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terça-feira, 20 de dezembro de 2016
CAPÍTULO LIII – FILMES
O desenvolvimento de filmes como arte para entretenimento é
um dos fenômenos mais marcantes da atualidade. Ele trouxe drama, comédia,
música, cor, dança, viagens, notícias, avanço educacional e uma pronunciada
influência cultural, nas suas melhores formas, para a vida de milhões de
pessoas que de outro modo poderiam nunca experimentar essas coisas. Estamos
interessados neste discurso não com o desenvolvimento técnico, mas com a
significância oculta dos filmes agindo assim como seus efeitos sobre as mentes
e consciências das pessoas de hoje. Como em qualquer outra arte, há os
pioneiros que ousaram fazer brilhar as trilhas em direção a um avanço cultural
mais extenso. Então, há aqueles trabalhadores que adaptam as apostas dos
pioneiros e as desenvolvem para uma escala maior e mais perfeita com o passar
do tempo. Há ainda aqueles que não estão particularmente interessados ou mesmo
conscientes do avanço cultural que "dão ao público o que ele deseja"
em termos de manter aquilo que foi estabelecido como padrão de valor de
entretenimento. O último grupo é aquele que mais conspicuamente "alimenta
a tendência escapista do público"; os dois primeiros servem para melhorar,
ampliar e regenerar o gosto e apreciação do público, sendo eles que na maior
parte são responsáveis pela mais alta qualidade do valor artístico encontrado
nesse trabalho.
Muitas vezes se refere aos filmes como "um mecanismo
de fuga", uma "panaceia" que serve para ajudar as pessoas se
esquecerem de si e de seus problemas. Tal interpretação mostra uma falta de
compreensão. A arte do filme não é essencialmente um mecanismo de fuga mesmo
que algumas pessoas o utilizem como tal. Uma abordagem psicológica a essa
"idiossincrasia" da natureza humana deve recair sobre o fator humano,
não no fator filme. Os nomes dos "mecanismos de escape" são legião;
consideremos sua essência. Astrologicamente falando, a vibração de Netuno não
regenerado em combinação com qualquer aspecto de quadratura ou oposição é um
potencial para o mecanismo de fuga. Os aspectos de quadratura e oposição são pontos
de divisão interior, congestão de potenciais, tendências de desintegração,
pontos de ignorância, confusão de identidades, falta de autoconfiança e de
autoconsciência, inibição por medo-ameaça, etc. Netuno não regenerado é,
entre outras coisas, nosso poder de dar poder às ilusões. E, todos fazem isso,
de uma ou outra forma, até que a consciência se inunde com a luz da compreensão
e da percepção clara como resultado do aprendizado através da desilusão. Quando
sofremos de qualquer dessas condições negativas e não sabemos por que sofremos,
tendemos a identificar verdades interiores com algo, ou alguém, fora de nós.
Isso é essencialmente o que significa "mecanismo de escape" - a
tentativa de escapar da dor das congestões e confusões interiores.
Se pudermos falar de um objetivo comum que motiva a
humanidade, ele é certamente a realização de ideais. O ideal é a música que uma
vez ouvida se torna irresistível. A busca por realizar essa idealização é o
grande impulso evolucionário; nós seguimos essa "música", consciente
ou inconscientemente desde nossa primeira manifestação. A realização dessa
idealização é o cumprimento, através de expressão regenerada, de potenciais.
Até que nos tornemos plenos enquanto indivíduos, tendemos a ser impulsionados a
buscar este desenvolvimento em alguém ou em algo. Evolução depende de
expressão; "não expressar" ou "não fazer" é "não
evoluir". Mesmo uma pessoa que viva em termos do que chamamos
"criminalidade" está evoluindo, pois está expressando seus
potenciais; ele determina causas que reagirão como retorno cármico a partir das
quais ele poderá finalmente aprender mais sobre princípios. A posse de dinheiro
é para muitas pessoas o símbolo do maior bem da vida e nada as faz parar até a
realização desse ideal; entretanto, com o tempo, e através da experiência, elas
aprendem o que o dinheiro realmente é e então se condicionam a ajustar suas
consciências e ações de acordo com a clarificação do princípio em suas próprias
mentes. Gibran disse: "Mesmo uma fala hesitante fortalece uma língua
fraca"; cessar a procura pelo ideal é morrer em consciência; continuar a
expressar, enquanto meio de procurar por aquilo que é mais valorizado e querido
é evoluir.
Nossa resposta emocional à outra pessoa a identifica como
um símbolo para nós. Se a reação for de inveja, ciúmes, ódio, medo, etc., ela
serviu para estimular alguma de nossas congestões, confusões ou frustrações
internas; a pessoa que "odiamos" (desejamos destruir) serve, pelo
estímulo de sua vibração, para nos lembrar de um passado muito sério, enquanto
inadequadamente errado. Nós nunca "odiamos" outra pessoa; podemos
apenas odiar nossos fracassos e destruí-los a partir de uma expressão
regenerada. Se nossa reação ao outro for de harmonia, alegria, amor, admiração,
inspiração, etc., então, quem ou o que quer que seja serviu para nos lembrar,
pela sua vibração, de nosso próprio estado regenerativo interior. Isto explica
porque pessoas de fé amam plena e profundamente aqueles que possam destratá-las
e machucá-las; a ligação magnética do carma provê ao que ama "pábulo"
sobre o qual depositar seu amor. Nós amamos o ideal que o outro representa para
nós e aquele "ideal personalizado" é sempre um padrão de nosso
próprio profundo "sonho de perfeição". O antigo criminoso financeiro
bem sucedido pode ser um "ideal" para o mais jovem inexperiente, que
se comprometeu a exercitar ele mesmo no que denominamos "formas
criminosas". Assim, em suas ações antissociais, destrutivas e sem
princípios ele ainda expressa em seu impulso profundo a imitar o símbolo do
homem mais velho. Em favor dos que são ignorantes e pouco evoluídos, lembremos
que a pessoa que denominamos "criminosa" pode expressar uma devoção
profunda àqueles para quem ou com quem trabalha, e nessa sua limitação particular
de consciência pode lidar de forma honorável com aqueles de sua
"profissão", além de poder utilizar muito de seu "ganho
ilegal" para ser verdadeiramente de algum auxílio. Ninguém é inteiramente
um criminoso, pois todos estão buscando realizar um ideal. O parasitário
"fazer nada" é um tradutor pior da própria natureza que o criminoso
ativo. Um ladrão ou algo do gênero apresenta ao menos uma pequena quantidade de
coragem. O "fazedor de nada" não tem nem isso e por sua natureza ele
é um não contribuinte. Ele terá que realizar esforços intensificados no futuro
para compensar suas deficiências no presente.
Assim, a pessoa cujas potencialidades não sejam
satisfatoriamente expressas ou que se condicionou fora de linha com seu ideal
interior pode, e frequentemente o faz, se voltar aos filmes e aos personagens
que atuam neles, para obter vivências, apesar de contato artificial, com suas
ideias pessoais. Esse discurso não pretende criticar ou julgar o trabalho de
personagens específicos, a não ser uma avaliação pertinente a este assunto; mas
alguns personagens serão mencionados devido à sua personalidade marcantemente
arquetípica e sua aparência física, mais certo nível de habilidade técnica,
pela qual eles exercitam o poder do simbolismo vivencial no subconsciente de
grupos e indivíduos. Dos muitos que exerceram uma influência duradoura sobre a
subconsciência do público, consideraremos quatro homens, de tipos
contrastantes, que trabalham em filmes americanos e que representam exemplos
notáveis de personalidades arquetípicas simbólicas: Lon Chaney, Bing Crosby,
Rudolph Valentino e Clark Gable.
O Sr. Chaney, cujo trabalho no cinema mudo o qualificou
como o maior artista de performance e um dos maiores pantomimistas do teatro
americano, cumpriu, enquanto arquétipo, o impulso universal instintivo da
humanidade de transcender a monotonia da "experiência cotidiana".
Suas caracterizações foram, quase sem exceção, de corpos deformados e
personalidades transtornadas. Ele deu às audiências uma satisfação às suas
atrações subconscientes ao estranho e horrível. Suas apresentações resultaram
em grande impacto emocional, ele tinha grandes poderes projetivos e suas
melhores performances, como Quasímodo no Corcunda de Notre Dame, foram inesquecíveis
experiências dramáticas. Ele exemplificou o "inefável" pelo qual a
humanidade sofre em decorrência da malformação física e as terríveis
frustrações resultantes das necessidades normais ou naturais. Em suma, seu
propósito oculto foi trazer à audiência dos cinemas uma consciência do trágico
na arte dramática. Ele não foi um "entretenedor" de modo algum, seja
em propósito ou no tipo de apresentação. Responder verdadeira e reverentemente
ao marcante trabalho do Sr. Chaney significa uma amplificação da consciência de
paixão ao sofrimento humano. Seu propósito oculto foi direcionado para
estimular a compaixão no coração humano.
O autor percebeu há tempos que o trabalho do Sr. Bing
Crosby nas telas é uma das mais marcantes influências espirituais no mundo (1951).
Com muito da religião organizada de hoje em um estado de mutação e movimento, a
vibração e talento desse homem servem para trazer, através do som e da comédia
leve, um estímulo de longo e poderoso alcance, "gentilmente expresso"
ao ideal humano de bondade e amizade simples e naturais. Sua vibração, do ponto
de vista astrológico, é fortemente venusiana – tendo Libra como Ascendente, Sol
em Touro e Lua trígono Mercúrio e Vênus. E quem personifica mais perfeitamente
o ideal de não resistência construtiva? Para exercitar uma (possível) analogia
elegante, ele poderia ser chamado o "São Francisco de Assis do século
20", tão convincente são a bondade e sinceridade do arquétipo que ele
representa. Palavras são escritas e ações planejadas, mas ele em si tem a especialização
de consciência que projeta esta qualidade arquetípica. Outros atuam e cantam,
são agradáveis e merecem o respeito do público, mas há apenas um Bing Crosby, o
"trovador do mundo" e, arquetipicamente, o amigo de todos com que
entra em contato. Quem não amaria possuir o poder de amizade que ele simboliza?
Ele derrete os corações mais duros e, com sua completa ausência de tensão – suas são as performances mais naturais – ele simboliza a
personalidade não congesta, expressiva, bondosa, persuasiva mais que forçada,
com a percepção do bem que é inerente em todos. Se as pessoas em frente a suas
fotos reconhecessem que elas, enquanto indivíduos, precisam apenas emular este
arquétipo e descristalizar resíduos de malícia, inveja, ciúmes, impulsos
ferinos, etc., elas não apenas apreciariam suas performances ainda mais, mas
tomariam seu exemplo em seus corações. O Sr. Crosby personifica verdades da
natureza humana regenerada – seu trabalho é uma série de sermões através de
atuação e canto. Pessoas do mundo inteiro o amam poie ele representa seus
melhores potenciais interiores de coração e espírito. Você tem o Sr. Crosby –
nas telas – como uma "invenção da imaginação" completamente remota de
você e sua vida, ou você reconhece que ele sustenta um espelho que reflete
aspectos de sua própria gentileza, amizade e harmonia inatas? Pense a esse
respeito cuidadosamente.
O Sr. Valentino, um Europeu Latino de aparência
extraordinariamente fina, personificado em seu tempo como um ideal romântico
que suplantou em poder aquele de qualquer outro ator de seu tipo. A psicologia
poderia dizer muito em relação à possessão que este homem exerceu sobre o
subconsciente da mulher americana. É verdade, desconfortável possa ser falar,
que o miasma do puritanismo é uma influência de ruina sobre as mentes e
corações de pessoas por muitos anos, e sua influência desviou pessoas - milhões
delas – de realizarem o ideal do preenchimento espontâneo do relacionamento
amoroso. O arquétipo representado pelo Sr. Valentino foi a antítese completa dessa
"filosofia" falsa, materialista, corruptiva e anormal. Os fatores
compostos do temperamento Latino, somado à bela face e psique, acrescidos de
uma grande estratégia de projetar as intensidades do magnetismo sexual,
tornaram possível a esse ator efetivar um arquétipo focado da personalidade
masculina que representou, para o subconsciente feminino, um ideal de
complementação de amor. Sob o feitiço de sua vibração, mulheres reencontraram
sua feminilidade básica e instintiva – o desejo de serem conquistadas,
sobrepujado e transfigurado pelo poder projetivo do masculino estrategicamente
cultivado. Nada na vibração e personalidade desse homem foi
"americano"; ele representou a personalidade típica da graciosidade,
cortesia, habilidades românticas e o charme de uma civilização antiga. Pode ou
não ocorrer que outros na atualidade das telas hoje sejam comparáveis à
vibração e habilidade desse homem, mas ele foi, em seu tempo, arquetípico
daquilo que muitas, senão a maioria das mulheres procuraram como ideal de
parceiro amoroso. O senhor Valentino é uma referência respeitável do padrão
masculino e o que ele simbolizou deveria ser pensado e aprendido por muitos
homens que permitiram que seus conceitos de relacionamento homem mulher se
congestionassem pela falta de graça, ignorância, puritanismo – com seus
complexos de culpa e falta de percepção daquilo que é verdadeiramente belo na
mulher. Em suas performances nas telas, o Sr. Valentino prestou homenagem ao
ideal da beleza feminina. Por vaidade pessoal, muitas mulheres buscaram forçar
a homenagem dos homens por truques e artifícios, mas homens prestam homenagens
ultimamente a seus ideais, nunca a máscaras e paredes. Há uma lição a ser
aprendida pelos homens na consideração do trabalho desse ator. O propósito
oculto do trabalho desse ator nas telas foi para o homem perceber e ativar a
partir dessa percepção, a verdadeira beleza da mulher, para que a mulher possa
se tornar e seja a beleza que inspira.
O Sr. Gable, uma personificação do tipo Marte-Saturno-Mercúrio
é provavelmente a maior contraparte americana do que o Sr. Valentino
representou enquanto europeu. Ele é designado, e com justiça, o maior arquétipo
da personalidade masculina nas telas de hoje. Ele é todos os homens para todas
as pessoas – sua Lua em Câncer designa sua faculdade oculta de "alimentar
o inconsciente coletivo", e seu trabalho é acompanhado entusiasticamente
por homens e mulheres. É fácil pensar dele em suas aparições nas telas enquanto
cumpridor de uma forma de "sacerdócio" na medida em que um padre na
religião cerimonial é a personificação de princípios de vida. Por mais
fantasioso que pareça, o significado oculto do trabalho desse ator é
profundamente religioso, pois ele ativa no subconsciente das pessoas uma
percepção intensificada dos princípios masculinos da personalidade.
Os estudantes podem não ver conexão entre as palavras
"religioso" ou "espiritual" e as caracterizações terrenas,
usualmente não sutis, duras e que batem forte do Sr. Gable; mas sua pessoa e
vibração conferem um símbolo de plenitude de recursos, resistência,
autoconfiança, força física, bom humor genial e acima de tudo a qualidade da
coragem, que é a qualidade regenerativa arquetípica da qualidade da vibração de
Marte (Ele tem Marte fazendo quatro aspectos maiores, os trígonos com Júpiter e
Saturno, o sextil com a Lua e a quadratura com Urano). As pessoas tendem às
vezes a adoecer internamente com suas próprias futilidades, incompetências e
fraquezas, assim como com as das pessoas ao redor delas. O Sr. Gable chama
atenção para a realidade dos padrões de grande força física, mental e de
caráter. Sua vibração certamente ativa um padrão ideal, visto que coragem,
autoconfiança, resistência e poder físico são arquétipos de Marte, e como tais
representam qualidades que estamos buscando realizar em nós mesmos. Lua, Marte
e Saturno constituem a trindade planetária básica de cada ciclo evolutivo;
Lua-Saturno, enquanto regentes do eixo estrutural Câncer-Capricórnio,
representam o recurso parental do "Eu Sou" de Marte assim como seu
cumprimento em maturidade. Uma maturidade forte e bem integrada pressupõe um
Marte bem integrado, e as qualidades dinâmicas fortemente individualizadas do
arquétipo Marte que o Sr. Gable simboliza é uma essência vibratória que todos
nós, homens e mulheres temos como potencial a ser cumprido e expresso. O apelo
universal de suas encenações é representado na composição de dois padrões
distintos em seu mapa: Lua em Câncer, Saturno em Capricórnio, com o Sol e o
regente de Marte em Aquário em sextil com Urano; o posicionamento da décima
segunda casa de seu Marte-Ascendente (Leão interceptado na sétima casa) nos dá
uma chave para o significado oculto de sua vibração enquanto símbolo
arquetípico de personalidade.
Se você é um dos que se sentiram "compelidos" a
"encontrar-se através de filmes" e você quer libertar-se deste
aprisionamento simbólico, faça uma cópia de seu mapa sem os números dos graus;
isso é o que o autor chama de seu mapa "Luz Branca" - é o seu retrato
simbólico enquanto arquétipo. Estude-o com olhar atento para determinar quais
são seus pontos vibratórios focais (esqueça quadraturas e oposições neste
estudo) e faça algo para organizar sua vida de forma a poder dar expressão
plena e livre de seus potenciais vibratórios essenciais. Estude o trabalho do
ator ou atriz, cujo trabalho na tela o "fascina" e reconheça que algo
em sua personalidade ou vibração existe em você também. É seu direito e dever
encontrar sua verdade enquanto expressão individualizada do arquétipo humano.
Quando você começar essa reorganização, você se encontrará gradualmente liberto
da compulsão de identificar-se a partir do outro – e sua apreciação da arte
dramática e entretenimento ganharão sinceridade, pois você será cada vez mais
capaz de gostar e apreciá-la por ela mesma. A arte de viver é descobrir quem e
o que podemos realizar a partir de nós mesmos.
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