestre recomendou-nos: “Amai aos vossos inimigos e fazei o bem àqueles que te perseguem”. Por quê? Porque Ele sabia que a reação de ódio ou de vingança cria um vínculo entre o que recebe e o que perpetra uma má ação, e que somente quando a reação é neutralizada pelo bem poderá o vínculo ser dissolvido.
       Quão freqüentemente, mesmo sem intenção, causamos dor àqueles a quem amamos, iludimos àqueles que poderíamos ajudar, e prejudicamos àqueles por quem alimentamos as “melhores intenções”! Existem muitas relações nas quais podemos expressar tanto nossos aspectos negativos como os aspectos positivos. Geralmente tais relações são as mais íntimas, aquelas em que o contato com a outra pessoa estimula vários aspectos de nossa natureza. O estudo comparativo dos horóscopos de duas pessoas próximas revelará o significado da relação entre elas – as harmonias, os problemas, e os meios mútuos para transmutação alquímica. A ciência estelar oferece uma chave à elucidação de mistérios. Nenhum aspecto da vida é mais ilusório que os relacionamentos; em nenhum outro quesito se faz mais necessário o olho perspicaz da abnegação para “ver através” das névoas do desejo, do medo, da inimizade e do conflito.
       Ao alcançarmos uma perspectiva impessoal e imparcial dos relacionamentos, compreendemos que termos como “marido e mulher”, “irmão e irmã”, “pai e filho”, e “namorado e namorada” são vestimentas que se usa para a identificação no plano físico. A essência dessas relações encontra-se no plano suprafísico, isto é, nos planos mental, emocional e espiritual.
       Esta essência, seu propósito e sua realidade, encontram-se nas conjunções mútuas dos dois horóscopos. Duas nuances do Espírito encontram suas expressões por meio do mesmo grau (aproximadamente), sendo os horóscopos, portanto, pregados juntamente como duas tábuas – sendo cada conjunção mútua como um prego. Exemplo clássico e perfeito de “alquimia através das relações” é aquele em que cada planeta implicado tem uma quadratura e um sextil. Cada uma das pessoas estimula a desarmonia latente que existe na outra, mas, cada uma delas tem dentro de si os meios para transmutar essa desarmonia. A casa em que se encontra a conjunção em cada mapa indicará, naturalmente, o departamento da vida no qual a relação será expressa e qual dos dois será mais diretamente afetado por ela. Um completo “quadro da desarmonia” é obtido ao combinar os aspectos de quadratura de cada mapa com suas posições no mapa da outra pessoa. Então o efeito de cada pessoa sobre a outra, por ruim ou infeliz que seja, é visto em sua plenitude.
       O “quadro alquímico” é obtido pelo mesmo método, no que tange aos planetas que formam aspectos de sextis em cada mapa e a posição e efeito no mapa da outra pessoa. Quando se “utiliza” o sextil, a quadratura em cada mapa é transmutada até certo ponto, o sextil no outro mapa é estimulado por simpatia e as casas envolvidas são estimuladas favoravelmente; o relacionamento, como um todo, melhora em qualidade e as possibilidades de se prejudicarem mutuamente são reduzidas. Pela contínua aplicação deste processo, a relação torna-se cada vez mais uma relação de amor – desde que cada um dos envolvidos ajude o outro a conscientizar-se de seu Eu Superior.
       Quando somente uma das duas pessoas “usa seu sextil” cria-se uma função astro-alquímica de natureza das mais difíceis e intensas. Quando isto acontece, o “mal” que o outro expressa pelo estímulo da conjunção mútua, é “enfrentado construtivamente” pelo alquimista na expressão do seu aspecto sextil. O “malfeitor” intensifica sua tendência negativa pela repetida expressão do seu aspecto de quadratura e o resultado é o enfraquecimento da capacidade para fazer o bem. Parafraseando um termo médico, esta condição pode ser descrita como uma “sextil-anemia” – ou anemia sextílica. Nada menos que uma tragédia. Isso é trágico para o malfeitor e uma condenação para o relacionamento. Chegará o momento em que a pessoa negativa não poderá mais responder às possibilidades do seu sextil, e o relacionamento, enquanto troca entre duas pessoas, não mais pode se sustentar. O relacionamento se dissolve e cada um segue o seu caminho. O alquimista prossegue na expressão de uma vida superior enquanto a outra pessoa enfrentará os resultados de suas malfeitorias.
       Na medida que as relações se complicam por vários aspectos mútuos, podem complicar-se também na expressão destes aspectos. Podem ocorrer duas ou três conjunções mútuas, uma das quais pode ser aflitiva, outra benéfica e outra mista. Semelhantes relações prosseguem por anos e anos – ou vidas e vidas. Além disso, uma vez que nenhuma vida se resume a um único relacionamento significativo, cada um desses aspectos em uma mapa representa relações com outras pessoas. Alguém que tenha de lidar com um relacionamento complexo, para melhor entendimento pode estudar suas trocas com outras pessoas, representadas por seus vários aspectos. Ele pode aprender com cada uma delas – e deve – se quiser criar uma relação plenamente harmoniosa. As pessoas representadas pelas conjunções mútuas benéficas são aquelas por meio das quais “ele se sintoniza” com o seu melhor e por meio das quais compreende mais claramente como contribuir para o relacionamento que contém muitas condições mistas. Seus trígonos simbolizam expressões do seu Eu Superior – as pessoas que refletem seus trígonos, mostram-lhe sua melhor contribuição para qualquer relacionamento.
       É interessante notar que as casas ímpares do horóscopo terminam na décima primeira casa e são designadas “casas dos relacionamentos”, e que a décima primeira casa é a “Casa dos Amigos”. Desde a primeira até a nona casa nós expressamos as relações “pessoais”, “fraternais”, “parentais”, “conjugais”, e “pedagógicas”. Então a essência cultivada, destilada de todas as relações é mostrada pela nossa capacidade de expressar a décima primeira casa.
       O amor sem paixão, afeição sem possessividade, auxílio e encorajamento sem abuso, cooperação sem dominação nem subordinação; diversões saudáveis e não prazeres loucos; simpatia sem sentimentalismo negativo; trocas mútuas sem qualquer perda da liberdade mútua de pensamento e ação – tais são os atributos de toda relação harmoniosamente praticada. À essência desses atributos chamamos Amizade, o impulso para a Fraternidade Universal.
       Em virtude da décima primeira casa, representar nossos impulsos mais altamente espiritualizados com respeito ao relacionamento, ela pode ser estudada como um dos “barômetros espirituais” do horóscopo. Qualquer outro problema de relações pode ser solucionado na medida em que a décima primeira casa seja “benéfica”. Todo problema irmão-irmã, pais-filhos, e marido-mulher podem ser resolvidos até certo ponto pela aplicação dos impulsos da décima primeira casa expressos harmoniosamente.
       Pode-se dizer então que a Amizade é a panacéia para as “feridas do relacionamento”.
       Essas “feridas” são as frustrações daquelas qualidades essenciais peculiares a cada tipo de relacionamento. As relações fraternais ou irmão-irmã experimentadas durante a infância e os anos de formação representam o primeiro passo em direção à plenitude da décima primeira casa. Na intimidade da vida doméstica e guiados pelos pais, meninos e meninas aprendem a cooperar, compartilhar e desfrutar os prazeres em grupo. As reações mútuas entre irmãos e irmãs e seus pais constituem os elementos básicos de suas tendências nos relacionamentos. Naturalmente, quando as relações fraternais são repletas de discórdia, medo e ódio, na maturidade as realizações posteriores muitas vezes são distorcidas e inibidoras da plenitude.
       Muitos homens e mulheres passam dificuldades e desarmonias no casamento devido aos negativos subconscientes oriundos de suas relações fraternais na infância. A competição pelo favoritismo dos pais, a rivalidade em talentos e conquistas, as aversões, os ressentimentos e todas as outras formas de conflito, se não transmutadas podem muito facilmente ser, e geralmente são, transportadas para padrões conjugais e paternais, causando fracassos em relacionamentos futuros.
       É evidente que as condições variam de mapa para mapa. Uma pessoa pode ter a “terceira casa difícil” e a “sétima casa afortunada”. Em outras palavras, suas experiências na infância com os irmãos e/ou irmãs podem ter sido muito infelizes e sua companheira de matrimônio pode ser a maior bênção de sua vida. Contudo, se mais tarde ele transfere para o seu matrimônio aquelas reações sombrias, poderá não responder à ajuda que sua esposa possa lhe dar.
       Outro indivíduo pode desfrutar de um companheirismo do tipo mais harmonioso e produtivo com seus irmãos e irmãs. Não obstante, no casamento enfrenta as suas maiores provações. Todavia, em virtude das relações harmoniosas na infância, ele sabe muito mais sobre o significado da convivência. As imagens do seu relacionamento são pintadas com Alegria, Companheirismo, Dar-e-Receber, Confiança Mútua e coisas do gênero, de forma que por meio da expressão desses poderes espirituais ele lida bem com os seus problemas conjugais.
       Nenhum estudante de astrologia precisa suportar dor e sofrimento por anos e anos em razão de seu relacionamento infeliz com o irmão ou irmã. Essa infelicidade é resultado apenas de uma coisa: da expressão contínua de um aspecto negativo da terceira casa. Conforme esse aspecto negativo seja transmutado, o relacionamento melhora e a dor é neutralizada. O relacionamento fraternal é, de todos, o único que pode ser mais diretamente convertido em Amizade. Uma vez que geralmente não envolve os elementos possessivos da paternidade e nunca envolve as trocas sexuais do matrimônio, a relação contém muito mais do elemento liberdade.
      Em uma situação, o relacionamento fraternal é particularmente importante, do ponto de vista psicológico. Esta diz respeito à experiência da responsabilidade cármica da pessoa em relação a um irmão ou irmã mais jovem ou menos evoluído. Neste caso o relacionamento nos planos internos torna-se o de pai para filho, e as reações negativas da pessoa mais idosa podem ser transmutadas mais eficazmente por meio dos impulsos paternos-maternos do que por meio da décima primeira casa. Em outras palavras, os impulsos paterno-maternais constituem o “caminho de transcendência”, ou da “redenção do carma”. Uma séria lição de paternidade é indicada por tal condição – seu cumprimento libertará a pessoa para expressar a verdadeira paternidade com muito mais êxito. Em virtude de sua qualidade sutil e ilusória, este tipo de “paternidade cármica” geralmente contém muito sofrimento em sua expiação, mas seu cumprimento resulta numa grande recompensa em sabedoria e fortalecimento espiritual – o que, em seu todo, representa vantagens para a pessoa no relacionamento com os seus próprios filhos.
       A queda e fracasso nas relações pai e filho, sejam reais ou esotéricas, deve-se mais ao egoísmo e possessividade dos pais do que a qualquer outra coisa, de maneira que em nenhuma área na vida o ponto de vista impessoal se faz mais vitalmente necessário. Nenhum pai ou mãe pode ser “bom parente” – no sentido espiritual – a menos que os atributos da amizade sejam expressos no relacionamento. Deve haver reconhecimento do valor intrínseco e tendências do filho. Deve haver disciplina e orientação, mas em termos das necessidades da criança. Nenhum pai ou mãe é bom quando faz da vida do seu filho uma realização vicária de suas próprias frustrações. O pai que é amigo guia seu filho para a melhor expressão do seu próprio padrão de vida.
       Observe sua décima primeira casa e procure sua “chave da Amizade”. Esta é o planeta que: ou é o regente não aflito da décima primeira casa, ou aquele que forma o melhor aspecto com o regente. Os planetas que se encontram na décima primeira casa indicam condições que são interpretadas através da amizade, mas o regente é a chave para a expressão da amizade e fraternidade.
       O regente da décima primeira casa pode ter muitos aspectos, harmoniosos ou não. Neste caso, contudo, se um planeta não aflito forma um bom aspeto com o regente, tal planeta representa puramente um canal de “transmutação-de-relação”. Este é o planeta que se aplicado, pode anular os obstáculos e desfazer o emaranhamento de qualquer problema nos relacionamentos. Representa o melhor que você tem a oferecer no intercâmbio espiritual com outras pessoas.
       Combine a vibração deste planeta com a do signo na cúspide da décima primeira casa e com a vibração do regente deste. Esta é à base de sua “Casa da Amizade”. Ela mostra um composto de como você ama seus amigos, o que deseja fazer por eles, o que pode fazer por eles, e o que eles vêem de melhor em você.
       As pessoas identificadas, por aspectos mútuos, com os trígonos nas condições de sua décima primeira casa são aquelas que estimulam a sua mais profunda capacidade de amar. É através delas que você estabelece contato com o melhor do seu próprio ser e expressa o que há de mais puro em você em todas as relações. Através delas é que você reconhece com clareza a Fraternidade Universal.
       As pessoas identificadas, por aspectos mútuos, com as quadraturas ao regente da décima primeira casa são “inimigos de suma importância”. Elas externam ou objetivam suas reações que frustam ou destroem a amizade. Em virtude dos impulsos transcendentes da décima primeira casa, os aspectos maléficos (que representam frustrações e dificuldades) podem manifestar-se como ódios, temores, e conflitos intensos. Toda relação em sua vida é manchada ou desvirtuada na medida em que essas aflições permaneçam não transmutadas. Nenhum estudante de ocultismo ou de astrologia deve ignorar essas “advertências” do horóscopo.
       Concluindo, aqui vai um exemplo que ilustra o inter-relacionamento Astro-dinâmico - "Planetas são pessoas". Para melhor entendimento, expomos um exemplo bastante simples.
       Duas pessoas se conhecem na maturidade da vida, e se estabelece de imediato uma amizade profunda e feliz entre elas. Cada uma tem uma quadratura e um sextil ao regente da décima primeira casa, e o contato é representado pela Lua progredida em trígono com o regente da décima primeira casa de uma delas, o qual está em conjunção com qualquer planeta na décima primeira casa da outra pessoa. Em outras palavras, o relacionamento entre as duas “floresce sob as melhores condições”.
       Cada pessoa reagiu, durante muitos anos, a todas as fases do padrão de sua décima primeira casa, e a força comparativa, naquele período de vida, exercida pelas influências do sextil e da quadratura foi um teste perfeito para essa amizade. Na medida em que o aspecto negativo de uma pessoa seja expresso, será dada à outra, oportunidade de transmutação; na medida em que ambas respondem à quadratura, a amizade pode deteriorar e romper-se; e na medida em que cada pessoa transmuta estes aspectos negativos, a outra pessoa será “elevada” espiritualmente.
       Este tipo de relacionamento representa a oportunidade perfeita para a prática da alquimia. As inclinações negativas do relacionamento podem ser neutralizadas pelas expressões mais elevadas de ambas as pessoas unidas amorosamente.
       Existe expressão de amizade mais perfeita?