Livre
tradução de: http://rosanista.users4.50megs.com/library01/siaeng59.htm
Dançar é dar
significado, por movimentos corporais rítmicos, à consciência quanto à sua
participação no mundo da natureza. Dançar é fazer do corpo físico um
instrumento para a manifestação de arquétipos enquanto expressões de estados
emocionais e conceitos espirituais. Esses estados emocionais são pontos focais
de consciência espiritual de tal intensidade que "devem extravasar"
através da instrumentalização do corpo físico.
Conforme o homem se
aplicou a manipular as substâncias materiais para expressar, pela construção,
sua oitava da "proteção envoltória" para hospedar aquilo que ele
amava e adorava, assim ele dançou para expressar a vida interior daquilo que
seu corpo físico portava - sua consciência e coração com seus sonhos, medos,
amores, desafios, aspirações e compreensões. "Viver" não é apenas se
mover através do tempo e de um lugar para outro no espaço, senão se mover pela
evolução de ponto a ponto na consciência. Dançar significa identificar o ser da
pessoa com o movimento cósmico, com a ação alquímica da vida, por sequências
rítmicas das posturas corporais arquetípicas. Dançar não significa, como alguns
pensam, "representar a música". O homem movia seu corpo físico nesse
plano muito antes da invenção de qualquer instrumento musical; a música e a
fantasia são acompanhamentos vibratórios que servem para intensificar e clarear
as expressões do dançarino, que são por natureza, extremamente pessoais.
Entretanto, a dança essencialmente se expressa através de seus próprios méritos
- ela não carece de outros atributos para cumprir com seu propósito básico. A
dança é vista em todo o mundo material; personalizemos um pouco para estudar
alguns exemplos:
A dança natural das
expressões da vida é a sequência de desdobramentos que se segue desde o
nascimento e se conclui na transição. Todo fator manifesto no mundo natural tem
seu tempo de desdobramento de potenciais e quando aquele desdobramento é feito
sem interferências artificiais, a planta ou animal alquimiza sua forma física
através de todos os estágios de experiência de acordo com o ritmo de seu padrão
básico. Do mesmo modo com os seres humanos; temos um “padrão temporal"
para o desdobramento de nossos potenciais nos estágios de crescimento, mas as
qualificações individuais determinam variações no tempo para o cumprimento dos
padrões de experiências. Entretanto, humanos ou sub-humanos, todos dançamos
através dessas fases de desdobramento do crescimento natural.
Se pensarmos a
"dança" como os movimentos de um organismo físico, podemos ver sua
evidência em todos os lugares no mundo da Natureza. Os galhos de uma árvore se
movem respondendo às forças do vento que brincam através deles - dizemos que as
árvores estão fazendo belos movimentos com os braços. As ondas do oceano dão a
impressão de dançar pelo seu interminável movimento sequencial à beira do mar,
cada onda lembrando uma linha de dançarinos se apresentando no palco e se
retirando novamente. A Lua encena um longo "b ourree" (sereno e legato) através do céu noturno.
O golfinho esportivo salta da água em belos arcos; quem diria que ele não sente
a mesma "alegria de viver" que garotos e garotas sentem ao saltitar
rua abaixo. Saltitar e saltar são movimentos arquetípicos que simbolizam o
desafio à gravidade e, como movimentos simbólicos, eles representam
necessidades aspirativas. As curvas e o espiralar das folhas do outono são
belas ilustrações dos movimentos de dança - curvar, deslizar, lançar-se ao
alto, cair ao chão em repouso momentâneo e então novamente em novas espirais e
arcos. Nuvens ondulantes dançam em formas de eterno dissolver e remodelar
conforme o vento as atravessa no palco dos céus; nuvens constituem a
representação perfeita das mudanças alquímicas - silenciosas e suaves, elas se
dissolvem de um a outro aspecto em beleza incomparável de movimento. Uma
galáxia de flores de jardim coloridas, se curvando e rebolando em seus caules é
um corpo natural de balé. Pense nos inúmeros tipos de movimentos dos pássaros e
animais; a pose soberba do pavão; o deslizar circular do peixe e da foca na
água; o voo destacado da borboleta; os passos fluidos do gato e o trotar viril
dos cavalos.
Como os seres
humanos dançam? Todos dançamos de acordo com o plano cósmico em nossos
desdobramentos de potencialidades físicas e psíquicas através das várias fases
de nosso crescimento enquanto organismos. Mas todo indivíduo dança de acordo
com a qualidade de sua consciência. Algumas pessoas harmoniosamente integradas
dançam através da vida em uma beleza rítmica extraordinária. Elas aceitam as
experiências como elas vêm, lidam com elas e aprendem com elas com o melhor de
sua habilidade; então, sendo guiadas à frente pela natureza, passam a nova
experiência, ritmicamente. Elas vivenciam o mínimo de congestão interior e o
máximo de expressão dinâmica; toda a extensão de sua encarnação é um belo arco
de progresso evolucionário. Elas trabalham com integridade e idealismo - seu
trabalho de contribuição é um serviço verdadeiro, uma radiação de bondade e
verdadeiro valor para todos por elas afetados. Elas amam com intensidade,
amplitude e alegria, são mente abertas e receptivas a valores de novas ideias.
Khalil Gibran, artista inspirado e poeta, tinha a alma de um "dançarino
verdadeiro"; ele disse: "Dance com liberdade e alegria, mas não pise
nos dedos dos pés dos outros".
Metaforicamente,
"dançar pobremente" é o resultado de congestões interiores. Do ponto
de vista físico, uma pessoa aflita por timidez excessiva, autocentrada, ou com
defeito físico não dança e - não pode dançar - belamente, com espontaneidade e
alegria. "Dificuldades espirituais" são causadas por algumas
congestões emocionais e psicológicas como ignorância, egoísmo negativo, medo,
ódio, cobiça, inveja, materialismo, possessividade, frustração e as crueldades
que as acompanham, padrões de desapontamento como inércia, cinismo e congestão
na identidade forma. Este último é uma das fontes mais profundas que há da
"vida dançante sem ritmo". Sua essência é uma congestão na aparência
enquanto realidade; ela faz a consciência focar na forma ao invés da essência e
se presta a tirar a capacidade de avaliação completamente fora da linha.
Pessoas que "dançam de acordo com a forma" ao invés de "de
acordo com o Espírito" são aquelas que aceitam a imposição de padrões e
valores dos outros ao invés de estabelecê-los a partir do exercício da
individualidade. São as pessoas para as quais aquilo que foi estabelecido é o símbolo
da segurança e da correção; elas são crucificadas pela consciência-casta; elas
tendem a avaliar a personalidade, o caráter e a experiência humanos por uma
filosofia materialista que as congestiona do lado de fora ao custo da
consciência e apreciação das verdades internas. Os padrões sociais e religiosos
dos séculos passados representam esse tipo de congestão. Valores hereditários
mais que valores pessoais; família, tradição e posição social representam o
foco de apreciação ao invés de valores individuais. Olhe quase em todas as
épocas e locais e verá congestão na forma enquanto fonte de perversão e
deflexão do fluxo natural rítmico do desenvolvimento e realização humanos. Um
exemplo soberbo pode ser visto na interpretação errônea de certa alegoria espiritual
que teve o efeito de subjugar as mulheres por eras - um dispositivo cármico
pelo qual a congestão do homem na forma reagiu sobre ele durante suas
encarnações femininas.
Esta congestão na
forma é simbolizada astrologicamente pelo escopo planetário "Lua-Saturno".
Pessoas cármica e evolutivamente condicionadas a viver nos confins deste
"escopo" são aquelas para as quais a individualidade é praticamente
um livro fechado. A padronização das medidas pelas quais elas vivem, em sua
maior parte, está em acordo com o que foi estabelecido pelos outros no passado.
Educação, trabalho, pensamento religioso e cerimonial, casamento, treinamento
de crianças, fatores relacionais etc., são prescritos para todos, geração após
geração. O sistema feudal da Europa e o efeito da filosofia de Confúcio na
nação chinesa são bons exemplos dessa formalização da experiência humana.
Expressões estéticas (e todas as pessoas as têm em algum grau pois a
necessidade estética é muito basicamente instintiva para ser completamente
negada) são na maior parte das vezes altamente formalizadas e
tradicionalizadas. As essências esotéricas da religião são submersas em rituais
e cerimônias feitas ou participadas em meio a sentimentos de pavor e medo ao
invés de exercícios de inteligência espiritualizada. O casamento - que em
essência deveria ser a expressão mais intensamente individualizada da vida
humana - serve na maior parte das vezes à perpetuação do estado e do nome.
Reconhecemos,
claro, que não há nenhuma "injustiça" nas pessoas que encarnam sob
este tipo de regime; sua consciência está alinhada ao estruturante da Lua e
Saturno ou elas não seriam atraídas para a encarnação através dele. Mas,
justiça cármica a parte, estas formalizações estritas inibem o fluxo livre da
expressão e desdobramento pois o medo é um poderoso fator inerente a elas. Por
algum tempo em todo ciclo evolucionário "Lua e Saturno" seguram as
rédeas; eles, juntos, simbolizam a "espinha dorsal da forma" de toda
experiência cíclica; mas, eventualmente os potenciais individuais devem ser
liberados por transcendência "naquilo que foi"; os planetas Urano e
Netuno são vibrações que representam a "descristalização da forma
ultrapassada" e a "revelação da essência espiritual inerente",
respectivamente.
Nosso assunto em
mãos é dança, mas deixe-nos lembrar
que todos os participantes de uma expressão de arte particular são membros de
uma família espiritual - uma "fraternidade" de parentesco de
empreendimento artístico. Como qualquer outro grupo humano, a família artística
(de qualquer tipo) é tão sujeita da tendência à formalização (e cristalização)
como outros grupos familiares aliados. Quando forma, estrutura, regra e padrão
tradicional são enfatizados ao custo da inspiração e da manifestação
espontânea, ocorre a congestão dos valores artísticos. Olhe em qualquer lugar
da história gravada do empreendimento artístico da família humana e encontrará
vários pontos periódicos de congestão na forma e na tradição, tempos nos quais
uma carência do poder inspiracional foi notável. As danças folclóricas se
originaram como tentativa de perpetuar a história tribal, crenças religiosas e
tradições em forma de representação dramática. Estes "dramas"
subsequentemente se tornam formalizados ao inculcarem movimentos rítmicos e
vocais ou acompanhamento instrumental no que chamamos "danças
tradicionais" e algumas dessas formas de dança em várias partes do mundo,
são muito antigas.
O balé é uma forma
culta e estilizada de expressão do "drama ritmado" europeu. Originado
na Itália como fator de representação operística, foi levado à França,
desenvolvido como requintada técnica formal enquanto parte imprescindível de
representações músico dramáticas. Os enredos desses "dramas dançados"
foram em sua maior parte centrados em fantasias de um romantismo "transcendente"
descrevendo personagens alegóricos ou míticos. Nos últimos anos do século
passado o balé, como expressão de arte culta, foi adotado pela Rússia e através
dos poderes inspiracionais e dramáticos dos artistas daquele país ele foi
tremendamente amplificado pela exploração de seus próprios recursos como dança
artística, divorciado de sua dependência com a ópera. Ainda falamos do melhor
dessa forma de arte como o "Balé Russo"; os artistas manifestantes e
interpretativos daquele país estamparam-no com a marca de sua genialidade
particular. As companhias de balé das principais cidades russas foram
reconhecidas como os expoentes supremos dessa arte e seus grandes solistas
ocupam locais notórios no hall daqueles artistas imortalmente renomados pelos
amantes da arte em todo o mundo.
Então, nos últimos
anos do século passado, um meteoro brilhou no céu da cultura Europeia e
Americana e um empreendimento artístico derramou uma radiância de inspiração
intensificada no mundo da dança, caracterizado pela descristalização da hiper formalidade
da tradição do balé em direção a uma nova oitava da consciência da dança. Esse
"meteoro" foi Isadora Duncan, uma inspirada, inspiradora e intrépida
artista, através de seu serviço de dança - um dos mais
"descristalizantes" do século passado.
Estudantes de
astrologia se interessarão pelo seu horóscopo; vale a pena estudá-lo. Data: 27
de maio de 1878, aproximadamente 1:00 AM, 38 graus N, 1221/2 graus Oeste.
Júpiter deveria estar na décima segunda casa, o Sol na terceira; Peixes, regido
por Netuno é o signo ascendente, e Sagitário está no meio do céu. Sugere-se ler
sua autobiografia, My Life e sua Arte da Dança, para saber sobre sua
experiência de vida e ideais artísticos, entre inúmeros livros e brochuras por
outros escritores, encontrados em quase todas as livrarias e bibliotecas.
Veja que o regente
do mapa, Netuno, é o princípio da instrumentação, e um dos princípios básicos
de Isadora foi empregar o corpo físico como veículo para poderes
inspiracionais. Ela foi intensamente sensível à música, mas foi dito que ela
poderia dançar sem a música pois seus movimentos eram tão harmoniosos e
"certos" que ela "tornava a música visível". Dois fatores
no seu mapa mostram a universalidade de sua influência: Júpiter, regente do meio
do céu, na décima segunda casa no signo de Aquário está em trígono a seu sol
sem congestões em Gêmeos. Seu poder espiritual era enorme - como performer e
como professora; este aspecto representa o propósito religioso básico de sua
encarnação. Você reconhecerá isso ao ler testemunhos escritos de pessoas que a
viram dançar. Ela encarnou para reestimular, através da arte e beleza (e ela
era pessoalmente uma das mais belas mulheres), o impulso aspiracional religioso
pela contemplação do corpo humano enquanto uma "instalação do Divino"
e como veículo para gestos e movimentos puramente inspirados. Ela trouxe para
as congestões sociais e estéticas de sua época o refrescar de uma consciência
que habita na beleza, na verdade e no amor. Ela lembrou aos homens e mulheres a
bondade e a pureza de seus seres espirituais e buscou de inúmeras formas
encorajar as pessoas a resgatar a naturalidade de suas próprias verdades
interiores ao viver em termos de sinceridade, amizade e inspiração.
No mundo da dança
concerto, sua influência foi quase cataclísmica em seu efeito regenerativo. Sua
verdade artística foi aquela da inspiração sincera, não a da tradição
acumulada. Muitos outros dançarinos manifestantes tiveram sua parte na
regeneração dos conceitos da dança, mas Isadora resplandeceu o caminho para o
exercício de seus poderes inspiracionais individualizados (Vênus trígono Urano
em signos de fogo).
Ela disse:
"Viva plena e corajosamente; libertem-se dos medos das tradições fora de
uso; ame a partir do centro de sua consciência com alegria, respeito e
generosidade; viva com cortesia e graça; patrocine os pobres e oprimidos e cure
as feridas do espírito; conduza as crianças à consciência inata de sua beleza
corporal e anímica e auxilie-as a saber a respeito de seus poderes e
habilidades individuais; deixe as mulheres perceberem, como nunca antes, seus
poderes de inspirar pelo exercício das belezas do coração e da mente; deixe os
homens abrirem seus corações a uma renovada adoração da Beleza na Natureza e na
Humanidade; deixe a fraternidade de artistas efetuar uma consagração da vida
humana através da amizade e esforço sinceros".
Esta grande
logomarca nos fará todos "dançar" com alegria, graça, saúde e
inspiração. Percebemos, em nossos mapas, os movimentos rítmicos dos planetas
desde o tempo do nascimento através dos ciclos de desdobramentos e
amadurecimento, os padrões de nossa vida de relacionamentos, os desafios que
criamos para nós e os poderes que desenvolvemos para transmutar aqueles
desafios em triunfos. Os cumprimentos
desses padrões compreendem nossa "dança da vida"; permite-nos mover
com as forças cósmicas ritmicamente, com alegria, com coragem e inspiração da
fé e compreensão. Esta é a dança da sempre ascendente espiral do progresso
evolucionário.
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