sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

CAPÍTULO XXV – OS “MAUS” ASPECTOS

            Houve um tempo que o escritor compartilhava a compreensão comum a muitos estudantes de astrologia de que a quadratura e a oposição sendo “maus aspectos” significariam a mesma coisa; e ainda que os “bons aspectos” trígono e sextil eram pensados da mesma forma. Veio um tempo em que o escritor percebeu que se a quadratura e a oposição, assim como o sextil e o trígono representassem a mesma coisa, então teriam o mesmo símbolo para representar ambos os pares de aspectos. Deve ser claro na mente dos estudantes que cada símbolo utilizado na astrologia tem seu significado único e particular e que nenhum para de símbolos pode significar a mesma coisa. Não há exceção a esta observação. Estes símbolos são figurações de profundas realizações espirituais dadas à Humanidade pelos Grandes, tempos atrás.
            Se o progresso da roda do ascendente à décima segunda casa representa a evolução cíclica, a colocação dos planetas por signo e casa a focalização da consciência para a expressão durante a encarnação, então os aspectos representam o mecanismo do espírito em ação – o como desta expressão sem fim. As ciências mecânicas requerem um conhecimento dos pesos, alavancas, balanços e contrabalanços, gravidade, propulsão e assim por diante; em outras palavras, os princípios de como o mecanismo funciona para alcançar certo resultado. Um horóscopo, obtido a partir de sua apresentação geométrica, contém figuras da manifestação destes princípios na encarnação humana como expressões da consciência, e cada símbolo utilizado nesta ciência particular representa uma essência ou uma função daquela essência.
            A abordagem dinâmica da psicologia humana provou que uma mudança de ponto de vista frequentemente torna possível a determinação da causa de um problema e revela a direção necessária a ser tomada. Nós, como estudantes de astrologia, tendemos a cristalizar nosso ponto de vista dos aspectos quadratura e oposição e determinar, mentalmente, que eles são maus aspectos. As palavras “bom” e “mau” têm sido parte de nossa imagem mental desde que fomos capazes de interpretar qualquer coisa; se buscarmos uma abordagem construtivista da astrologia psicológica, devemos mudar nosso ponto de vista e atitude em relação aos significados destes símbolos particulares de expressão de energias.
            É um ponto debatido esta referência a “maus” aspectos. Será que pessoas desinformadas astrologicamente, passando por problemas pessoais, podem realmente ser ajudadas se suas mentes e sentimentos são impressos por referências aos “maus” aspectos em seus mapas? Não há como escapar – todos temos reações subconscientes e instintivas a palavras como “mau” – elas acendem nossas imagens interiores ou memórias dos padrões experienciais do feio, sofrido, amedrontador e do difícil. O astrólogo que diz: “Ah, isto é muito sério – você tem um mau aspecto entre Saturno e Marte” se arrisca a provocar um estado de depressão no cliente. Há algo tão ameaçador nesta sentença que, por gentileza e misericórdia, não devemos apresentar estas interpretações a pessoas que vem a nós para auxílio.
            Astrólogos que se fixaram na “maldade” dos aspectos de quadratura e oposição são aqueles que não se perguntaram sobre o significado real destes símbolos. Por “significado real” se quer dizer significado espiritual ou filosófico. Desde que devemos identificar estes símbolos de forma a transmitir nossos pensamentos, mudemos nossa abordagem verbal para algo que o cliente possa reagir mais favoravelmente.
            Sugere-se que a palavra “atritivo” substitua a palavra “mau”. Todos compreendem que atritivo significa resistência, e que esta palavra não incomoda tanto as pessoas. Além disso, como no caso de um fósforo que por fricção (atrito) se acende, o resultado é luz e calor. Assim é conosco em nosso interior e nossos aspectos de quadratura e oposições. Certos níveis de nossa consciência se atrita com outros níveis; o resultado é uma ignição de consciência a partir da dor reativa, que serve para apontar a necessidade de um redirecionamento de consciência. Desde que todos os padrões planetários do horóscopo estão englobados no mapa, vemos que a humanidade interpreta a experiência a partir de dentro – na consciência – não de fora. Em outras palavras, a fonte de nossas interpretações-experiências não são as experiências em si, mas nosso próprio centro de consciência e reação.
            Consideremos os símbolos da quadratura e da oposição em termos de sua figura abstrata essencial. Use um mapa em branco com as doze casas para cada. Para a quadratura, conecte os pontos médios das casas fixas (2,5,8,11) por linhas retas; o resultado é um quadrado repousando sobre uma base horizontal que começa, ciclicamente, na segunda casa. Este é o símbolo que utilizamos para o aspecto da quadratura entre quaisquer dois planetas no horóscopo.
            As casas envolvidas nesta figura são as “casas de recurso”, os inexauríveis recursos de intensos desejos, sentimentos, amor e capacidades. Estas quatro casas e seus signos abstratamente relacionados (Touro, Leão, Escorpião e Aquário), incluem nossos mais profundos potenciais de reação. Todo estudante de astrologia sabe que há dois outros quadrados, o cardinal e o mutável; mas é o quadrado fixo que é utilizado para portar essa abstração da “maldade” – dificuldades e dores, tristezas, limitações e todas as maneiras de negativismo. Este símbolo nos diz, quando ele relaciona quaisquer planetas em quaisquer dois signos ou casas, que a presente necessidade de regeneração entre estes dois pontos é muito grande. Note que no desenho do quadrado, quando chegamos ao final da horizontal inferior – na quinta casa – nós fazemos um ângulo reto, não diagonal para a direita ou esquerda, mas diretamente para cima, de modo a progredir mais no caminho espiritual. Assim é com as outras viradas – ângulos retos em cada canto. Assim o aspecto de quadratura é visto como sendo descomprometido em suas demandas de consciência; por esta razão o aspecto de quadratura é tido como sendo o “mais difícil”, o “pior” ou o “mais maligno” dentre as relações planetárias. Somos taxados mais severamente em nosso desenvolvimento nesses pontos. Por quê?
            O horóscopo, como um todo, é uma composição da consciência da pessoa dos princípios cósmicos – em seu nível evolutivo particular. Portanto se segue que dois planetas quaisquer em um mapa não são “maus planetas”; simplesmente significa que a pessoa está em um estado de consciência de relativa insensibilidade ao princípio. A sensibilidade individual pode ser muito variável e esta variedade é mostrada pelos aspectos atritivos múltiplos a cada planeta do mapa: o planeta pode estar quadrado por Marte e oposto pela Lua, mas em trígono com Vênus e em Sextil com Plutão. Estamos destinados a experienciar padrões de reação a cada planeta em relação a cada outro planeta de modo a completar nosso destino vibracional como seres humanos; nada menos que isso.
            Como nossas experiências são, em uma análise final, desencadeadas pelos nossos contatos com outras pessoas e devido a nos projetarmos nas relações de acordo com nossa consciência, ocorre que as projeções não regeneradas criam padrões de destino que nos retornam na forma de experiências de uma qualidade dolorosa ou “má” qualidade. Sofremos através desses alertas pois somos feitos para perceber, pelas nossas reações às outras pessoas e experiências, nosso próprio estado não regenerado. O Eu superior nos “grita”: “Estude isso e aprenda com isso; nao faça isso para outra pessoa, você o fez muito frequentemente no passado; eu insisto que você redirecione sua reação quanto a esta particular experiência de relacionamento, pois se não o fizer continuará a dirigir erroneamente sua energia e escurecer sua consciência mais do que nunca”. Assim, o padrão que aparece como quadratura no horóscopo entre dois planetas representa a necessidade, nesta encarnação, de uma drástica revisão na consciência. A palavra “atritiva” prova seu valor aqui devido aos fogos da estarem mais intensamente acesos nestes pontos e através da dor-reação – a luz mais brilhante é dirigida para os cantos mais escuros. O Eu superior está buscando reestabelecer a sincronização harmoniosa com sua consciência tornando possível sua percepção dos resultados indesejáveis do contínuo mal direcionamento de suas energias, mostrando a você a necessidade de fazer uma reviravolta em seu caminho.
            Os aspectos da quadratura e da oposição têm um fascinante “denominador comum”. Aplique o símbolo da oposição à segunda roda em branco, utilizando as cúspides das casas 2 e 8 como diâmetros; desenhe círculos ao redor destes diâmetros, que claro, sejam tangentes um ao outro no centro do mapa. Os diâmetros dos dois pequenos círculos formam juntos, um diâmetro do próprio círculo e este diâmetro conecta os pontos médios das casas 2 e 8; ciclicamente falando, o ponto de partida deste símbolo é o mesmo que o ponto de partida do quadrado fixo. O recurso de desejo da segunda e oitava casas é comum a ambos os símbolos, e o processo espiritual fundamental e oculto implícito é regeneração.
            Uma peculiaridade do aspecto de oposição é que ele “polariza” o mapa. O ponto mais baixo do símbolo está no quadrante “individualista” do hemisfério inferior; o ponto mais alto, na oitava casa, é a “extensão” do mais baixo. A segunda casa é “lidar com o material”; este é elevado à sua oitava superior através da transmutação da natureza de desejos nas relações com as pessoas: o Poder do Amor em efetuar a redenção da consciência. Deve haver alguma razão muito importante para os dois círculos pequenos, deste símbolo, serem conectados por uma diagonal de 45o ao invés de uma horizontal ou vertical. Uma horizontal é toda direita e esquerda; uma vertical é toda para cima e para baixo. Entretanto, a diagonal deste símbolo é para cima e para frente, uma composição de vertical e horizontal, o conceito essencial de todo processo e proposta evolucionários.
            A opinião consensual é de que o aspecto da oposição implica em uma necessidade de escolher entre uma coisa e outra. Alguns astrólogos interpretam isso como significando que deveríamos escolher um planeta para funcionar, mesmo em detrimento do outro. Outros dizem que deveríamos realizar um esforço para utilizar ambas as vibrações planetárias ao mesmo tempo, da melhor forma que pudermos. A primeira destas abordagens é basicamente insustentável; não podemos deixar de lado nenhum de nossos fatores astrológicos – nós vivemos com e expressamos todos através de todo o curso da encarnação. A segunda abordagem se aproxima muito mais das atuais necessidades do aspecto, pois ela nos instrui a utilizar ambos os fatores planetários. Entretanto, o Eu superior nos fala através do próprio significado do aspecto. Você vai expressar estes dois planetas não regeneradamente ou regeneradamente? O ponto não é qual dos dois planetas você vai expressar, mas qual das duas oitavas de consciência você vai expressar – aquela que você tem estado, tende a permanecer e que deveria agora estar saindo dela, ou aquela para a qual você está evoluindo, aquela que te remete para dentro ou para fora? Aquela que é autopreservação ou autodesenvolvimento? Aquela que resulta na parada da realização ou aquela que abre as portas de sua consciência à percepção da beleza, verdade e bondade? Este é o significado esotérico do aspecto da oposição e pelo qual podemos compreender por que a palavra chave percepção é usada para identificar seus propósitos.
            Assim como em cima, é embaixo. Quando o Sol e a Lua entram em conjunção a cada 28 dias uma nova “inspiração” é tomada pelo corpo vibracional da humanidade; duas semanas mais tarde esta “inspiração” é “exalada” na Lua Cheia. Esta ação é a grande vida oscilatória e rítmica de nossa existência oculta e o padrão – concepção e expressão – é experimentado por todos os nossos órgãos vibracionais em relação não apenas com os planetas, mas – e isso é importante – também os signos de sua dignidade. Assim como cada órgão de nossos corpos físicos tem sua própria forma padrão de crescimento, função, e realização, também cada planeta o tem em relação com o corpo todo de consciência.
            Um planeta no signo de sua dignidade “retornou à sua base” após uma passagem através do zodíaco; sua essência acumulada, destilada das suas experiências através de muitas encarnações passadas está agora com força total e pronta para iniciar um novo ciclo a partir das bases evolucionárias dele e sua. Um planeta no que chamamos signo de seu “detrimento” não é um planeta “mau”; ele está a meio caminho ao redor de sua própria órbita evolutiva, fazendo oposição com o signo de sua dignidade – o mais longe de “casa” que ele pode. Um mapa contendo planetas em signos de seu “detrimento” revela que a pessoa, em consciência, está naquele ponto crítico em seu ciclo evolutivo presente, e qualquer aspecto atritivo àquele planeta representa uma via para suas maiores potencialidades regenerativas. Esta encarnação, com planetas em detrimento, é muito significativa por que a pessoa se aperceberá de suas deficiências interiores de maneira muito aguda.
            Se um planeta em detrimento se apresenta como o regente do mapa (regente do signo Ascendente) então a criticidade desta encarnação se intensifica. O regente do mapa é o símbolo planetário da consciência do EU SOU: no signo de detrimento – oposto a sua própria dignidade – o mapa pode realmente contar uma história de grande conflito espiritual uma vez que os aspectos atritivos a um regente “detrimentado” torna possível que a pessoa se identifique com a escuridão. Ele tende a interpretar seus próprios potenciais da personalidade através de sua consciência não regenerada e vivendo daquela forma, pode arriscar um acentuado “retrocesso” em sua evolução. Os aspectos regenerados do mapa com o regente aí posicionado servem para torná-lo inconscientemente voltado “em direção à luz” e vivendo por estes padrões, ele assegura uma virada para cima em seu desenvolvimento, não apenas para esta encarnação, mas para todas as seguintes.
            Assim como o nascimento físico é o resultado da concepção e a Lua Cheia é o resultado da lunação previa a ela, também um aspecto de oposição entre dois planetas é a percepção que resulta da conjunção destes dois planetas em algum momento de encarnações passadas da pessoa. Não há efeitos sem causas, e desde que o padrão cósmico se manifesta em todos os planos, devemos saber ao estudar o aspecto de oposição que nesta encarnação a pessoa está se apercebendo destes dois poderes vibracionais particulares, ou qualidades, em sua própria natureza de forma muito importante e significativa. Reconheça que as tensões interiores podem ser muito grandes mesmo com apenas um aspecto de oposição no mapa. Os padrões de experiência representados pelos planetas envolvidos – por regência ou por ocupação – demandam e tornam urgente a expressão da natureza regenerada e espiritualizada da pessoa. Repetir as qualidades atritivas não regeneradas manterá a pessoa na “escuridão” não apenas nesta encarnação, mas talvez por vários “capítulos” a virem – e os testes serão no futuro ainda mais severos.
            A criticidade deste aspecto é claramente demonstrada quando o aspecto da oposição é ativada por eclipses, luas progredidas, ou aspectos planetários progredidos fazendo quadraturas simultâneas aos dois planetas. Nesta estimulação do aspecto, o resíduo não regenerado na consciência da pessoa – em qualquer idade – “sai da casinha” e ela experimenta um teste de suas capacidades regenerativas que pode ser bastante severo. Por outro lado, quando a oposição é ativada por um planeta em trígono e o outro em sextil, então o que de regeneração já se estabeleceu pode ser utilizada para lidar com a experiência manifesta. A ativação “favorável” do aspecto de oposição sempre implica, em algum grau, um teste, mas “mais do melhor da consciência” estará mais prontamente acessível.
            No que se segue é vista a razão pela qual o aspecto de oposição é universalmente considerado “não tão mau” como a quadratura; porque mesmo que os dois planetas envolvidos não tenham outros aspectos, o padrão como um todo é ativado quatro vezes pela combinação de trígonos e sextis em relação às duas vezes que ele é quadrado. Muito mais “elasticidade” é aproveitada e os impulsos de regeneração são muito mais numerosos no longo prazo.
            Um final feliz: tanto a oposição como a quadratura podem ser “salva-vidas” de grande benefício quando feitas por um Saturno em um mapa sem nada de terra. A pessoa com este mapa precisa lastro, precisa controle e direção, precisa de canalizadores para suas energias. Tal Saturno simplesmente diz – e isso prova que a quadratura e a oposição não são essencialmente más – “Eu observarei que você mantenha seus pés no chão, de modo que sua vida possa ser vivida com propósito e construtivamente; você terá responsabilidades a cumprir, ambições a alcançar, e qualidades a regenerar e redirecionar; minha vibração, apesar de parecer te colocar para baixo às vezes, é realmente sua maior benção porque ela o manterá alinhado às correntes da experiência em desdobramento”.

            A vida não nos pune através de quadraturas e oposições; ela ensina nossas mais necessárias lições através delas,

 desde que desejemos nos aperceber de nossas necessárias transformações.


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