Livre tradução de: http://rosanista.users4.50megs.com/library01/siaeng68.htm
Da fonte de sua imaginação o autor de peças
escolhe aqueles elementos do espectro da personalidade e experiência humanas
que sejam apropriados a seu conceito de um tema determinado, e ele organiza aqueles
elementos de forma dramática a ser interpretada pelos atores, atrizes e todos
os outros participantes do teatro. Todas as formas de arte são representações
destiladas da consciência humana; obras de arte, como espelhos, refletem para a
humanidade representações intensificadas dela e de suas experiências. O escritor
lida com a expressão objetiva da emoção, experiência e consciência humana; os
dramas são apresentados e interpretados em termos de padrões de aparência,
personalidade, atividade e relacionamento objetivamente reconhecíveis. Atores e
atrizes em performance são microcosmos simbólicos do eu da própria humanidade –
cada papel desempenhado por um ator é simbólico de um fragmento da consciência
humana de identidade e existência nesse plano.
Portanto, nas criações de um verdadeiro gênio
como William Shakespeare foi (ou quem quer que tenha escrito sob aquele nome!),
uma qualidade variável de estratégia e compreensão artística tornou possível a
caracterização que reflete o arquétipo humano, localizado por nome, sexo,
período e nacionalidade, mas que realmente simboliza padrões universais da
natureza e experiência humana. Cedo ou tarde, todos nos confrontamos com
Hamlet, a Cordélia, o Otelo, a Lady Macbeth, o Romeu e a Julieta em nós mesmos.
Nós transbordamos ou rimos em resposta a estas – e outras – caracterizações
devido a algo em nosso conhecimento subconsciente profundo que é estimulado ao
vermos atores interpretarem as imaginações criativas de um grande dramaturgo. Nossas
próprias experiências – presentes ou passadas – são revisitadas de algum modo.
Memórias de sentimentos de alegria e sofrimento antigas, esquecidas há muito
vêm à tona. Nossa percepção (consciência de si individualizada em muitas
encarnações) é despertada, e o que vemos no palco somos nós próprios
condensados e focalizados pelas necessidades dramáticas do tema interpretado.
Somos homens e mulheres, todas as profissões, todas as nacionalidades, todos os
relacionamentos, todas as motivações e falhas, todas as alegrias e todos os sofrimentos.
O escritor, através dos princípios estéticos inerentes à arte dramática
criativa, e os atores, através dos princípios estéticos da arte dramática
interpretativa, recarregam nossa consciência de seres plenos, de nossa
identidade plena como indivíduos, e nosso relacionamento pleno com os demais indivíduos.
Estudantes de astrologia: preparem uma cópia do
Grande Mandala Astrológico, um círculo de doze casas com Áries no Ascendente e
os demais signos em sequência – trinta graus para cada casa; Sol, Lua e os
outros planetas nos signos e casas de suas dignidades. Medite sobre esse
mandala por um instante como o retrato simbólico composto da humanidade. É a
partir desse desenho e arranjo simbólico que derivam todos os horóscopos
humanos e ele representa o total daquilo que é interpretado, criativamente ou
de outro modo, em todas as belas artes. É a figura da consciência, identidade e
experiência humana. Agora, para aprofundar na arte dramática, “personalize” o
Sol, Lua e os planetas como personagens no Drama da Vida Humana; deixe sua
mente correr sobre o escopo dessas “personalidades” imaginando cada planeta
(focalizador vibratório) em cada um dos signos zodiacais, cada uma das casas
ambientais, cada qual aspectado (por conjunção, sextil, trígono, quadratura e
oposição) aos demais. Acrescente os fatores de ambos os sexos, todas as idades,
todas as nacionalidades, todos os períodos históricos e você vislumbrará o
tremendo espectro daquilo que constitui o grão para o moinho do dramaturgo. Você
e Eu somos nesse quadro – como somos, como fomos e como seremos enquanto nossa
identidade for “ser humano”. Você está agora atuando no papel que sua
consciência de vida criou. Humanos, em sua vida na Terra, são dramaturgos e
atores – cada um usa sua consciência para interpretar a vida.
A Arte do Teatro, mais diretamente que qualquer
outra forma de arte, torna possível o estimulo do coração humano às lágrimas e
risos. O choro e o riso são as duas formas pelas quais a vida torna possível
descristalizar as tensões e congestões do plexo solar. Em resposta às agonias
contidas, sofrimentos, saudades e desesperos na tragédia dramática somos
movidos a chorar em memória de nossas agonias e sofrimentos. Em resposta à
bufonaria, sátira e caricatura, nossos intelectos são “estimulados” de tal
forma a sermos amolecidos em riso pelas experiências que refletem nossos
absurdos, embaraços e obstinações. Na vivência do drama romântico (do tipo
final feliz) nos extasiamos com emoções intensas, amor profundo, aspirações,
esforços e a realização de ideais. O propósito oculto do drama trágico é
induzir sentimentos de simpatia pelos demais humanos – não a intensificação da
autopiedade. O da comédia e da sátira é descristalizar as congestões
relacionadas à autocorreção pomposa, hipocrisia e seriedade excessiva – para
nos fazer “cair do cavalo”. O drama romântico tem como proposito interno
intensificar nossa consciência do “tom, cor e projeto” de nossa vida – para
irradiar percepção de maior capacidade de amor, devoção, esforço e aspiração. O
“final feliz” das peças românticas é o simbolismo dramatizado da aspiração de
todos os humanos realizarem ideais e evoluir através da regeneração e transmutação.
O “final feliz” nos lembra da divindade da vida.
A poesia e nobreza da dramaturgia Shakespeariana
eleva um espelho imenso no qual a humanidade pode se enxergar. Apreciemos
algumas caracterizações Shakespearianas enquanto representações de “pontos
focais” da natureza humana e padrões de experiência humana relacionando-os com
simbolismo astrológico simples e básico:
Romeu e Julieta: do ponto de vista reencarnacionista, este drama seria muito mais
verdadeiramente trágico em tom e efeito, se os dois “amantes desafortunados”
permitissem que suas aderências cristalizadas aos preconceitos das famílias
impedissem ou desintegrassem sua união amorosa. O “Romeu e Julieta” em cada
humano é o que anseia pela polarização total chamada de Casamento Hermético;
mas essa “união interior do eu com o Eu” só pode ocorrer pelo cumprimento dos
padrões de relacionamentos através do amor: As “casas dos Montéquios e dos
Capuletos” constituem as “imagens petrificadas” do preconceito familiar e da
posição social representados astrologicamente pelo diâmetro Câncer- Capricórnio
e aspectos congestionantes entre a Lua e Saturno. Todos derivamos nossa
encarnação de um padrão familiar ao qual somos atraídos pelas leis do carma e
da simpatia vibratória. Entretanto, cada um deve, em seu tempo, descristalizar
as congestões desse padrão, de oitava a oitava pela mais pura e individualizada
expressão de amor. Romeu transpassa paredes para estar com Julieta; esse
transpassar é Urano descristalizando ou transcendendo os limites impostos por
Saturno, símbolo da “congestão das formas”. Personalizando um pouco – Romeu e
Julieta foram situados temporalmente, evolutivamente falando, para provar seu
amor mútuo; seus desafios foram através da inimizade, rivalidade e preconceito
de seus grupos familiares. Embora eles morreram, sua tragédia foi amenizada
pela sua devoção mútua – ao invés de medo quanto ao resguardo da “imagem da
família”. Todos uma hora ou outra temos a oportunidade de uma encarnação na
qual podemos provar a sinceridade de nossas aspirações e ideais cardíacos mais
elevados. Para fazer isso, temos que usar os poderes representados
abstratamente pelo diâmetro Leão-Aquário para transcender as fixações de
Câncer-Capricórnio. Permanecer fixos em Câncer-Capricórnio é retroceder nos
poderes evolucionários que trabalham para a liberação e progresso. A poesia
luminosa da cena da varanda representa a pureza radiante do ressurgimento do verdadeiro amor; Romeu
e Julieta amavam-se desde uma encarnação passada assim como amamos nosso eu
ideal através de todas as nossas encarnações. A beleza inspirativa da peça –
enquanto poesia – tipifica a radiação interna que acompanha o reconhecimento de
nossos ideais.
Rei Lear: este drama é a tragédia do julgamento corrompido por ganância por aprovação
– tragédia dupla pois quando a verdade é descoberta, os negativos interiores
estão muito profundamente arraigados para serem contrabalançados por esforços construtivos
ou regenerativos. A constatação da hipocrisia e desonra das duas filhas mais
velhas, que ele havia supervalorizado, e a sinceridade e fidelidade de
Cordélia, que ele subestimou e rejeitou, levou Lear a reagir com tal excesso de
auto repulsa que acabou enlouquecendo. Astrologicamente, parece que Lear é o
retrato de “Júpiter aflito”. Ele baseou sua estima favorável às suas filhas
mais velhas sob os protestos de devoção e afeição – indicativos de que uma
insinceridade em sua própria natureza serviu de contraparte à falsidade delas. A
ambição delas por terras, dinheiro e maridos de alta posição serviu de
contraparte para sua ganância por aprovação. Nós podemos – e o fazemos –
lamentar o testemunho da tragédia do demente irracional que corta o coração em
seu excesso de auto repulsa, pois nós também somos movidos pelo desejo e ganância
de clamar pelo falso e rejeitar a verdade. A constatação de tal equívoco causa
um dos mais terríveis tipos de desilusão, o tipo que pode desintegrar nosso
autocontrole se formos incapazes de aprender a partir da experiência da desilusão.
Lear adorava sua falsa imagem, sincronizada em grau com a falsidade de suas
duas filhas. Como podemos ser Lear, cabe a nós exercitar as contrapartidas para
os padrões negativos de Júpiter por discriminação, sinceridade e afastamento
dos símbolos de crenças e compensações subconscientes. Cordélia personifica a sinceridade
da autoanálise – o saber do que é verdadeiro e real. Quando desprezamos
Cordélia, nos escravizamos a imagens falsas e decepcionantes; quando amamos e
valorizamos Cordélia, recusamos o falso e nos vinculamos ao puro e verdadeiro.
Otelo: Este estudo dramático da destrutividade do ciúme pede uma pequena consideração
psicológica. Nunca – em qualquer sentido da palavra – somos ciumentos de outra
pessoa. O ciúme é auto imposto e baseado na inferioridade real ou imaginada que,
por sua vez se baseia na não realização de um potencial, ou alguma faceta
obscura de auto avaliação. Ao personalizarmos Otelo por um instante, podemos abstrair
que o mesmo pode ter sentido inferioridade decorrente de sua cor de pele negra,
particularmente em relação à sua esposa branca, Desdêmona, que verdadeiramente
o amava. Iago simboliza a esperteza e duplicidade comuns decorrentes de auto justificação
– o desequilíbrio no exercício de auto honestidade. O assassinato de Desdêmona
por Otelo simboliza o “assassinato da consciência” que cometemos motivados por racionalizações
e justificativas negativas, nesse caso assassinamos a verdadeira autoavaliação.
Pelo exercício dessas racionalizações negativas atribuímos verdade a mentiras e
nossos passos se mostram confusos até cairmos. As qualidades de nobreza que
Desdêmona amava em Otelo representam as virtudes nos seres humanos que inspiram
amor e honra; mas Otelo, cego pelo seu negativo interior, não pôde perceber e
valorizar sua verdade. Iago simboliza a inimizade de Otelo consigo mesmo
enfatizada pela mentira – representando Desdêmona como sendo infiel. Otelo sob pressão
de seu negativo psicológico preferiu acreditar na mentira. Pressionado além de suas
capacidades pela pressão interior ele assassina quem ele mais amava – a verdade
de seu casamento com Desdêmona. Marte, enquanto co-regente de Escorpião, é a
ação destrutiva e mortal pela qual expressamos nossos negativos escorpiônicos profundamente
reprimidos – os níveis e áreas de desejos e poderes emocionais não transmutados.
A salvação de Marte é transmutação pela expressão em ações construtivas e
inteligentes. Otelo se traiu duas vezes: ao dar ouvidos às sugestões de Iago, e
colocando em ação aquilo que representa seu desejo de “matar” aquilo que Iago o
influenciou a acreditar. Um homem nobre, merecedor de amor e honra, joga tudo
fora ao focar em seu eu irreal ao invés de fazê-lo em sua Realidade. Nós “matamos”
quando colocamos em ação crença em uma mentira a nosso respeito. Um tema
realmente trágico.
Cleópatra: A morte de Cleópatra por suicídio não neutraliza o poder da peça Antônio e Cleópatra como exemplo de
drama altamente romântico. Cleópatra, enquanto personagem feminino, simboliza a
combinação dos elementos Sol e Vênus na natureza humana. De acordo com a representação
histórica e Shakespeariana, ela foi maravilhosamente abençoada com atributos de
beleza física, charme, inteligência, cultura e estratégia – uma mulher tão
consciente dos poderes interiores que viveu sempre em termos de amplidão. Ela possuía
enorme riqueza – e a utilizou de forma irrestrita. Ela tinha grande capacidade
para amor – e se entregou ao amor realmente e completamente. Quaisquer fossem
suas limitações não havia nada em sua natureza que fosse cruel, irrelevante,
sórdido ou vulgar. Uma grande atriz – como Katherine Cornell – pôde projetar
essas qualidades de caráter e personalidade de forma que a audiência experimentou
uma recarga de desejo e aspiração de “viver grandemente” em termos de riqueza,
poder, beleza, cultura, inteligência, estratégia ao invés de continuar uma vida
de ignomínia e degradação pela captura. Cleópatra escolhe acabar com sua vida
pelas próprias mãos; simbolizando AQUILO que na natureza humana que quer
aprender a viver em termos de dignidade e auto respeito. Alguns de nós se
arrastam de tempos em tempos, por medo ou sentimentos de inferioridade; mas não
nos gostamos por isso e cedo ou tarde nos rebelamos contra o negativo interior.
A “Cleópatra em nós” simboliza nosso desdém pelo irrelevante e malicioso; “ela”
nos faz ansiar pela experiência vívida buscada com coragem e confiança em nossas
habilidades. Todos temos talentos, ambições, aspirações e desejos; a vibração do
Sol – enquanto regente do signo real de Leão – é o que usamos como poder de autodeterminação
na depuração de “pequenezas de pensamentos e sentimentos”.
Beatriz e Benedito:
Muito Barulho por Nada é uma das mais agradáveis e deliciosas das
comédias. Ela apresenta de forma viva e brilhante a “antiga história da batalha
dos sexos” – fonte de muito o que é apresentado em todos os tempos no drama
cômico. As posturas, truques e aparelhos que homens e mulheres apresentam em relação
entre si são representados pelo movimento anti-horário do diâmetro horizontal
Áries-Libra do Grande Mandala. Estes dois signos representam a polarização da individualidade
expressiva da humanidade – enquanto “macho” e “fêmea”. Cada um dos dois signos
desse diâmetro simboliza facetas da personalidade peculiares à masculinidade e
à feminilidade, mas juntos formam um diâmetro; eles parecem ser “diferentes”,
mas cada um complementa o outro. O drama cômico referente a esse assunto torna possível
reconhecermos de forma saudável nossa polaridade subjetiva a partir do riso.
Humanos são inatamente bipolares – tivemos todos experiência do sexo oposto ao
que nos manifestamos presentemente. Ao reconhecermos que “sexo oposto” é simplesmente
nosso “eu subjetivo” podemos apreciar e aproveitar nossos “eus ocultos”
conforme somos retratados no palco cômico. Na risada relaxamos os sentimentos
subconscientes de tensão e quando rimos, gargalhamos e gritamos aos truques dos
atores e atrizes comediantes que estão interpretando o – eventualmente – ridículo
jogo do homem e da mulher em relação entre si, atualizamos nosso ponto de vista
em relação à polaridade humana. Beatriz e Benedito são os protagonistas da
humanidade destinada a se apaixonar e adquirir experiência juntos – independente
de preconceitos bobos, falsa autoestima e “imagens de hesitação”. A vida
trabalha continuamente para nos colocar frente a frente para nosso
desenvolvimento mútuo e cumprimento dos potenciais simbolizados por
Áries-Libra. Benedito é Marte que vê o charme e amabilidade de Vênus em
Beatriz; Beatriz é Vênus que precisa do “beijo de Marte” a fim de despertar
para a realização clara de seu valor enquanto mulher. Há um pouco de Benedito e
Beatriz em cada um de nós – podemos lutar e argumentar por um tempo, mas cedo
ou tarde Benedito-Marte e Beatriz-Vênus trazem o jogo – de nossa experiência de
relacionamento – a um final feliz pela sua união.
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